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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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MOMENTO CAPITAL

Coluna vertebral da defesa iraquiana lutará em casa e misturada à população civil

Conquista de Bagdá é cheia de riscos

Brant Sanderlin/Cox News Service
Iraquiana chora, segurando parente ferida, em uma pequena cidade perto da capital do Iraque



A operação se torna difícil e imprevisível quando as forças de defesa empurram mulheres e crianças para a linha de frente, não usam uniforme militar, montam emboscadas e escondem armas em escolas ou hospitais


JACQUES ISNARD
DO "LE MONDE"

Com seu avanço dificultado por tempestades de areia no percurso até Bagdá, as forças anglo-americanas começam a tomar posição na periferia da capital iraquiana. É, provavelmente, a batalha que teriam preferido evitar.
Os militares americanos se recordam do fracasso de seus antecessores no Vietnã, em Hué, a capital religiosa, ou, mais recentemente, do fiasco de Mogadício, na Somália, que pôs um fim brutal à missão da ONU "Restaurar a Esperança". Sem falar em Grozni (Tchetchênia), que o Exército russo ainda não conseguiu dominar.
Os planejadores da operação "Liberdade Iraquiana" previam a queda política do regime de Saddam Hussein de dentro para fora, o que os teria livrado da necessidade de montar um cerco a Bagdá e depois, possivelmente, de partir para o ataque a uma cidade de 4 milhões a 5 milhões de habitantes.
Assim, com bombardeios e disparos repetidos, a coalizão prepara o campo de batalha, sabendo que terá que aguardar por reforços. As unidades que estão prestes a engajar-se em combate já estão cansadas, e precisam se recompor. A coalizão também precisa velar pela segurança de sua retaguarda e de seu fluxo logístico, que se tornou vulnerável pelo fato de estar tão "alongado".
Ao mesmo tempo, os aliados precisam levar em conta alguns imperativos político-estratégicos: 1) não destruir cegamente a infra-estrutura necessária à sobrevivência da população e da qual eles próprios, mais tarde, vão precisar para o pós-guerra; 2) poupar os civis ao máximo e fazer a distinção entre eles e os "alvos de liderança" (ou seja, figuras importantes do regime); 3) não destruir em excesso os equipamentos das Forças Armadas iraquianas, que podem ser úteis para a reconstrução.
O general Richard Myers, chefe do Estado-maior das Forças Armadas americanas, preveniu seus interlocutores sobre a complexidade das operações urbanas. Explicou que é um cálculo que consiste em buscar o equilíbrio entre os riscos aos quais são expostos os habitantes de Bagdá e as pressões táticas impostas aos aliados.

Círculos concêntricos
Como a coalizão pode esperar, nos combates de rua, usar a força necessária para anular a vontade e destruir as capacidades do adversário e, ao mesmo tempo, limitar as mortes e evitar a anarquia?
A Guarda Republicana e suas formações anexas estão em casa. Além de conhecerem o terreno, contam com o fato de beneficiar-se de cumplicidades ou inspirar o medo na população. Ao que parece, organizaram-se numa rede defensiva formada por dois círculos concêntricos em volta de Bagdá.
O primeiro círculo estabelece uma linha defensiva situada a entre 50 e 80 quilômetros do centro de Bagdá. O segundo está voltado à proteção dos subúrbios e da cidade, onde estão reunidos a Guarda Republicana especial, verdadeira coluna vertebral do regime, e as milícias paramilitares do Partido Baath. O conjunto dispõe de canhões e mísseis.
Os EUA especulam se algumas unidades da Guarda Republicana não estariam equipadas com armas bioquímicas. Trata-se apenas de uma suspeita.

Três para um
Segundo os princípios estabelecidos de longa data, a tomada de uma cidade costuma exigir três atacantes para cada defensor.
A operação se torna difícil e até imprevisível quando as forças de defesa empurram mulheres e crianças para a linha de frente, não usam uniforme militar, montam emboscadas que paralisam os tanques e escondem suas armas em escolas ou hospitais.
Da confusão que caracteriza uma guerrilha urbana, os especialistas deduzem que o atacante vai atirar primeiro e pedir desculpas por seus erros, se houver, depois.
Se Bagdá ou Tikrit resistirem ao cerco, o tempo provavelmente não vai atuar a favor da coalizão.


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