São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

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Obama tenta triunfar onde antecessores fracassaram

Políticas de Clinton e Bush não impediram avanço de programa nuclear norte-coreano

Assessores reconhecem, no entanto, que opções dos EUA são limitadas caso suas decisões não encontrem respaldo russo e chinês


DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

Diante do primeiro desafio direto lançado ao seu governo por um Estado nuclearizado emergente, o presidente Barack Obama declarou anteontem que os EUA e seus aliados vão "enfrentar" a Coreia do Norte, horas depois de esse país ter desafiado sanções internacionais e conduzido seu segundo teste nuclear.
Obama reagiu à explosão subterrânea ao mesmo tempo em que autoridades da Casa Branca se apressavam para coordenar uma resposta internacional a uma capacidade nuclear norte-coreana que nenhum de seus antecessores mostrou-se capaz de reverter. Conscientes de que sua resposta à explosão será vista como teste precoce do novo governo, os assessores de Obama se disseram determinados a organizar uma reação significativamente mais forte do que a do governo Bush após o primeiro teste nuclear norte-coreano, em outubro de 2006.
Mas alguns de seus assessores reconheceram que as opções de que o governo dispõe são limitadas. "Todos ficamos impressionados pelo fato de os russos e os chineses terem expressado condenação tão forte", disse o chefe de gabinete de Obama, Rahm Emanuel. Mas converter isso em ação efetiva será um desafio.
Os esforços do governo Clinton para induzir a Coreia do Norte a interromper seu programa de armas nucleares, provendo o país de petróleo e usinas nucleares geradoras de eletricidade, e, mais tarde, as tentativas do governo Bush de empurrar o país à beira do colapso e então confiscar os bens de seus líderes, fracassaram todos. O mesmo se deu com a inversão de estratégia feita por Bush em seu segundo mandato, quando fechou acordo com Pyongyang para o desmonte de sua principal usina nuclear.

Sob observação
Agora Obama terá que decidir como combinar o que descreveu como "pressão internacional mais forte" com um novo conjunto de iniciativas diplomáticas, num momento em que o Irã e outros países estão examinando o confronto com a Coreia do Norte para ter uma ideia de como ele lidará com confrontos complexos futuros.
A Casa Branca disse na noite de segunda que Obama telefonou para os líderes dos dois maiores aliados dos EUA no nordeste da Ásia, o presidente Lee Myung-bak, da Coreia do Sul, e o primeiro-ministro Taro Aso, do Japão, prometendo que fará pressão por "medidas concretas para frear a Coreia do Norte" e declarando um "compromisso inequívoco" com a defesa dos dois países.
Mas as autoridades japonesas e sul-coreanas estão menos preocupadas com a possibilidade de um ataque direto da Coreia do Norte do que com a possibilidade de o país vender no mercado negro sua tecnologia de armas nucleares, do mesmo modo como já vendeu tecnologia de mísseis e reatores ao Oriente Médio.
Em telefonemas de emergência feitos depois de Pyongyang, por meio de sua missão nas Nações Unidas, ter dado menos de uma hora de aviso prévio de que faria o teste, a equipe de Obama formulou sua estratégia preliminar.
Um alto funcionário da gestão disse que os EUA jamais darão pleno reconhecimento diplomático à Coreia do Norte ou assinarão um tratado pondo fim formal à guerra da Coreia, a não ser que seja desmontada a capacidade nuclear.
Para formular uma resposta comum, funcionários do governo iniciaram o planejamento de reuniões com líderes asiáticos e, eventualmente, com a força fundamental no drama diplomático: a China. O secretário da Defesa, Robert Gates, vai dar início ao esforço nesta semana, durante uma reunião anual de defesa, e seu porta-voz, Geoff Morrell, disse: "Simplesmente não existe desafio maior de segurança para a Ásia que uma Coreia do Norte nuclearmente armada".

Carta na manga
É possível que a maior sanção ainda não empregada à qual Obama e seus aliados possam recorrer esteja contida na resolução do Conselho de Segurança da ONU aprovada após o teste de 2006. Ela autoriza os EUA e outros países a bloquear e inspecionar navios que vão e vêm da Coreia do Norte, para procurar componentes de mísseis ou materiais nucleares contrabandeados. A sanção nunca chegou a ser aplicada, em parte devido ao receio de que pudesse provocar uma escalada de hostilidades com a Coreia do Norte.
Quando indagado se Obama procuraria interceptar o tráfego de navios para a Coreia do Norte, uma medida que poderia paralisar o comércio do país, um alto funcionário do governo disse que ainda é cedo para responder. Mas outro alto funcionário comentou: "Excetuando convencer os chineses a cortar o suprimento de petróleo, essa talvez fosse a única medida que mostraria a eles que estamos falando sério".

Tradução de CLARA ALLAIN



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