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Discurso ecológico domina retórica dos americanos
População dos EUA, porém, não consegue fazer a ponte entre o falar e o agir
Segundo pesquisadores, sociedade não está disposta a abrir mão de hábitos e conforto para preservar o ambiente, mas sabe cobrar
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Está em toda parte. É o assunto de debates na televisão
diariamente. Tema de documentários, livros, shows musicais e até gincanas que as escolas promovem para as crianças
e suas famílias. Aparece em
qualquer tipo de site na internet. E vira apelo nos guardanapos dos restaurantes, em placas
nas lojas e em outros estabelecimentos comerciais: conserve,
recicle, não desperdice.
Muito bem, os americanos
perceberam que são sérios os
problemas do aquecimento
global, da escassez de água e da
poluição. Entretanto do discurso à ação o caminho é bem longo. "As pessoas nos EUA acreditam que a situação pode ficar
grave e querem que alguém faça alguma coisa -mas, de preferência, alguém que não elas
mesmas", diz Anthony Leiserowitz, diretor do Projeto Sobre
Mudança Climática da Escola
de Estudos Florestais e Ambientais da Universidade Yale.
Leiserowitz é estudioso de
riscos ecológicos, políticas públicas e comportamento e já fez
grandes pesquisas a respeito de
desenvolvimento sustentável
também no Reino Unido, no
México, na Argentina e no Brasil. Quanto aos americanos,
concluiu, eles apóiam tratados
internacionais como o Protocolo de Kyoto, a idéia de fabricar veículos menos poluentes e
a regulação da emissão de gases
de efeito estufa. "Porém, ao
perguntarmos às pessoas se
concordam em pagar mais por
combustíveis ou energia elétrica -uma forma de limitar o
consumo desses itens-, observamos forte resistência", conta.
"Elas não estão preparadas
para pagar o preço", acrescenta
Howard Herzog, engenheiro do
Laboratório para Energia e
Ambiente do MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts).
Quando olham para os lados
buscando identificar quem
possa tomar uma atitude concreta em defesa do planeta para
que eles mesmos não precisem
abrir mão de seus hábitos e padrão de vida, os americanos freqüentemente colocam no centro do alvo as empresas. Segundo pesquisa realizada pela consultoria Cone, 93% deles acreditam que as companhias são
responsáveis pela preservação
do ambiente, principalmente
reduzindo a poluição que emitem e fabricando produtos e
usando embalagens ecológicas.
Sem saída, visto que 85% dos
consumidores pensariam em
trocar de marca por causa de
práticas ambientalmente negativas por parte de uma empresa, as companhias têm cedido e
lutam para corresponder às expectativas. Por exemplo, a IBM
desenvolveu um novo tipo de
semicondutor que requer menos eletricidade; a Starbucks
convidou designers famosos
para decorar seu guarda-sol
símbolo e leiloará as peças, revertendo a renda para uma
ONG ambientalista; o Wal-Mart vai começar a utilizar
energia solar em alguns hipermercados; gigantes como General Electric, DuPont, Caterpillar e Alcoa anunciaram uma
aliança para pressionar o Congresso e a Casa Branca por uma
lei que limite a emissão de gases de efeito estufa.
Fazendo diferença
"Os EUA se encontram em
um interessante momento de
transição. Existe a consciência
ecológica, mas não se sabe ainda o tamanho e a duração desse
movimento", explica Leiserowitz. "Os americanos não entendem como individualmente
podem fazer a diferença."
Na opinião de Lee Bodner,
diretor-executivo da EcoAmerica -ONG dedicada a "fazer
com que os americanos ambientalmente agnósticos se engajem"-, o problema é que alguns aspectos ainda soam abstratos demais para uma parcela
da população. "Grosso modo,
entre os mais escolarizados o
aquecimento global faz sentido. Os outros estão preocupados com questões mais imediatas, locais, como a qualidade da
água que bebem ou do ar que
respiram", comenta. A maioria
também pensa que, se houver
uma catástrofe, será daqui a 50
ou cem anos.
Herzog não está otimista
com a evolução do cenário: "As
pessoas estão mais atentas aos
riscos ecológicos, é um progresso, mas não é suficiente. Precisa virar uma prioridade na vida
de cada um -e isso só se consegue com educação, o que leva
tempo". O pesquisador avalia
que o governo dos EUA tem papel fundamental, "porque, voluntariamente, vai ser difícil os
americanos pouparem energia.
São necessárias leis". Ademais,
ao dar o exemplo, o país que
mais produz gases de efeito estufa pode acabar liderando
uma transformação mundial.
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