|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Quito pagará dívida até decisão final
Ministro equatoriano afirma que governo não suspenderá pagamentos enquanto arbitragem não se pronunciar
Embaixador brasileiro diz ao Senado que já esperava medida de Correa, mas que não teve confirmação oficial quando pediu informações
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
O ministro de Setores Estratégicos do Equador, Galo Borja,
disse ontem que o país continuará honrando a dívida de
US$ 243 milhões contraída no
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) até que a arbitragem internacional -anunciada na semana passada para o seu não-pagamento- dê sua decisão.
O crédito foi concedido para
a construção da hidrelétrica de
San Francisco, erguida pela
empreiteira brasileira Odebrecht e que apresentou problemas menos de um ano antes
de ser concluída, tendo que ser
paralisada por quatro meses.
Na quinta-feira da semana
passada, quando anunciou que
havia oferecido na véspera o recurso à Corte de Arbitragem da
Câmara de Comércio Internacional, sediada em Paris, Correa ameaçou suspender imediatamente o pagamento, o que
não foi concretizado.
À Folha o porta-voz de assuntos da dívida externa do
Equador, Jorge Glass, dissera,
no mesmo dia, que o governo
"estudava" a interrupção imediata do pagamento.
O governo brasileiro alega
que a dívida é afiançada pelo
CCR (Convênio de Crédito Recíproco), um acordo de garantias entre Bancos Centrais da
América Latina e do Caribe.
O argumento foi em parte
corroborado por Borja: "Este
empréstimo se faz com pagamentos automáticos de Banco
Central para Banco Central. Isso foi respeitado, e não se tomará nenhuma decisão diferente até que haja um pronunciamento [da Câmara de Comércio Internacional]." Borja
garantiu que a resolução da arbitragem será respeitada.
O BNDES informou ontem
ainda não ter recebido notificações oficiais nem do Equador
nem da corte e que, até o momento, o Equador continua
adimplente.
Embaixador
O embaixador brasileiro em
Quito, Antonino Marques Porto, deu ontem sua versão sobre
os acontecimentos à Comissão
de Relações Exteriores do Senado. Ele disse que "já imaginava" que o Equador buscaria arbitragem internacional sobre o
financiamento do BNDES por
ter ouvido "boatos" e declarações de "dois ou três altos funcionários" do governo Correa.
"Eu tinha informações muito
difusas, mas já imaginava que
ela [a decisão] vinha. Não estávamos esperando no dia seguinte. Imaginávamos que uma
medida desse tipo fosse precedida de algum tipo de consulta
formal", afirmou Porto.
Diante dos "boatos" sobre
eventual calote ao BNDES,
Porto pediu entrevista com um
vice-ministro para esclarecer a
questão. O encontro aconteceu
na véspera do anúncio do pedido de arbitragem, mas em nenhum momento o embaixador
teve confirmação de que a medida seria executada.
No dia seguinte, Correa
anunciou o recurso à corte de
arbitragem em um ato político
no qual apontava irregularidades em parte da dívida externa
do Equador.
Apesar das suspeitas, Porto
não comunicou ao Itamaraty a
possibilidade iminente de calote ao BNDES, e o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva soube
da arbitragem pelo noticiário.
O modo como Correa anunciou
a decisão, sem aviso prévio ao
Brasil, foi determinante na
convocação do embaixador para consultas.
Diplomatas ouvidos pela Folha ontem defenderam o silêncio do embaixador sobre os
boatos, argumentando que
muitos funcionários do governo equatoriano representam linhas radicais que nem sempre
correspondem a decisões já tomadas por Quito.
Ontem, Porto frisou que o
Equador não deixou de pagar
nenhuma obrigação financeira
com o Brasil. Ele elogiou a decisão de Correa de continuar pagando as mensalidades do financiamento do BNDES apesar de questioná-lo. "Isso já é
uma maneira mais positiva de
encaminhar a questão", disse.
O embaixador afirmou, ainda, que o Itamaraty vem reavaliando os projetos de cooperação com o Equador em diferentes áreas. Um negócio que não
deve ser afetado, segundo Porto, se refere à venda de 24 aeronaves Supertucano, da Embraer, ao país. O diplomata brasileiro disse que o governo
equatoriano resolveu pagar os
US$ 279 milhões utilizando dinheiro do Orçamento do país,
sem apelar ao BNDES.
A informação foi reiterada
pelo próprio governo equatoriano. O ministro da Defesa, Javier Ponce, disse que o Equador
decidiu pagar as aeronaves em
"dinheiro vivo" e que já saldou
parcela de US$ 69 milhões.
O assessor de Lula para assuntos internacionais, Marco
Aurélio Garcia, disse ontem
que "o Brasil não faz retaliações" a nenhum país e não fará
com relação ao Equador.
(IURI DANTAS E SIMONE IGLESIAS)
Com ROBERTO MACHADO, da Sucursal do Rio,
e agências internacionais
Texto Anterior: Americanas Próximo Texto: Países têm 25 acordos bilaterais; maioria, na área social, não deve ser afetada por crise Índice
|