São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

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GUERRA SEM LIMITES

Parlamento Europeu sugere que pode convidar o vice americano, além de Rumsfeld e Rice, para falar do caso

UE quer ouvir Cheney sobre prisões da CIA

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

O comitê de investigação do Parlamento Europeu sobre as supostas prisões secretas mantidas pela CIA (agência de inteligência dos EUA) no continente indicou ontem que poderá convidar o vice-presidente americano, Dick Cheney, e os secretários da Defesa, Donald Rumsfeld, e de Estado, Condoleezza Rice, para esclarecer dúvidas sobre o polêmico caso.
"Não vejo por que não devamos convidar Rumsfeld e Cheney. Tenho certeza de que seriam muito bem-vindos e seriam ouvidos com grande interesse. Ou talvez Rice, por que não?", afirmou Sarah Ludford, vice-presidente do comitê do Parlamento Europeu.
Como o comitê não tem poder para intimá-los, Ludford adiantou também que a demonstração de falta de vontade de cooperar poderá levar o grupo a tirar suas próprias conclusões.
A existência das prisões secretas, noticiada em novembro, nunca foi negada por autoridades americanas. Seriam 19 postos mantidos pela CIA em solo estrangeiro para torturar suspeitos de terrorismo.
Diante das denúncias, o Parlamento Europeu criou o comitê para investigar o assunto. Ontem, o português Carlos Coelho foi eleito presidente do grupo, que trabalhará por quatro meses.
As prisões secretas da CIA e as condições dos prisioneiros Guantánamo, em Cuba, forçaram a Casa Branca a apoiar uma lei em 2005 banindo a tortura praticada por civis ou militares americanos.
Ontem, o presidente George W. Bush foi contundente ao afirmar que nenhum americano está autorizado a praticar tortura. Durante entrevista de 50 minutos, Bush abordou também outro tema polêmico: a espionagem de comunicações telefônicas e eletrônicas em solo americano.
A operação, chamada pela imprensa dos EUA de espionagem da NSA (Agência de Segurança Nacional) foi "batizada" por Bush nesta semana de "programa de vigilância de terrorismo".
Lideranças do Partido Democrata questionam a legalidade do programa. Segundo uma lei de 1978, o governo precisa de autorização de um tribunal secreto para monitorar contatos mantidos em solo americano.
Bush e sua equipe têm dito que a ampliação de poderes concedida a ele após o 11 de Setembro asseguram a legalidade. Ontem, desaprovou a idéia de uma nova lei para o assunto.
"Quero me certificar que as pessoas entendam que, se a idéia é escrever uma lei que vá provavelmente expor a natureza desse programa, vou resistir a ela. E penso que o povo americano vai entender a razão. Por que contar ao inimigo o que estamos fazendo se o programa é necessário para nos proteger do inimigo? E está. E é legal", disse.

Lobby
O presidente americano negou ontem conhecer pessoalmente o megalobista Jack Abramoff, um dos principais arrecadadores de sua campanha. Admitiu, porém, aparecer em algumas fotos com ele, mas apenas por questões ocasionais. "O povo americano precisa ter confiança na ética de todas as instâncias do governo. (...) Tenho fotos minhas com ele [Abramoff], evidentemente. Muitas fotos minhas foram tiradas com um monte de gente. Ter minha foto com alguém não significa que sou amigo dele", afirmou.


Com agências internacionais

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