São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2001

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CHILE

Internação ocorre às vésperas de decisão sobre indiciamento do ex-ditador por responsabilidade na morte de opositores em 1973

Pinochet é internado com isquemia cerebral

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet (1973-1990) foi hospitalizado ontem por causa de uma isquemia transitória (dificuldade de irrigação sanguínea momentânea no cérebro, que poderia provocar um derrame). A internação ocorre às vésperas de uma decisão a ser tomada pelo juiz Juan Guzmán sobre o possível indiciamento de Pinochet, 85, por sua responsabilidade na morte ou sequestro de 75 opositores do regime em 1973, no caso conhecido como Caravana da Morte.
Guzmán, que investiga mais de 200 processos contra Pinochet por violações aos direitos humanos, interrogou-o pela primeira vez na terça-feira no processo sobre a Caravana da Morte.
Pinochet, que estava em sua casa de veraneio em Los Boldos de Bucalemu, 120 km a sudoeste de Santiago, foi transportado às pressas para o Hospital Militar de Santiago, onde chegou por volta das 10h (11h em Brasília). Ele chegou ao hospital acompanhado da mulher, Lucía Hiriart.
Em um comunicado oficial, pouco após a internação, o hospital informou que o general estava na Unidade de Cuidados Intensivos e que sua alta ou permanência no hospital dependia da evolução de seu quadro médico. Segundo os médicos, Pinochet teve "uma ligeira perda da consciência, transitória", e apresentava "ligeira perda de força do lado esquerdo e a persistência de um quadro congestivo com retenção hídrica".
A filha mais nova do general, Lucía Pinochet Hiriart, culpou os adversários políticos pela enfermidade de seu pai. "Isso é o resultado da perseguição que tem havido todo esse tempo. É o produto da perseguição das pessoas que buscam vingança", disse ela.
Familiares e advogados de Pinochet alegam sua inocência e dizem que os processos contra ele devem ser encerrados por causa de seus problemas de saúde.
Pinochet, que passou por exames médicos no início do mês, a pedido da Justiça chilena, sofre de demência vascular subcortical (quadro psiquiátrico decorrente de pequenos derrames). Também sofre de diabetes, usa um marca-passo para o coração e tem artrose num dos joelhos. Seus médicos particulares dizem que ele sofreu ao menos dois pequenos derrames cerebrais no período em que passou detido em Londres.
Pinochet ficou 503 dias sob prisão domiciliar na capital do Reino Unido enquanto aguardava um pedido de extradição feito pelo juiz espanhol Baltasar Garzón, que queria julgá-lo na Espanha. O pedido acabou sendo recusado pelo governo britânico, por motivos de saúde, e Pinochet retornou ao Chile em março do ano passado.
Pinochet foi internado ontem no mesmo hospital onde se submeteu, há três semanas, a três dias de exames psicológicos, psiquiátricos e neurológicos para determinar se ele tem condições de enfrentar um julgamento.
Os resultados oficiais dos exames ainda não foram divulgados, mas, segundo alguns médicos que participaram dos exames, o ex-ditador sofre de demência leve a moderada, incluindo perda de memória.
O juiz Guzmán, que tirou três dias de licença, deve decidir no início da próxima semana se indicia Pinochet ou se arquiva o processo. A lei chilena estabelece que pessoas loucas e dementes não podem ser processadas, mas não especifica o grau de deficiência.
Guzmán já havia indiciado o general e ordenado sua prisão domiciliar no dia 1º de dezembro, mas a decisão foi suspensa pela Suprema Corte porque Pinochet ainda não havia passado pelos exames médicos e pelo interrogatório, o que acabou acontecendo na terça-feira.
Os crimes cometidos na Caravana da Morte não estão cobertos pela Lei de Anistia, de 1978, segundo decisão da Suprema Corte, por envolver sequestro sem final conhecido, uma vez que muitos corpos nunca foram encontrados.


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