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"Mães" param vigílias após 25 anos
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Ontem em Buenos Aires, a principal associação que reúne as
"Mães da Praça de Maio" encerrou às 18h (19h em Brasília) um
ciclo de 25 anos das "Marchas da
Resistência", vigílias de 24 horas
de duração, diante da Casa Rosada, para cobrar o Estado argentino pelo desaparecimento de cerca
de 30 mil pessoas durante a ditadura militar (1976-1983).
A jornada começou na tarde de
quarta-feira e se encerrou ontem,
quando as mães fizeram, num ritual ininterrupto há 1.500 semanas, a ronda de todas as quintas-feiras em torno do monumento
central da Praça de Maio, coberto
por fotos de filhos e parentes desaparecidos, faixas e cartazes.
Já eram mais de 23h de quarta e
cerca de 30 mulheres, com lenços
brancos na cabeça -o distintivo
do movimento-, acompanhavam militantes de movimentos
sociais, familiares e transeuntes
da praça, num fluxo inconstante.
Alguns faziam o percurso algumas vezes e deixavam a marcha.
No entorno, músicos se revezavam num palco, cantavam músicas de protesto (de tango a rock)
atraindo passantes e mendigos.
Não havia multidão, mas um
clima de comoção e despedida,
embora a associação diga que as
rondas continuarão. Para a ONG,
não há motivo para que as mulheres, de 72 a 96 anos, façam vigília
diante da Casa Rosada, pois "não
há mais inimigos lá. Néstor Kirchner é amigo das mães".
Pelo valor histórico da decisão, e
pelo simbólico -neste ano o golpe militar completa 30 anos-, a
interrupção da marcha instalou
um debate entre órgãos de direitos humanos, principalmente pelo conteúdo político da decisão.
A frase de apoio ao governo
Kirchner, de Hebe Bonafini, líder
da associação, era repetida pelas
colegas e simpatizantes.
Durante uma pausa na ronda,
Nadia Ricny, 79, lembrava: "Vamos levar adiante os ideais de
nossos filhos, mesmo sem a marcha. Na Casa Rosada, está alguém
que tem a idade que nossos filhos
teriam, que foi um militante". O
filho e a nora de Ricny foram levados de sua casa em 1979 e não
houve mais notícias deles.
E se mudar o governo, as mães
voltarão à vigília? "Se voltar o menemismo ou o governo de direita,
voltamos à marcha", diz Ricny.
O movimento surgiu em 1977
unindo as mães de mortos e desaparecidos durante a ditadura e se
transformou no principal cartão
postal da resistência argentina
-pelo menos até os "panelaços"
da crise de 2002. Mas não é uno.
Desde 1986, um grupo de mães
se desligou da liderança de Hebe
Bonafini para criar a associação
chamada "linha fundadora".
Há também as "Avós da Praça
de Maio", que se dedicam a encontrar os netos e filhos de seqüestrados nascidos em cativeiro,
a maioria entregues a famílias em
falsos processos de adoção.
Tanto a "linha fundadora" como as "avós" criticam a decisão
de interromper a marcha e, junto
a outros organismos de direitos
humanos, afirmam que seguirão
com o protesto, e que não se pode
diminuir a pressão sobre o governo. A mães da "linha fundadora"
fizeram a "Marcha da Resistência" em dezembro último.
As associações, em geral, são
simpáticas ao governo de Néstor
Kirchner, que repete na Casa Rosada palavras de ordem do movimento ("Memória, Verdade e Justiça") e apoiou o fim das leis do
perdão para crimes da repressão,
no ano passado. A associação de
Bonafini, porém, aproxima-se a
movimentos sociais ligados ao
kirchnerismo.
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