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Enfrentamentos na Venezuela matam dois estudantes
Choques ocorreram na cidade de Mérida, no oeste, em meio a protestos estudantis contra suspensão de TV oposicionista
Para analista, ao mirar a mídia, Chávez tenta acuar oposição e desviar atenção de problemas econômicos e da crise energética no país
DA REDAÇÃO
Dois jovens morreram na
noite de anteontem na Venezuela durante enfrentamentos
entre policiais, estudantes de
oposição ao governo Hugo
Chávez e militantes chavistas.
Os choques ocorreram em
Mérida, no oeste venezuelano,
em meio a outros protestos de
estudantes pelo país contra a
suspensão, pelo governo, da
transmissão do canal de TV a
cabo RCTV, crítico a Chávez.
As circunstâncias das mortes
não estavam claras ontem. Sabe-se apenas que os dois estudantes foram baleados -um
deles, de 16 anos, era militante
chavista, informou o governo.
O outro, um aluno de medicina
de 28 anos, seria dirigente do
partido opositor UNT.
"Enquanto os estudantes
protestavam contra o fechamento da RCTV, veio primeiro
a polícia tentar dispersá-los de
forma desmedida. Depois chegaram uns motoqueiros armados e encapuzados disparando
a torto e a direito", disse Liliana
Guerrero, da Federação de
Centros Universitários da Universidade de Los Andes.
Os protestos em Mérida foram engrossados por moradores insatisfeitos com a crise
energética no país, que vem gerando cortes e racionamento
de luz. Deixaram ao menos 16
feridos, além de 12 carros, duas
motos, quatro unidades universitárias e a casa de um dirigente opositor incendiados.
O governo diz que os sinais
da RCTV e de outros cinco canais foram retirados do ar por
descumprimento de regras que
obrigam as TVs por assinatura
consideradas nacionais a retransmitir programas oficiais
-como discursos de Chávez-
sempre que solicitadas. A
RCTV migrara para o cabo após
não ter sua concessão de sinal
aberto renovada em 2007.
2.000 discursos e crise
Segundo a ONG Human
Rights Watch, que criticou ontem a suspensão dos canais,
desde a chegada de Chávez ao
poder, em 1999, a mídia venezuelana foi obrigada a transmitir quase 2.000 discursos, muitos sem necessidade urgente.
Em 2009, informou a ONG, foram 141 discursos -um deles
de sete horas e 34 minutos.
Estudantes voltaram ontem
às ruas. Em Caracas, fizeram
manifestação pacífica em frente à TV estatal VTV. Já em Barcelona, no Estado de Anzoátegui (leste), confronto com a polícia deixou 11 feridos.
Na avaliação de Luis Vicente
León, diretor do instituto de
pesquisas Datanálisis, o mais
importante da Venezuela, o novo embate entre o governo e a
RCTV responde a um cálculo
político de Chávez, disposto a
acuar a oposição e, ao mesmo
tempo, desviar a atenção da crise econômica e energética.
"Essa e outras ações parecem
ser uma tentativa do governo
de tentar congelar seu adversário, impedir que capitalizem a
frustração da população", diz.
Com a suspensão da RCTV, o
governo retira do ar um importante veículo oposicionista -é
a mais vista TV por assinatura,
com audiência maior que a de
alguns canais abertos.
Para o diretor do Datanálisis,
deve preocupar especialmente
Chávez a repercussão da crise
energética, num momento em
que Caracas está prestes a implementar um impopular programa de racionamento.
"Chávez não está em perigo.
Mas, sim, caiu sua aprovação. E
se a tendência permanecer, pode ser perigoso eleitoralmente", afirma León.
A popularidade do presidente está abaixo de 50%, segundo
pesquisa Datanálisis de dezembro. Em setembro, haverá eleições para renovar a Assembleia
Nacional, hoje dominada pelos
governistas.
Com agências internacionais
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