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Crédito habitacional é nova cartada eleitoral de Cristina
Oferta, a quase um mês de pleito legislativo, corteja classe média, refratária aos Kirchner
Fundos virão da Previdência, reestatizada no ano passado; medida põe lenha em debate sobre suposto viés estatista de presidente da Argentina
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Com a popularidade em baixa entre a classe média urbana,
o governo da Argentina lançou
ontem, a pouco mais de um
mês para eleições legislativas,
uma linha de crédito para casa
própria voltada a esse setor.
As linhas de crédito a taxas fixas de 14% a 20%, com prazos
de até 20 anos, se somam a outros anúncios econômicos de
campanha realizados pelo governo nos últimos dias, como
um aumento de 15% para o funcionalismo público federal.
As eleições de 28 de junho renovam metade da Câmara e um
terço do Senado. São cruciais
para o governo Cristina Kirchner, cuja aprovação caiu pela
metade desde o conflito tributário com o campo, em 2008
-hoje está em torno de 30%.
O governo imprime tom de
plebiscito à campanha. Com a
economia em desaceleração,
adiantou o pleito em quatro
meses e lançou os principais
nomes do kirchnerismo à Câmara -o ex-presidente Néstor
Kirchner (2003-2007), o governador da Província de Buenos Aires e ex-vice de Néstor,
Daniel Scioli, o chefe de gabinete de Cristina, Sergio Massa.
Os últimos, criticados pela
oposição por tentarem iludir o
eleitorado com candidaturas
"testemunhais", declararam
ontem à Justiça ter intenção de
assumir os cargos caso eleitos.
Os créditos anunciados ontem serão operados pelo banco
Hipotecário, entidade controlada por acionistas privados,
mas com participação majoritária (65%) do governo, que negocia a retomada do controle.
Os recursos virão da Anses
(INSS local), que absorveu fundos de previdência privada estatizados no ano passado.
Chávez na campanha
O suposto viés estatista do
governo virou tema de campanha após a estatização na semana passada, pela Venezuela, de
três empresas do grupo Techint, a maior multinacional
argentina. A oposição aponta
conivência com o governo de
Hugo Chávez e cobra defesa do
"interesse nacional".
"O populismo confiscatório
de Chávez já começou na Argentina", afirmou a líder opositora de centro-esquerda Elisa
Carrió. Também houve forte
reação do setor empresarial -a
União Industrial Argentina pediu ontem que o governo reveja
a decisão de aceitar a Venezuela como membro do Mercosul.
Cristina rebateu ontem as
críticas. Disse que defendeu a
Techint quando Chávez estatizou, no ano passado, a Sidor,
outra siderúrgica do grupo,
mas lamentou que o grupo tenha depositado no exterior os
primeiros US$ 400 milhões da
indenização.
O governo classifica as estatizações como "decisão soberana", mas procurou se diferenciar de Chávez. "Estatizamos
empresas que não queríamos,
porque eram concessões vergonhosas", afirmou o ministro do
Interior, Florencio Randazzo.
Sob os Kirchner, a Argentina
estatizou empresas de água,
correio e a que controlava o espectro radioelétrico, a Aerolineas Argentinas e a Previdência privada obrigatória.
A partir da última medida, o
Estado assumiu participação
acionária em cerca de 35 empresas -entre elas a subsidiária
local da Petrobras- para as
quais agora designa diretores
desde o início do ano.
"Não há Estado sem empresas, nem empresas sem Estado
que as impulsione", afirmou
Cristina ontem.
Em campanha, Néstor visitou ontem uma papeleira que
havia fechado as portas em outubro e cuja gestão foi assumida pelo Estado, sob o argumento de preservar 700 empregos.
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