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Igreja marca novo laço entre Havana e Moscou
Ortodoxos russos, enviados do Kremlin, abrem templo e condecoram os Castro, de olho, de novo, na relação com os EUA
Depois de retirada pós-URSS, Moscou se liga a
Chávez e forja laços com
governos esquerdistas de
La Paz, Quito e Manágua
DO "MONDE"
Uma igreja ortodoxa russa, a
Nossa Senhora de Kazan, foi
inaugurada no bairro histórico
de Havana Velha, em Cuba, o
que marca a renovação das relações entre dois antigos aliados da era da Guerra Fria. Após
ter assistido ao ofício religioso,
o presidente de Cuba, Raúl Castro, 77, recebeu o metropolita
Kiril Gundjaev no Palácio da
Revolução.
Elogiando a contribuição de
Fidel e de Raúl Castro à abertura de uma "nova etapa" no relacionamento entre Moscou e
Havana, Kirill condecorou a
ambos com a Ordem do Príncipe Daniel, uma comenda da
igreja. Fidel recebeu a medalha
em seu "retiro médico".
Em seu discurso, o segundo
homem na hierarquia do patriarcado ortodoxo de Moscou
elogiou igualmente "o povo cubano", que construiu a igreja "à
própria custa", embora o país
"esteja longe de ser rico". "Esse
gesto tocará o coração do povo
russo e jamais será esquecido".
Para reforçar o elo, Igor Stechin, primeiro-ministro assistente da Rússia, doou à nova
igreja um ícone da Virgem.
A construção da igreja, iniciada em 2004, simboliza o retorno da Rússia à região -mas
a Rússia de Vladimir Putin, do
nacionalismo revigorado que
reabilitou a igreja ortodoxa como expressão religiosa oficial.
Na época da União Soviética,
o laço entre os então aliados comunistas passava longe da religião. Moscou era a principal
fonte de fundos para a ilha, e
sua maior sustentação no confronto com os inimigos norte-americanos. Mas com a dissolução da URSS, em 1991, as relações entre os países esfriaram e
os russos deixaram Cuba.
Em 2002, a base russa de escuta que operava na ilha foi fechada, sem consulta prévia
com as autoridades de Havana.
Mas isso é página virada. "Nós
reencontramos nossa força e
voltamos a nos tornar uma
grande potência", explicou o
metropolita Kirill.
Agora que o relacionamento
entre Rússia e EUA chegou ao
seu ponto mais baixo em muito
tempo, Moscou quer retomar
sua presença na região, a começar pelos países com governos
críticos de Washington.
A relação russa com a Nicarágua se aqueceu consideravelmente depois que o presidente
esquerdista Daniel Ortega reconheceu a independência da
Ossétia do Sul e da Abkhazia, as
duas regiões georgianas secessionistas -um dos poucos países a fazê-lo no mundo.
A estatal do gás russa, Gazprom, promete investir na Bolívia e inclusive ajudar no combate às drogas, já que os EUA
ameaçam retirar sua ajuda. Um
acordo de cooperação militar
entre Rússia e Equador está a
ponto de ser assinado.
Mas é com a Venezuela de
Hugo Chávez que as ligações
são mais que cordiais, a julgar
pela freqüência de encontros e
o intercâmbio comercial, em
especial de armas. No final de
novembro, os dois países realizaram grandes manobras navais conjuntas no Caribe.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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