São Paulo, quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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Enfrentamentos na Venezuela matam dois estudantes

Choques ocorreram na cidade de Mérida, no oeste, em meio a protestos estudantis contra suspensão de TV oposicionista

Para analista, ao mirar a mídia, Chávez tenta acuar oposição e desviar atenção de problemas econômicos e da crise energética no país


DA REDAÇÃO

Dois jovens morreram na noite de anteontem na Venezuela durante enfrentamentos entre policiais, estudantes de oposição ao governo Hugo Chávez e militantes chavistas.
Os choques ocorreram em Mérida, no oeste venezuelano, em meio a outros protestos de estudantes pelo país contra a suspensão, pelo governo, da transmissão do canal de TV a cabo RCTV, crítico a Chávez.
As circunstâncias das mortes não estavam claras ontem. Sabe-se apenas que os dois estudantes foram baleados -um deles, de 16 anos, era militante chavista, informou o governo. O outro, um aluno de medicina de 28 anos, seria dirigente do partido opositor UNT.
"Enquanto os estudantes protestavam contra o fechamento da RCTV, veio primeiro a polícia tentar dispersá-los de forma desmedida. Depois chegaram uns motoqueiros armados e encapuzados disparando a torto e a direito", disse Liliana Guerrero, da Federação de Centros Universitários da Universidade de Los Andes.
Os protestos em Mérida foram engrossados por moradores insatisfeitos com a crise energética no país, que vem gerando cortes e racionamento de luz. Deixaram ao menos 16 feridos, além de 12 carros, duas motos, quatro unidades universitárias e a casa de um dirigente opositor incendiados.
O governo diz que os sinais da RCTV e de outros cinco canais foram retirados do ar por descumprimento de regras que obrigam as TVs por assinatura consideradas nacionais a retransmitir programas oficiais -como discursos de Chávez- sempre que solicitadas. A RCTV migrara para o cabo após não ter sua concessão de sinal aberto renovada em 2007.

2.000 discursos e crise
Segundo a ONG Human Rights Watch, que criticou ontem a suspensão dos canais, desde a chegada de Chávez ao poder, em 1999, a mídia venezuelana foi obrigada a transmitir quase 2.000 discursos, muitos sem necessidade urgente. Em 2009, informou a ONG, foram 141 discursos -um deles de sete horas e 34 minutos.
Estudantes voltaram ontem às ruas. Em Caracas, fizeram manifestação pacífica em frente à TV estatal VTV. Já em Barcelona, no Estado de Anzoátegui (leste), confronto com a polícia deixou 11 feridos.
Na avaliação de Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisas Datanálisis, o mais importante da Venezuela, o novo embate entre o governo e a RCTV responde a um cálculo político de Chávez, disposto a acuar a oposição e, ao mesmo tempo, desviar a atenção da crise econômica e energética.
"Essa e outras ações parecem ser uma tentativa do governo de tentar congelar seu adversário, impedir que capitalizem a frustração da população", diz.
Com a suspensão da RCTV, o governo retira do ar um importante veículo oposicionista -é a mais vista TV por assinatura, com audiência maior que a de alguns canais abertos.
Para o diretor do Datanálisis, deve preocupar especialmente Chávez a repercussão da crise energética, num momento em que Caracas está prestes a implementar um impopular programa de racionamento.
"Chávez não está em perigo. Mas, sim, caiu sua aprovação. E se a tendência permanecer, pode ser perigoso eleitoralmente", afirma León.
A popularidade do presidente está abaixo de 50%, segundo pesquisa Datanálisis de dezembro. Em setembro, haverá eleições para renovar a Assembleia Nacional, hoje dominada pelos governistas.

Com agências internacionais



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