São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007

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Tabus aumentam guerra entre esquerda e direita

Terrorismo e nacionalismo provocam maior divisão

France Presse
Zapatero acompanha candidato à Prefeitura de Madri, mas temas municipais foram relegados numa campanha polarizada


DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que o premiê José Luis Rodríguez Zapatero tomou posse, em abril de 2004, esquerda e direita aumentaram o confronto. Zapatero tirou as tropas espanholas do Iraque e aproximou o país da Venezuela e de Cuba.
O primeiro-ministro espanhol não se levantou diante da bandeira americana em uma parada militar. A descompostura é recíproca: nem o presidente Bush, nem a secretária de Estado Condoleezza Rice jamais visitaram a Espanha, nona economia do mundo, nos três anos do governo socialista.
Para conseguir maioria no Congresso, Zapatero fez diversos pactos com partidos nacionalistas de regiões que flertam com o separatismo, da Catalunha ao País Basco. Apesar de gozarem de muita autonomia, Zapatero concedeu-lhes mais regalias ainda - e foi acusado pelos conservadores de "fragmentar a Espanha".
No mês passado, ao visitar Cuba, o chanceler Miguel Ángel Moratinos negou-se a receber dissidentes, enquanto trocava salamaleques com a ditadura castrista, em atitude criticada como "vergonhosa" até por escritores e intelectuais de esquerda, como Rosa Montero e Antonio Elorza, no jornal "El País".
No ano passado, no 70º aniversário do início da Guerra Civil, Zapatero criou projetos de memória histórica, que proíbem símbolos franquistas (o que determinou a retirada dos últimos monumentos ao ditador no país) e sugeriu a criação de um memorial para todas as vítimas. A direita, herdeira do franquismo, estrilou.
Os conservadores espanhóis também rumaram mais à direita ainda. Organizaram passeatas com mais de 100 mil pessoas contra a aprovação da união civil homossexual e da simplificação da Lei do Divórcio, leis finalmente aprovadas com amplo respaldo da população. E começaram a dizer que o governo socialista atraía imigrantes por ter empreendido regularização em massa de trabalhadores ilegais.

Voto em branco
Há diversos sinais de que os espanhóis não andam com muita paciência com as guerrinhas políticas de ambos os lados. Segundo pesquisas dos institutos CIS e Opina, Zapatero tem uma nota média de 5, em uma escala de 1 a 10. A oposição ainda fica pior: seu líder, Mariano Rajoy, tem nota média de 3,6.
Militante anti-ETA e esquerdista de longa data, o filósofo Fernando Savater, um dos maiores intelectuais do país, anunciou na semana passada o projeto de criar até o fim do ano um partido político alternativo. "Os socialistas se apóiam nos nacionalistas radicais, e a direita se sustenta nos bispos. Não podemos votar em branco a vida toda", disse. (RAUL JUSTE LORES)


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