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SUCESSÃO NOS EUA / CAMPOS DE BATALHA
"Termômetro" do país, Ohio está dividido mais uma vez
Estado avalia mal o Partido Republicano, mas mantém pé atrás com Barack Obama
Desde 1944, só uma vez ganhador da disputa pela Casa Branca não venceu em Ohio; democrata aparece
à frente nas pesquisas
DO ENVIADO A OHIO
No começo do mês, a pedido
da gigante hipotecária Fannie
Mae, a polícia foi ao número
1.127 da avenida La Croix tirar
uma mutuária inadimplente de
sua casa em Akron, cidade no
centro-norte de Ohio. Era a 30ª
vez que eles tentavam convencer a senhora a abandonar o lugar. Quando viu os homens baterem em sua porta de novo,
Addie Polk, 90, se trancou no
banheiro e deu dois tiros em si
mesma.
Ela não queria se matar, explicou depois o vizinho dela,
Robert Dillon, 62, que a resgatou com vida. Queria apenas
manter a casa que ela e o marido, já morto, compraram em
1970. Em 2004, sozinha, a descendente de escravos fez uma
segunda hipoteca de US$ 45
mil. Com o estouro dos juros,
não conseguiu mais pagar suas
prestações.
Se estivesse ferida, imaginou,
a dívida seria perdoada. Depois
que o caso veio a público, o porta-voz da Fannie Mae avisou
que a empresa -encampada
pelo governo norte-americano
numa das operações-resgate da
atual crise econômica- estava
cancelando o débito da aposentada ferida.
Antes de Joe, o encanador,
que virou personagem-símbolo
da campanha de John McCain
ao questionar a política de impostos de Barack Obama em
público, havia Addie, a mutuária inadimplente. Ambos são
moradores de Ohio, que, por
sua proximidade das médias
demográficas norte-americanas, é considerado um microcosmo dos EUA.
Nas eleições presidenciais,
diz o senso comum, para onde o
Estado for o país segue. Desde
1944, os locais votaram no presidente vencedor todas as vezes, com exceção de 1960. Hoje,
os 20 votos a que Ohio tem direito iriam para Obama, que
bate McCain por 6,6 pontos
percentuais na média das pesquisas de intenção de voto do
Real Clear Politics.
Mas o Estado é apontado como "pendente" ao democrata.
Os analistas hesitam em "dar"
Ohio a ele, pois há dois levantamentos importantes que apontam a vitória do republicano. A
divisão se mostra no dia-a-dia.
Dúvidas sobre Obama
A população em geral avalia
mal o Partido Republicano. Em
2004, houve denúncias de que
o então secretário de Estado
(cargo que nos Estados responde pela supervisão das eleições), o republicano Ken Blackwell, dificultou a vida de eleitores registrados democratas na
hora da votação. O resultado é
que George W. Bush bateu
John Kerry por pouco mais de
100 mil votos.
Parte da reação veio em
2006, quando os locais elegeram um governador democrata
pela primeira vez em décadas.
O problema para o partido de
Obama é que o operário branco
médio ainda não "comprou" o
candidato. Nas primárias de
março, Hillary Clinton bateu o
senador por mais de dez pontos, uma de suas vitórias mais
importantes na corrida.
Desde então, Obama tem dificuldades de avançar nesse
universo de eleitores, penalizados pelo fechamento de fábricas e a fuga de empregos para
outros lugares. Eles desconfiam das intenções do senador,
que inunda as emissoras de TV
locais com anúncios contra o
Nafta -tratado de livre comércio de EUA, México e Canadá,
visto pelos locais como principal culpado pelo desemprego.
É que um de seus assessores
econômicos, Austan Goolsbee,
da Universidade de Chicago,
disse a diplomatas canadenses
que Obama criticava o Nafta
em público mas não mudaria
nada depois de eleito. "Eu não
confio nele, ninguém que eu conheço confia nele", disse à Folha a vendedora de camisetas
Ruthayn Hill, de Cincinnati,
que votará em McCain.
Opinião diferente tem o garçom brasileiro Edson (ele pede
para omitir seu nome real), da
churrascaria Boi Na Braza, na
rua Vine. "Aqui, todo o mundo
é Obama desde criancinha."
(SÉRGIO DÁVILA)
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