|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Reação de Pequim dirá se Kim exagerou no blefe
QUENTIN PEEL
DO "FINANCIAL TIMES"
A Coreia do Norte é uma relíquia da era do stalinismo, um
reino isolado habitado por famintos, mas seus líderes sempre foram muito bons em chantagem internacional.
Inúmeras vezes, eles exploraram a paranoia internacional, levando adiante seu projeto de enriquecimento de urânio, disparando mísseis de longo alcance na direção da costa
oposta do mar do Japão e agora
-pela segunda vez- detonando um dispositivo nuclear.
A questão é saber quando
Kim Jong-il pode exagerar no
blefe, como os chantagistas em
geral fazem. E a resposta a isso
depende mais de Pequim do
que de qualquer outra capital.
Sem o apoio da China, o regime de Kim não seria capaz de
sobreviver. A China é o principal parceiro comercial da Coreia do Norte e sua fonte primordial de energia. Fornece
alimentos quando as safras
norte-coreanas fracassam e policia a fronteira para evitar uma
fuga em massa de refugiados.
No passado, os dois países
eram excelentes parceiros.
"Mais próximos que lábios e
dentes" era o termo que a propaganda chinesa utilizava. Há
muito tempo, no entanto, não
se ouve essa frase em Pequim.
As relações diplomáticas e comerciais da China com a Coreia
do Sul são muito mais estreitas
do que com o Norte.
Ainda assim, o governo chinês continua a dar cobertura
diplomática a Pyongyang, barrando reações internacionais.
O novo teste nuclear foi recebido com linguagem muito
mais dura pelos chineses. Pequim se declarou "resolutamente oposta" ao teste. Mas
restam dúvidas sobre até que
ponto a China está disposta a
permitir a imposição de sanções à Coreia do Norte.
Kim representa para Pequim
uma espécie de "idiota útil", ao
enfurecer Washington e Tóquio e expor sua relativa impotência. A China também se
opõe profundamente a qualquer perspectiva de unificação
coreana, que poderia instalar
em sua fronteira um forte aliado dos EUA. Não deseja fazer
qualquer coisa que precipite
um colapso econômico e social
escancarado no Norte.
A perspectiva de uma Coreia
do Norte dotada de armas nucleares, porém, poderia ser vista como ainda pior. O Japão pode usar o argumento de um vizinho irracional e dotado de armas nucleares para abandonar
sua oposição ao desenvolvimento de armas nucleares para
seu arsenal. Isso seria uma
ameaça muito mais grave do
que a queda do regime de Kim.
Ao menos uma fonte em Pequim ousou sugerir uma reconsideração da posição estratégica chinesa. O "Global Times",
jornal ligado ao "Diário do Povo", oficial, citou analistas dizendo que "é mais do que hora
de a China reconsiderar sua política" para a Coreia do Norte.
"Não existe mais necessidade
alguma de a China manter a política para seu vizinho encrenqueiro", disse Sun Zhe, do Instituto de Relações China-EUA
na Universidade de Tsinghua.
Pyongyang já representa um
embaraço para Pequim: talvez
Kim venha a descobrir que,
desta vez, foi longe demais.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Saiba mais: Alarme expõe dubiedade de tratado nuclear Próximo Texto: Obama tenta triunfar onde antecessores fracassaram Índice
|