São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

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Obama põe latina na Suprema Corte

Indicação de Sonia Sotomayor deve manter equilíbrio entre conservadores e liberais no tribunal

A despeito das críticas ao "ativismo" da juíza, sua nomeação não deve ser alvo de oposição no Senado, onde precisa ser aprovada


ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, Barack Obama, indicou ontem a juíza liberal moderada Sonia Sotomayor para a Suprema Corte do país, acabando com semanas de especulação sobre sua primeira marca no órgão. Se aprovada no Senado, Sotomayor, 54, será a primeira pessoa de origem latino-americana a integrar o mais importante tribunal americano.
Ela substituirá o juiz David Souter, 69, que pediu para deixar o cargo. Ele foi apontado pelo republicano George Bush pai (1989-1993), mas costumava seguir a ala liberal do órgão.
Por essa razão, as tendências de Sotomayor não deverão afetar substancialmente o equilíbrio do órgão -hoje composto por quatro magistrados conservadores, quatro liberais e um conservador moderado.
Sotomayor será a terceira mulher da história da Suprema Corte. O posto é vitalício.
Ao justificar a escolha, Obama abordou tanto a experiência jurídica quanto a história pessoal de sua indicada.
"[Sotomayor] traria uma experiência mais variada para o corpo de juízes do que qualquer um dos que servem hoje na Suprema Corte possuíam quando indicados. Tão impressionante quanto suas credenciais na lei é a jornada extraordinária que ela percorreu."
O democrata se referia ao fato de a filha de porto-riquenhos ter saído das comunidades pobres do Bronx, em Nova York, para duas das melhores universidades do país -Princeton e Yale- e em seguida ter percorrido diversos níveis do sistema de Justiça do país.
Antes da indicação, Sotomayor atuava como juíza do Tribunal Federal de Apelações dos EUA em Nova York desde 1998 -indicada ao posto pelo ex-presidente democrata Bill Clinton (1993-2001).
Antes, fora indicada pelo republicano Bush pai como juíza do Tribunal Distrital de Nova York. Em 30 anos de carreira, ela também trabalhou para a Promotoria de Nova York e passou anos no setor privado.
No agradecimento a Obama, Sotomayor abordou sua trajetória: "Essa riqueza de experiências, pessoais e profissionais, me ajudou a entender a variedade de perspectivas que existem em cada caso. Luto para nunca me esquecer das consequências de minhas decisões na vida real de indivíduos, negócios e governo".

Oposição conservadora
A forma como ela encara sua etnia, gênero e experiências, porém, gera críticas em setores conservadores, que temem que ela tente "fazer política" a partir do tribunal em vez de apenas interpretar a lei.
Sotomayor já disse que "o tribunal de apelações é onde políticas são feitas" e que "uma mulher latina sábia, com a riqueza de suas experiências, alcançaria muitas vezes conclusões melhores do que um homem branco que não teve essa vida".
"A juíza Sotomayor é uma ativista judicial de esquerda, que pensa que seus propósitos políticos pessoais são mais importantes do que a lei escrita", declarou Wendy Long, integrante do grupo conservador Rede de Confirmações Judiciais. "Ela acredita que juízes devem ditar política, e que gênero, raça e etnia devem afetar as decisões judiciais."
Ao mesmo tempo, o fato de ela ser uma mulher latina pode dificultar a oposição republicana à indicação, por medo de desagradar a uma fatia importante do eleitorado conservador americano. "A não ser que surjam fatos novos relativos a seu passado, os republicanos não devem desperdiçar fogo por causa de Sotomayor", sugeriu David Gergen, analista político da Universidade Harvard.
Estima-se que Obama ainda terá duas chances de deixar sua marca na Suprema Corte: os juízes John Paul Stevens, 88, e Ruth Ginsburg, 75, deverão se aposentar nos próximos anos.


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