|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Anistia para militares deve ser mantida
DA ENVIADA A MONTEVIDÉU
Se confirmadas as projeções
divulgadas ontem pelos institutos de pesquisa, deve ser mantida lei que anistiou militares
que cometeram crimes durante
a ditadura militar que vigorou
no Uruguai de 1973 a 1985. A lei
foi alvo de um plebiscito realizado ontem paralelamente à
votação para presidente e parlamentares.
Segundo projeção do instituto Factum, 47,7% dos uruguaios votaram por anular a lei,
contra 52,7% que optaram por
que ela fosse mantida. Os resultados oficiais saem hoje.
A lei de anistia foi promulgada em 1987 e referendada num
plebiscito dois anos mais tarde.
Desde então, organizações de
direitos humanos se mobilizam
para derrubá-la.
O Uruguai contabiliza 172 civis assassinados pelo regime
militar. Eram presos políticos
que desapareceram, sob a tutela do Estado. A maioria dos corpos nunca foi localizada.
Mas a questão dividia a população. "É importantíssimo derrubarmos essa lei, para que os
militares finalmente possam
ser punidos", dizia Elsa Paulos,
92, antes da votação.
"Sou totalmente contra. O
povo aprovou esta lei num plebiscito. O que eles querem é revanche", afirmava por sua vez
Nelly Pontes, 71.
O argumento jurídico para
derrubar a lei é que se trata de
um instrumento inconstitucional, por submeter o poder Judiciário ao Executivo.
Em seu artigo 4, a lei estipula
que, diante de acusações a militares, a Justiça deve consultar o
Executivo, que decide se o delito em questão se inscreve ou
não no arcabouço da lei.
O plebiscito, impulsionado
com o apoio da coalizão de esquerda Frente Ampla, sigla do
candidato José Mujica, propunha não a revogação, mas sim a
anulação da lei.
A eventual anulação teria
efeito retroativo, permitindo
que fossem reabertas causas
dadas como julgadas pela lei
em vigor. Um dos objetivos desse expediente era obrigar os
militares a revelar a localização
dos corpos das vítimas do regime, embora se suponha que
muitos tenham sido executados nos "voos da morte", em
que os prisioneiros eram atirados ao mar.
O caráter retroativo da lei é o
aspecto que mais incomodava
os que se opõem à sua derrubada, como o candidato pelo Partido Nacional, Luis Alberto Lacalle. Na sua opinião, se caísse a
anistia aos militares, deveria
ser revista também a anistia dada aos ex-guerrilheiros do grupo Tupamaro, do qual Mujica
foi um dos principais líderes.
"Ou se volta para trás em tudo, o que é impróprio para a pacificação de um país, ou se deixa tudo como está", disse ele.
Texto Anterior: Voto a partir do exterior é negado, indica sondagem Próximo Texto: Frases Índice
|