São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Igreja marca novo laço entre Havana e Moscou

Ortodoxos russos, enviados do Kremlin, abrem templo e condecoram os Castro, de olho, de novo, na relação com os EUA

Depois de retirada pós-URSS, Moscou se liga a Chávez e forja laços com governos esquerdistas de La Paz, Quito e Manágua


DO "MONDE"

Uma igreja ortodoxa russa, a Nossa Senhora de Kazan, foi inaugurada no bairro histórico de Havana Velha, em Cuba, o que marca a renovação das relações entre dois antigos aliados da era da Guerra Fria. Após ter assistido ao ofício religioso, o presidente de Cuba, Raúl Castro, 77, recebeu o metropolita Kiril Gundjaev no Palácio da Revolução.
Elogiando a contribuição de Fidel e de Raúl Castro à abertura de uma "nova etapa" no relacionamento entre Moscou e Havana, Kirill condecorou a ambos com a Ordem do Príncipe Daniel, uma comenda da igreja. Fidel recebeu a medalha em seu "retiro médico".
Em seu discurso, o segundo homem na hierarquia do patriarcado ortodoxo de Moscou elogiou igualmente "o povo cubano", que construiu a igreja "à própria custa", embora o país "esteja longe de ser rico". "Esse gesto tocará o coração do povo russo e jamais será esquecido".
Para reforçar o elo, Igor Stechin, primeiro-ministro assistente da Rússia, doou à nova igreja um ícone da Virgem. A construção da igreja, iniciada em 2004, simboliza o retorno da Rússia à região -mas a Rússia de Vladimir Putin, do nacionalismo revigorado que reabilitou a igreja ortodoxa como expressão religiosa oficial.
Na época da União Soviética, o laço entre os então aliados comunistas passava longe da religião. Moscou era a principal fonte de fundos para a ilha, e sua maior sustentação no confronto com os inimigos norte-americanos. Mas com a dissolução da URSS, em 1991, as relações entre os países esfriaram e os russos deixaram Cuba.
Em 2002, a base russa de escuta que operava na ilha foi fechada, sem consulta prévia com as autoridades de Havana. Mas isso é página virada. "Nós reencontramos nossa força e voltamos a nos tornar uma grande potência", explicou o metropolita Kirill.
Agora que o relacionamento entre Rússia e EUA chegou ao seu ponto mais baixo em muito tempo, Moscou quer retomar sua presença na região, a começar pelos países com governos críticos de Washington.
A relação russa com a Nicarágua se aqueceu consideravelmente depois que o presidente esquerdista Daniel Ortega reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkhazia, as duas regiões georgianas secessionistas -um dos poucos países a fazê-lo no mundo. A estatal do gás russa, Gazprom, promete investir na Bolívia e inclusive ajudar no combate às drogas, já que os EUA ameaçam retirar sua ajuda. Um acordo de cooperação militar entre Rússia e Equador está a ponto de ser assinado.
Mas é com a Venezuela de Hugo Chávez que as ligações são mais que cordiais, a julgar pela freqüência de encontros e o intercâmbio comercial, em especial de armas. No final de novembro, os dois países realizaram grandes manobras navais conjuntas no Caribe.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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