São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CAMPOS DE BATALHA

"Termômetro" do país, Ohio está dividido mais uma vez

Estado avalia mal o Partido Republicano, mas mantém pé atrás com Barack Obama

Desde 1944, só uma vez ganhador da disputa pela Casa Branca não venceu em Ohio; democrata aparece à frente nas pesquisas

DO ENVIADO A OHIO

No começo do mês, a pedido da gigante hipotecária Fannie Mae, a polícia foi ao número 1.127 da avenida La Croix tirar uma mutuária inadimplente de sua casa em Akron, cidade no centro-norte de Ohio. Era a 30ª vez que eles tentavam convencer a senhora a abandonar o lugar. Quando viu os homens baterem em sua porta de novo, Addie Polk, 90, se trancou no banheiro e deu dois tiros em si mesma.
Ela não queria se matar, explicou depois o vizinho dela, Robert Dillon, 62, que a resgatou com vida. Queria apenas manter a casa que ela e o marido, já morto, compraram em 1970. Em 2004, sozinha, a descendente de escravos fez uma segunda hipoteca de US$ 45 mil. Com o estouro dos juros, não conseguiu mais pagar suas prestações.
Se estivesse ferida, imaginou, a dívida seria perdoada. Depois que o caso veio a público, o porta-voz da Fannie Mae avisou que a empresa -encampada pelo governo norte-americano numa das operações-resgate da atual crise econômica- estava cancelando o débito da aposentada ferida.
Antes de Joe, o encanador, que virou personagem-símbolo da campanha de John McCain ao questionar a política de impostos de Barack Obama em público, havia Addie, a mutuária inadimplente. Ambos são moradores de Ohio, que, por sua proximidade das médias demográficas norte-americanas, é considerado um microcosmo dos EUA.
Nas eleições presidenciais, diz o senso comum, para onde o Estado for o país segue. Desde 1944, os locais votaram no presidente vencedor todas as vezes, com exceção de 1960. Hoje, os 20 votos a que Ohio tem direito iriam para Obama, que bate McCain por 6,6 pontos percentuais na média das pesquisas de intenção de voto do Real Clear Politics.
Mas o Estado é apontado como "pendente" ao democrata. Os analistas hesitam em "dar" Ohio a ele, pois há dois levantamentos importantes que apontam a vitória do republicano. A divisão se mostra no dia-a-dia.

Dúvidas sobre Obama
A população em geral avalia mal o Partido Republicano. Em 2004, houve denúncias de que o então secretário de Estado (cargo que nos Estados responde pela supervisão das eleições), o republicano Ken Blackwell, dificultou a vida de eleitores registrados democratas na hora da votação. O resultado é que George W. Bush bateu John Kerry por pouco mais de 100 mil votos.
Parte da reação veio em 2006, quando os locais elegeram um governador democrata pela primeira vez em décadas. O problema para o partido de Obama é que o operário branco médio ainda não "comprou" o candidato. Nas primárias de março, Hillary Clinton bateu o senador por mais de dez pontos, uma de suas vitórias mais importantes na corrida.
Desde então, Obama tem dificuldades de avançar nesse universo de eleitores, penalizados pelo fechamento de fábricas e a fuga de empregos para outros lugares. Eles desconfiam das intenções do senador, que inunda as emissoras de TV locais com anúncios contra o Nafta -tratado de livre comércio de EUA, México e Canadá, visto pelos locais como principal culpado pelo desemprego.
É que um de seus assessores econômicos, Austan Goolsbee, da Universidade de Chicago, disse a diplomatas canadenses que Obama criticava o Nafta em público mas não mudaria nada depois de eleito. "Eu não confio nele, ninguém que eu conheço confia nele", disse à Folha a vendedora de camisetas Ruthayn Hill, de Cincinnati, que votará em McCain.
Opinião diferente tem o garçom brasileiro Edson (ele pede para omitir seu nome real), da churrascaria Boi Na Braza, na rua Vine. "Aqui, todo o mundo é Obama desde criancinha." (SÉRGIO DÁVILA)


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