São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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Pobreza extrema cresceu sob Bush, mostra estudo

Número de famílias que vivem com menos de US$ 10 mil por ano aumentou 26%

Empregos instáveis e mal remunerados no setor de serviços explicam em parte o fenômeno, de acordo com especialistas


ANDREW GUMBEL
DO "INDEPENDENT", EM LOS ANGELES

O número de americanos que vivem em situação de severa pobreza se expandiu dramaticamente sob o governo de George W. Bush, com cerca de 16 milhões de pessoas agora vivendo com renda individual inferior a US$ 5.000 ao ano ou renda familiar de menos de US$ 10 mil, de acordo com um novo estudo sobre os dados oficiais do Censo de 2005.
A análise, conduzida pela McClatchy, uma cadeia de jornais, demonstra que o número de pessoas que vivem no mais baixo limite de pobreza cresceu em 26% desde 2000. A pobreza em geral também se agravou, mas o número de pessoas que sofrem de pobreza no grau mais severo está crescendo 56% mais rápido do que o segmento geral da população que vive em pobreza, de acordo com a definição do Censo.
Esse segmento equivale a 37 milhões de pessoas -ou 10% da população dos EUA, de 300 milhões. A linha de pobreza no país equivalia, em 2006, a uma renda de US$ 20.000 para uma família de quatro pessoas.
A ampliação da disparidade de renda não representa novidade nos EUA. O que é novo, porém, é a rápida ampliação no número de pessoas situadas na porção mais baixa da pirâmide socioeconômica.
"Foi o exato oposto do que antecipávamos ao iniciar a análise", disse um dos co-autores do estudo, Steven Woolf, da Universidade Estadual da Virgínia. "Não estamos mais vendo a mesma proporção de pessoas moderadamente pobres na população geral; o que temos é uma aceleração dramática da pobreza severa."
As causas do problema não representam mistério para os sociólogos e cientistas políticos. A proporção da renda nacional destinada aos lucros empresariais supera em muito a proporção que compõe os salários dos trabalhadores.
A classe média vem sofrendo atrito constante, com o desaparecimento de postos de trabalho dotados de benefícios e protegidos por sindicatos, e sua substituição por empregos de baixo salário e baixa segurança no setor de serviços. Os 20% mais ricos dos domicílios americanos desfrutam agora de mais de 50% da renda nacional, enquanto os 20% mais pobres ficam com apenas 3,5%, de acordo com as estimativas.
A renda média posterior aos impostos do 1% de norte-americanos mais ricos é 63 vezes mais alta do que a dos 20% mais pobres, tanto porque os ricos se tornaram significativamente mais ricos quanto porque os pobres empobreceram em cerca de 19% ante a posição que detinham no final dos anos 70.
A classe média também está sofrendo compressão cada vez mais forte. Todos os grupos de renda, excetuados os 20% mais ricos, perderam terreno nos últimos 30 anos. Esses números raramente são discutidos nos fóruns políticos americanos, em parte porque a economia em larga medida deixou de ser vista como uma questão política. E também porque os institutos de pesquisa direitistas que brotaram e vêm prosperando desde os anos Reagan trabalharam bem quanto a minimizar a importância dessas tendências.
Eles argumentam, na prática, que as estatísticas sobre pobreza são irrelevantes devido à alta mobilidade da sociedade americana. Um pequeno grupo de institutos de pesquisa esquerdistas, como o Economic Policy Institute, enquanto isso, argumenta que os números do Censo são provavelmente inferiores à realidade, porque muitas pessoas vivendo em pobreza extrema não respondem aos questionários de recenseamento.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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