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Na Cisjordânia, direito de ir e vir não vigora
Palestinos têm acesso vedado a 40% do território, devido a assentamentos de israelenses; carros não podem circular
Porta-voz da Cruz Vermelha afirma que aquele é "um lugar onde muitas pessoas não podem sair de suas casas pela porta da frente"
DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DA CISJORDÂNIA
O acesso por carro às casas de
Wadi al Ghrouz, na Cisjordânia, é inviável devido aos bloqueios nas estradas erguidos
para, segundo as autoridades,
garantir a segurança dos colonos que moram na região -o
lugarejo, palestino, está localizado na cidade de Hebron, espremido entre os assentamentos israelenses de Kiryat Arba e
Givat Harsina.
Quando um dos cerca de 500
habitantes de Wadi al Ghrouz
adoece e precisa ir ao hospital,
uma das únicas alternativas é ir
a pé ou montado em um burro.
Em agosto, a Folha acompanhou um dos moradores no caminho que faz todos os dias a
pé para chegar a sua casa, passando por portões vigiados por
seguranças armados.
O responsável pelo controle
de uma das passagens, quando
percebeu a presença do jornalista, trancou as grades, entrou
no seu carro e deixou o local,
recusando-se a se justificar. O
morador ficou preso entre dois
portões, impossibilitado de
chegar a sua casa.
Representantes do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha (CICV) que acompanhavam a reportagem se ofereceram para fazer a mediação da
situação, mas a ajuda foi recusada. O palestino preferiu não
dar seu nome ao comitê para
evitar que, no dia seguinte, tivesse novamente problemas
com os colonos.
Cerca de uma hora depois,
quando o jornalista já não estava no local, foi liberado para seguir seu caminho, segundo
afirmaram testemunhas.
A Folha foi ao território palestino a convite da Cruz Vermelha para acompanhar os trabalhos da organização na região. Situações como a presenciada no portão são repassadas
diariamente às autoridades israelenses -limite da atuação
da entidade. "Nosso trabalho
faz diferença na vida de muitas
pessoas, mas não interferimos
na situação política", diz Helge
Kvan, do departamento de comunicação do CICV.
Na Cisjordânia, território
ocupado por Israel em 1967,
durante a Guerra dos Seis Dias,
locomover-se de um ponto a
outro pode ser um grande problema. Um relatório do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários,
de agosto de 2007, mostrou
que os palestinos não têm acesso a 40% do território, inviabilizando o estabelecimento de
um Estado palestino com território contínuo e agravando os
conflitos da região.
Os assentamentos na Cisjordânia -que no total abrigam
cerca de 190 mil moradores-
são um dos principais obstáculos a um acordo de paz entre Israel e a Autoridade Nacional
Palestina (ANP). Apesar das
negociações em curso, patrocinadas pelos EUA, o governo de
Israel vem anunciando a construção de novas residências
nessas áreas. "Este é um lugar
em que muitas pessoas não podem sair de suas casas pela porta da frente", diz Kvan.
Procurada pela reportagem,
a autoridade de ocupação israelense disse não ter nada a
declarar sobre o episódio do
morador de Wadi al Ghrouz.
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