São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Na Cisjordânia, direito de ir e vir não vigora

Palestinos têm acesso vedado a 40% do território, devido a assentamentos de israelenses; carros não podem circular

Porta-voz da Cruz Vermelha afirma que aquele é "um lugar onde muitas pessoas não podem sair de suas casas pela porta da frente"


DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DA CISJORDÂNIA

O acesso por carro às casas de Wadi al Ghrouz, na Cisjordânia, é inviável devido aos bloqueios nas estradas erguidos para, segundo as autoridades, garantir a segurança dos colonos que moram na região -o lugarejo, palestino, está localizado na cidade de Hebron, espremido entre os assentamentos israelenses de Kiryat Arba e Givat Harsina.
Quando um dos cerca de 500 habitantes de Wadi al Ghrouz adoece e precisa ir ao hospital, uma das únicas alternativas é ir a pé ou montado em um burro. Em agosto, a Folha acompanhou um dos moradores no caminho que faz todos os dias a pé para chegar a sua casa, passando por portões vigiados por seguranças armados.
O responsável pelo controle de uma das passagens, quando percebeu a presença do jornalista, trancou as grades, entrou no seu carro e deixou o local, recusando-se a se justificar. O morador ficou preso entre dois portões, impossibilitado de chegar a sua casa.
Representantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) que acompanhavam a reportagem se ofereceram para fazer a mediação da situação, mas a ajuda foi recusada. O palestino preferiu não dar seu nome ao comitê para evitar que, no dia seguinte, tivesse novamente problemas com os colonos.
Cerca de uma hora depois, quando o jornalista já não estava no local, foi liberado para seguir seu caminho, segundo afirmaram testemunhas.
A Folha foi ao território palestino a convite da Cruz Vermelha para acompanhar os trabalhos da organização na região. Situações como a presenciada no portão são repassadas diariamente às autoridades israelenses -limite da atuação da entidade. "Nosso trabalho faz diferença na vida de muitas pessoas, mas não interferimos na situação política", diz Helge Kvan, do departamento de comunicação do CICV.
Na Cisjordânia, território ocupado por Israel em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, locomover-se de um ponto a outro pode ser um grande problema. Um relatório do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, de agosto de 2007, mostrou que os palestinos não têm acesso a 40% do território, inviabilizando o estabelecimento de um Estado palestino com território contínuo e agravando os conflitos da região.
Os assentamentos na Cisjordânia -que no total abrigam cerca de 190 mil moradores- são um dos principais obstáculos a um acordo de paz entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP). Apesar das negociações em curso, patrocinadas pelos EUA, o governo de Israel vem anunciando a construção de novas residências nessas áreas. "Este é um lugar em que muitas pessoas não podem sair de suas casas pela porta da frente", diz Kvan.
Procurada pela reportagem, a autoridade de ocupação israelense disse não ter nada a declarar sobre o episódio do morador de Wadi al Ghrouz.


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