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Árabes que se opõem a Saddam admiram resistência iraquiana
NEIL MACFARQUHAR
DO "NEW YORK TIMES", EM DAMASCO
Normalmente, a aparição do
presidente iraquiano Saddam
Hussein na TV provoca a ira de
um grupo de cerca de 20 empresários e intelectuais sauditas, mas
na segunda à noite foi diferente.
Quando ele foi ao ar, eles rezaram
para que Deus o preservasse por
mais algumas semanas.
"Eles querem que Saddam saia e
até aguardam por isso, mas agora
também querem que aguente
mais um pouco para dar uma lição aos americanos", disse Khaled M. Batarfi, editor do jornal "Al
Madina", ao descrever conversa
ouvida em uma luxuosa sala de
estar de Jidda, na Arábia Saudita.
"O orgulho árabe está em jogo",
disse Batarfi, resumindo um sentimento que vai da Argélia ao Iêmen. "A propaganda americana
disse que a guerra seria fácil e rápida, dando a entender que os
árabes somos fracos e incapazes
de lutar. Agora é como se o Mike
Tyson lutasse contra um adversário debilitado. Não queremos que
esse adversário seja nocauteado
nos primeiros 40 segundos."
Desde o início, tem havido no
mundo árabe uma certa ambivalência em relação à guerra.
A elite educada do Oriente Médio, que busca se livrar de governos repressivos, tem esperanças
que Washington queira criar um
modelo para a região no Iraque,
mas os EUA não têm um bom histórico. Essa elite reconhece que líderes como Saddam reprimem a
população, mas a suspeita de que
os EUA estejam embarcando numa cruzada contra o islã tende a
abafar essas ponderações.
Já os governos árabes desde o
início se opuseram a uma guerra
contra o Iraque. Eles não tinham
grande simpatia por Saddam,
mas não aprovam substituí-lo
usando a força.
"Se os EUA não gostam de cem
regimes ao redor do mundo, trocarão todos eles?", questiona Buthaina Shaaban, representante do
governo sírio.
O mundo árabe assistiu furioso
ao início do conflito pelo fato de
que outro país árabe estava sendo
atacado, mas a fúria estava contida pela promessa de que a guerra
seria rápida. A grande mudança
deu-se domingo, quando as TVs
árabes reprisaram à exaustão um
fuzileiro naval hasteando a bandeira americana em Umm Qasr,
porto do sul do Iraque.
"Aquilo eletrificou o patriotismo iraquiano", disse Walid
Khadduri, um exilado iraquiano,
editor do "Pesquisa Econômica
do Oriente Médio". "Os ânimos se
alteraram. Não tem nenhuma relação com o regime de Saddam".
Ainda é cedo para prever as
consequências da guerra. Mas já é
certo que será um poderoso divisor de águas na região.
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