São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

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FIM DE REINADO

Segundo porta-voz, João Paulo 2º visitará o Canadá em julho, mas pode desistir de México e Guatemala

Debilitado, papa poderá cancelar viagens

DA REUTERS

O Vaticano indicou ontem pela primeira vez que o papa João Paulo 2º pode ter que cancelar viagens ao exterior por causa de sua saúde debilitada. Em comunicado à imprensa, o porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro-Valls, disse que o papa talvez não vá ao México e à Guatemala em viagem de dez dias à América, prevista para começar no Canadá em fins de julho, embora os três países continuem constando do itinerário oficial.
A 97ª viagem oficial do papa deverá ter início em Toronto (Canadá), onde o pontífice participará das celebrações do 17º Dia Mundial da Juventude, entre 23 e 28 de julho. "Toronto está confirmado. Em Toronto haverá o Dia Mundial da Juventude. Quanto aos outros países, veremos", disse Navarro-Valls ao final da viagem do papa ao Azerbaijão e à Bulgária.
Em 24 anos de pontificado, João Paulo 2º já visitou mais de 140 países. Sua primeira viagem foi à República Dominicana, México e Bahamas, em janeiro de 1979. Entre os países que o papa não visitou estão a China e a Rússia.
Aos 82 anos de idade, o papa, que sofre de mal de Parkinson, mostrou sinais evidentes de fraqueza e graves problemas motores em sua visita à Bulgária.
A viagem à América, tal como está programada hoje, seria duas vezes mais longa que a sua viagem mais recente, além de envolver mais deslocamentos e mudanças de fuso horário.
Momentos antes do retorno de João Paulo 2º a Roma, Navarro-Valls reiterou que a próxima viagem do papa poderá ser encurtada caso os conselheiros a considerem muito exaustiva. No entanto, apesar de todos os problemas físicos, o papa se mostrou bastante atento durante os eventos públicos de que participou na Bulgária.
João Paulo 2º deixou o país que ele chamou de "Terra das Rosas" ontem à noite, após louvar sua grande comunidade de cristãos ortodoxos -80% da população- e uma minoria de católicos romanos por sua resistência à opressão sofrida durante o regime comunista.
No início de sua viagem de cinco dias aos dois países, a saúde do papa parecia ter piorado visivelmente. Sua cabeça pendia, os músculos faciais estavam tensos e sem expressão, como uma máscara. Falava e respirava com dificuldade -e precisou de uma plataforma móvel para se locomover.
Mas funcionários do Vaticano afirmaram que o papa estava suportando bem o cansaço, apesar das dificuldades. No entanto, todos reconhecem que a próxima viagem, tal como está programada, seria excessiva.
Depois do Canadá, o papa deverá ir à Cidade do México para a canonização do índio mexicano Juan Diego Cuauhtlatoatzin, cujas visões de Nossa Senhora ajudaram a Igreja Católica a converter a população indígena no século 16.
A próxima parada de sua viagem seria a Cidade da Guatemala, onde o papa deveria permanecer entre os dias 31 de julho e 2 de agosto, a fim de canonizar o missionário Pedro de San Jose de Betancur, que viveu no século 17.
Não seria a primeira vez que o papa cancelaria uma viagem por motivos de saúde. Em 1994, ele deixou de ir aos EUA e, em 1999, à Armênia.
Às vésperas de fazer 82 anos, em 18 de maio, o papa deu indícios de que pretende continuar à frente da Igreja Católica, rejeitando sugestões de que poderia abdicar devido à piora de seu estado de saúde.
No último dia de sua visita à Bulgária, João Paulo 2º presidiu uma missa solene para 20 mil pessoas, celebrada na praça central de Plóvdiv (a segunda cidade do país), na qual beatificou três sacerdotes católicos búlgaros fuzilados há 50 anos pelo governo comunista, sob a acusação de espionagem e complô contra o regime.
À tarde, o papa visitou a catedral católica de Plóvdiv, onde encontrou jovens representantes das comunidades católicas da Bulgária. Rompendo o protocolo, João Paulo 2º falou em búlgaro, em polonês e até cantou junto com o coro a "Aleluia".



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