São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2001

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TRAGÉDIA

Sismo atingiu a região noroeste do país; cerca de 5.000 pessoas ainda estavam soterradas na madrugada de hoje

Terremoto mata mais de 2.000 na Índia

Reuters
Prédio de Ahmedabad destruído pelo terremoto que atingiu o noroeste da Índia


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Um forte terremoto, medindo 7,9 na escala Richter, atingiu ontem o noroeste da Índia, deixando milhares de mortos e feridos. Até a madrugada de hoje, 2.250 mortes haviam sido confirmadas pelas autoridades, mas elas acreditam que o número de vítimas fatais seja bem maior. Os feridos ultrapassavam 3.000. Cerca de 5.000 permaneciam soterradas.
O terremoto, o mais intenso registrado na Índia nos últimos 50 anos, ocorreu às 8h46 (1h16 em Brasília) no Estado de Gujarat, perto do Paquistão, quando as famílias estavam em suas casas, no início de um feriado nacional, o Dia da República.
O epicentro do sismo foi em Kutch, uma região pouco habitada a 2 km da cidade de Bhuj, na fronteira com o Paquistão.
O tremor foi sentido também em outras partes da Índia, no Nepal, em Bangladesh e no sul do Paquistão, onde pelo menos oito pessoas morreram.
Bhuj, com 150 mil habitantes, foi a cidade mais atingida, com pelo menos 1.500 mortes confirmadas. As linhas de comunicação foram afetadas, mas fotos de satélite mostram que 90% dos prédios e casas da cidade foram atingidos.
"Acho que o número de mortos em Bhuj é grande. Ainda não conseguimos estabelecer comunicação com a cidade", disse o ministro do Interior, Haren Pandya.
Equipes de resgate continuaram vasculhando os escombros durante a noite em busca de sobreviventes, enquanto centenas de pessoas permaneciam nas ruas, com medo de entrar em suas casas por causa de possíveis tremores secundários.
Na capital comercial de Gujarat, Ahmedabad, a 300 km do epicentro, pelo menos 400 pessoas morreram e 80 prédios foram totalmente destruídos. As autoridades disseram que havia pelo menos de 30 a 40 pessoas vivas embaixo dos escombros.
Ahmedabad, com 5 milhões de habitantes, tremeu, segundo os moradores, por cerca de 45 segundos. "Foi como estar num balanço. Ninguém conseguiu sair durante 20 ou 30 segundos", disse Vinay Kumar, um morador de Ahmedabad.
Os hospitais da cidade ficaram lotados de feridos. Os corpos das vítimas estavam sendo empilhados na varanda de um hospital municipal, enquanto os sobreviventes agonizavam nos corredores. Cerca de 70 pessoas morreram aguardando tratamento.
Nos postos de bombeiros a situação era de caos, com as pessoas implorando aos soldados para retirar familiares presos nos destroços. "Isso é uma emergência. Estamos enfrentando uma multidão rebelde. Uma psicose de medo está tomando a cidade", disse Rajesh Bhat, chefe de um posto local. Em outros pontos de Ahmedabad, temia-se que dezenas de crianças e seus professores estivessem mortos embaixo dos escombros de uma escola. Havia também 19 estudantes de engenharia presos nos destroços da faculdade.
"É um desastre de magnitude nacional", disse o primeiro-ministro Atal Bihari Vajpayee. "Decidimos enfrentar a emergência em pé de guerra. É hora de nos unirmos", afirmou.
O governo enviou ontem a Gujarat 10 mil barracas, 10 mil toneladas de alimentos, 20 médicos e vários especialistas em telecomunicações e em sismologia. A Cruz Vermelha Internacional lançou um apelo por US$ 1,25 milhão para os esforços humanitários.
A Índia enfrenta terremotos esporádicos porque está avançando lentamente, há 50 milhões de anos, em direção ao continente asiático. A região era separada da Ásia e o movimento de colisão continua numa velocidade de 2 centímetros por ano, provocando fortes abalos de terra.
O último grande tremor no país ocorreu em março de 1999, quando um sismo medindo 6,8 na escala Richter matou 110 pessoas e feriu 300 em Uttar Pradesh, no Himalaia.
Em setembro de 1993, um terremoto de 6 graus atingiu o estado de Maharashtra, matando cerca de 10 mil pessoas.
O tremor de ontem foi o segundo grande abalo do ano. No dia 13 de janeiro, um terremoto medindo 7,6 na escala Richter, matou cerca de 700 pessoas em El Salvador e desabrigou 10% da população. Especialistas afirmam que não há ligação entre eles.


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