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Vizinhos se unem para controlar consumo; quem abusa paga multa
DE LONDRES
No início de outubro do ano
passado, o sistema de aquecimento central da casa de Tom
Hitchman, 45, quebrou. O documentarista, que mora em
Londres, resolveu deixar as coisas assim mesmo e se agasalhar
um pouco mais.
Quando o inverno apertou,
comprou um fogão a lenha,
mandou instalá-lo na cozinha,
e passou o restante da estação
quase que exclusivamente naquele cômodo da casa.
As atitudes aparentemente
extravagantes ajudaram Hitchman a 1) contribuir em menor
escala para o aquecimento global (sistemas de aquecimento
estão entre os artigos de consumo que mais contribuem para a
liberação de dióxido de carbono) e 2) fazer boa figura frente
aos seus colegas do "Crag" de
Islington, bairro residencial na
região norte londrina.
"Crag" é a sigla em inglês para Grupo de Ação para o Racionamento de Carbono. Há cerca
de 30 grupos desse tipo hoje no
Reino Unido -o primeiro foi
fundado no final de 2006. Cada
um reúne entre uma e duas dezenas de pessoas, em alguma cidade ou bairro específico.
Seu objetivo é estabelecer
metas de redução da emissão
de carbono para os integrantes,
que se reúnem a cada mês para
avaliarem o progresso pessoal e
trocarem solidariedade mútua
e experiências. Também é fixada uma penalidade caso o participante ultrapasse o limite
acordado para cada ano.
No ano passado, no "Crag" de
Islington, a meta era não ultrapassar quatro toneladas de
emissão por pessoa em consumo de gás, eletricidade e aquecimento dentro de casa e no
uso de transporte individual ou
coletivo. Se considerados só esses serviços, a média britânica
de emissão de CO2 é de cinco
toneladas por pessoa ao ano.
A penalidade para quem não
conseguisse se manter dentro
da meta foi de 5 pence (centavos de libra) por cada quilo excedido. Doug Angus, 50, teve
que fazer uma viagem à Argentina, e o dióxido de carbono liberado pelo avião que o levou
até lá fez o engenheiro ultrapassar em quase quatro toneladas a meta. Distribuiu as 183 libras que devia entre os colegas
do "Crag" de Islington. Quem
tinha crédito recebeu proporcionalmente à economia feita.
A idéia dos "Crags" é ir baixando o limite de emissão de
CO2 a cada ano. Para 2008, a
meta é 10% menor.
"O objetivo é que, em 2029,
nós estejamos emitindo cerca
de 400 kg de CO2 por ano", diz
Jessica Rayburn. "Isso representaria redução de 90% em
relação à emissão média no
Reino Unido em 2006. Um tal
corte seria o que pesquisas
científicas indicam que países
desenvolvidos como o nosso
precisariam fazer se quisermos
evitar um aquecimento do planeta acima de dois graus. Um
aumento menor do que esse é o
que os cientistas pensam que
possa ser um nível de mudança
climática ainda manejável."
(RC)
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