São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2001

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MULTIMÍDIA

TV Nacional
de Santiago

General contesta versão de ex-ditador

CHILE- A argumentação do ex-ditador chileno Augusto Pinochet em seu depoimento de terça-feira ao juiz Juan Guzmán sofreu um forte revés anteontem. Em entrevista à TV Nacional, um general da reserva atribuiu ao ex-ditador a responsabilidade sobre as execuções de opositores no episódio conhecido como Caravana da Morte, logo após o golpe militar que o levou ao poder, em 1973.
Joaquin Lagos Osório, 80, era comandante da Primeira Divisão do Exército na época da Caravana da Morte e servia em Antofagasta, cidade ao norte do país por onde passou a comitiva militar que sequestrou e executou opositores políticos.
Em entrevista à TV Nacional (estatal), Lagos confirmou sua versão do episódio dada em depoimento ao juiz Guzmán e contou detalhes de como os presos foram executados com requintes de crueldade.
"Eles tiravam os olhos com facas, quebravam suas mandíbulas, quebravam suas pernas... Ao final, davam o golpe de misericórdia. Estavam em fúria", disse Lagos, que foi passado à reserva oito meses após o episódio.
Durante seu depoimento a Guzmán, na terça-feira, Pinochet havia dito que o objetivo da missão era "acelerar os processos judiciais" dos presos, que nunca havia ordenado fuzilamentos e que os excessos eram responsabilidade dos subordinados.
"Ele (Pinochet) tinha que estar informado sobre tudo, porque é impossível, com os meios que havia, que não estivesse informado", disse Lagos. Segundo a sua versão, sustentada desde seu primeiro depoimento à Justiça, em 1986, Pinochet e o general Sergio Arellano Stark, chefe da missão, "atuaram pelas costas".
O general da reserva afirmou que, quando soube das ações da Caravana da Morte, repreendeu Arellano, que lhe exibiu um documento no qual Pinochet o designava como oficial delegado e afirmou que assumia a responsabilidade sobre a missão. Posteriormente, teria falado com o próprio Pinochet, pedindo para ser removido do posto que ocupava.
"Da forma como procederam, me senti mal, com impotência, com raiva, com tudo o que você pode imaginar diante de um acontecimento dessa natureza, que fizeram na minha jurisdição e pelas minhas costas", afirmou.
Lagos foi uma das testemunhas-chave no processo contra Pinochet. Ele forneceu a Guzmán uma cópia de um documento no qual aparece uma lista das execuções, com especificações sobre quem as havia ordenado. O documento traz anotações feitas pelo próprio Pinochet, que as reconheceu como suas durante o interrogatório de terça-feira.
"Guardei o documento por 27 anos, porque, no último encontro que tive com Pinochet, ele fez algo que nunca esperava. Mandou que deixasse isso sem efeito e que não mencionasse a ele nem a Arellano. E que fizesse uma só lista, com minha assinatura, pela qual eu passaria a ser responsável por todos os crimes cometidos na minha jurisdição", disse Lagos.


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