São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

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Nas ruas, frustração com Fatah explica resultado

DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA

A frustração com o mau desempenho do Fatah nos últimos anos e os casos de corrupção que revoltaram a população empobrecida dos territórios palestinos explicam muito melhor a surpreendente vitória do Hamas que o apoio a seus preceitos fundamentalistas.
Para grande parte dos eleitores do Hamas, foi a oportunidade de dizer um basta a um governo centralizador que se descuidou dos serviços básicos que deveria prestar à população.
"A verdade é que, muito mais que uma vitória do Hamas, esta é uma grande derrota do Fatah", diz o estudante de contabilidade Ahmed Ibrahim, 22.
Apesar de secular, ele votou no Hamas. "A administração do Fatah mergulhou Gaza num caos, com gangues armadas espalhando o terror e extorquindo sem nenhum freio." A seu lado num café de Gaza, o estudante de economia Ahmad Akram, que votou no Fatah, concorda em parte.
"O Hamas é muito bem administrado e tem a vantagem de ser muito disciplinado, a palavra de sua liderança é lei. Com o Fatah acontece o contrário: após a morte de [Iasser] Arafat, dezenas de facções passaram a disputar o poder, e ninguém sabe quem manda de verdade", conta ele, que ainda assim preferia ver o Hamas longe do poder.
"A última coisa de que preciso é um governo islâmico dizendo o que posso vestir, comer ou beber. Mas acredito que, se o Hamas tentar implantar um regime teocrática, será rejeitado, pois a maioria dos palestinos é laica e acredita na democracia."

Fatah
No comitê do Fatah do campo de refugiados de Ashata, o clima era de velório. Dezenas de militantes se reuniram em volta de uma bandeira palestina para discutir o futuro do partido. "O Fatah é forte e continuará forte, mas teremos de reavaliar o que fizemos nos últimos anos", disse o chefe do comitê, Maohamad Alakfa. Questionado se teme que a vitória do Hamas deflagre uma guerra civil, foi incisivo. "O risco não é pequeno. Se o Hamas tentar impor suas vontades ao Fatah, teremos de pegar em armas", disse, sendo apoiado pelos militantes em volta.
Em um prenúncio sombrio do que poderá ocorrer nos territórios palestinos em conseqüência da vitória do Hamas, ativistas do movimento islâmico entraram em choque ontem com militantes do Fatah no Parlamento palestino em Ramallah, na Cisjordânia.
Os confrontos tiveram início depois que um membro do Hamas hasteou a bandeira verde do movimento na entrada do Legislativo, e simpatizantes do Fatah tentaram rasgá-la. (MN)


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