São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Vizinhos se unem para controlar consumo; quem abusa paga multa

DE LONDRES

No início de outubro do ano passado, o sistema de aquecimento central da casa de Tom Hitchman, 45, quebrou. O documentarista, que mora em Londres, resolveu deixar as coisas assim mesmo e se agasalhar um pouco mais.
Quando o inverno apertou, comprou um fogão a lenha, mandou instalá-lo na cozinha, e passou o restante da estação quase que exclusivamente naquele cômodo da casa.
As atitudes aparentemente extravagantes ajudaram Hitchman a 1) contribuir em menor escala para o aquecimento global (sistemas de aquecimento estão entre os artigos de consumo que mais contribuem para a liberação de dióxido de carbono) e 2) fazer boa figura frente aos seus colegas do "Crag" de Islington, bairro residencial na região norte londrina.
"Crag" é a sigla em inglês para Grupo de Ação para o Racionamento de Carbono. Há cerca de 30 grupos desse tipo hoje no Reino Unido -o primeiro foi fundado no final de 2006. Cada um reúne entre uma e duas dezenas de pessoas, em alguma cidade ou bairro específico.
Seu objetivo é estabelecer metas de redução da emissão de carbono para os integrantes, que se reúnem a cada mês para avaliarem o progresso pessoal e trocarem solidariedade mútua e experiências. Também é fixada uma penalidade caso o participante ultrapasse o limite acordado para cada ano.
No ano passado, no "Crag" de Islington, a meta era não ultrapassar quatro toneladas de emissão por pessoa em consumo de gás, eletricidade e aquecimento dentro de casa e no uso de transporte individual ou coletivo. Se considerados só esses serviços, a média britânica de emissão de CO2 é de cinco toneladas por pessoa ao ano.
A penalidade para quem não conseguisse se manter dentro da meta foi de 5 pence (centavos de libra) por cada quilo excedido. Doug Angus, 50, teve que fazer uma viagem à Argentina, e o dióxido de carbono liberado pelo avião que o levou até lá fez o engenheiro ultrapassar em quase quatro toneladas a meta. Distribuiu as 183 libras que devia entre os colegas do "Crag" de Islington. Quem tinha crédito recebeu proporcionalmente à economia feita.
A idéia dos "Crags" é ir baixando o limite de emissão de CO2 a cada ano. Para 2008, a meta é 10% menor.
"O objetivo é que, em 2029, nós estejamos emitindo cerca de 400 kg de CO2 por ano", diz Jessica Rayburn. "Isso representaria redução de 90% em relação à emissão média no Reino Unido em 2006. Um tal corte seria o que pesquisas científicas indicam que países desenvolvidos como o nosso precisariam fazer se quisermos evitar um aquecimento do planeta acima de dois graus. Um aumento menor do que esse é o que os cientistas pensam que possa ser um nível de mudança climática ainda manejável." (RC)


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