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Nas ruas, frustração com Fatah explica resultado
DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA
A frustração com o mau desempenho do Fatah nos últimos anos
e os casos de corrupção que revoltaram a população empobrecida
dos territórios palestinos explicam muito melhor a surpreendente vitória do Hamas que o
apoio a seus preceitos fundamentalistas.
Para grande parte dos eleitores
do Hamas, foi a oportunidade de
dizer um basta a um governo centralizador que se descuidou dos
serviços básicos que deveria prestar à população.
"A verdade é que, muito mais
que uma vitória do Hamas, esta é
uma grande derrota do Fatah",
diz o estudante de contabilidade
Ahmed Ibrahim, 22.
Apesar de secular, ele votou no
Hamas. "A administração do Fatah mergulhou Gaza num caos,
com gangues armadas espalhando o terror e extorquindo sem nenhum freio." A seu lado num café
de Gaza, o estudante de economia
Ahmad Akram, que votou no Fatah, concorda em parte.
"O Hamas é muito bem administrado e tem a vantagem de ser
muito disciplinado, a palavra de
sua liderança é lei. Com o Fatah
acontece o contrário: após a morte de [Iasser] Arafat, dezenas de
facções passaram a disputar o poder, e ninguém sabe quem manda
de verdade", conta ele, que ainda
assim preferia ver o Hamas longe
do poder.
"A última coisa de que preciso é
um governo islâmico dizendo o
que posso vestir, comer ou beber.
Mas acredito que, se o Hamas tentar implantar um regime teocrática, será rejeitado, pois a maioria
dos palestinos é laica e acredita na
democracia."
Fatah
No comitê do Fatah do campo
de refugiados de Ashata, o clima
era de velório. Dezenas de militantes se reuniram em volta de
uma bandeira palestina para discutir o futuro do partido. "O Fatah é forte e continuará forte, mas
teremos de reavaliar o que fizemos nos últimos anos", disse o
chefe do comitê, Maohamad
Alakfa. Questionado se teme que
a vitória do Hamas deflagre uma
guerra civil, foi incisivo. "O risco
não é pequeno. Se o Hamas tentar
impor suas vontades ao Fatah, teremos de pegar em armas", disse,
sendo apoiado pelos militantes
em volta.
Em um prenúncio sombrio do
que poderá ocorrer nos territórios
palestinos em conseqüência da vitória do Hamas, ativistas do movimento islâmico entraram em
choque ontem com militantes do
Fatah no Parlamento palestino
em Ramallah, na Cisjordânia.
Os confrontos tiveram início
depois que um membro do Hamas hasteou a bandeira verde do
movimento na entrada do Legislativo, e simpatizantes do Fatah
tentaram rasgá-la.
(MN)
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