São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crédito habitacional é nova cartada eleitoral de Cristina

Oferta, a quase um mês de pleito legislativo, corteja classe média, refratária aos Kirchner

Fundos virão da Previdência, reestatizada no ano passado; medida põe lenha em debate sobre suposto viés estatista de presidente da Argentina


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Com a popularidade em baixa entre a classe média urbana, o governo da Argentina lançou ontem, a pouco mais de um mês para eleições legislativas, uma linha de crédito para casa própria voltada a esse setor.
As linhas de crédito a taxas fixas de 14% a 20%, com prazos de até 20 anos, se somam a outros anúncios econômicos de campanha realizados pelo governo nos últimos dias, como um aumento de 15% para o funcionalismo público federal.
As eleições de 28 de junho renovam metade da Câmara e um terço do Senado. São cruciais para o governo Cristina Kirchner, cuja aprovação caiu pela metade desde o conflito tributário com o campo, em 2008 -hoje está em torno de 30%.
O governo imprime tom de plebiscito à campanha. Com a economia em desaceleração, adiantou o pleito em quatro meses e lançou os principais nomes do kirchnerismo à Câmara -o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), o governador da Província de Buenos Aires e ex-vice de Néstor, Daniel Scioli, o chefe de gabinete de Cristina, Sergio Massa.
Os últimos, criticados pela oposição por tentarem iludir o eleitorado com candidaturas "testemunhais", declararam ontem à Justiça ter intenção de assumir os cargos caso eleitos.
Os créditos anunciados ontem serão operados pelo banco Hipotecário, entidade controlada por acionistas privados, mas com participação majoritária (65%) do governo, que negocia a retomada do controle. Os recursos virão da Anses (INSS local), que absorveu fundos de previdência privada estatizados no ano passado.

Chávez na campanha
O suposto viés estatista do governo virou tema de campanha após a estatização na semana passada, pela Venezuela, de três empresas do grupo Techint, a maior multinacional argentina. A oposição aponta conivência com o governo de Hugo Chávez e cobra defesa do "interesse nacional".
"O populismo confiscatório de Chávez já começou na Argentina", afirmou a líder opositora de centro-esquerda Elisa Carrió. Também houve forte reação do setor empresarial -a União Industrial Argentina pediu ontem que o governo reveja a decisão de aceitar a Venezuela como membro do Mercosul.
Cristina rebateu ontem as críticas. Disse que defendeu a Techint quando Chávez estatizou, no ano passado, a Sidor, outra siderúrgica do grupo, mas lamentou que o grupo tenha depositado no exterior os primeiros US$ 400 milhões da indenização.
O governo classifica as estatizações como "decisão soberana", mas procurou se diferenciar de Chávez. "Estatizamos empresas que não queríamos, porque eram concessões vergonhosas", afirmou o ministro do Interior, Florencio Randazzo.
Sob os Kirchner, a Argentina estatizou empresas de água, correio e a que controlava o espectro radioelétrico, a Aerolineas Argentinas e a Previdência privada obrigatória.
A partir da última medida, o Estado assumiu participação acionária em cerca de 35 empresas -entre elas a subsidiária local da Petrobras- para as quais agora designa diretores desde o início do ano.
"Não há Estado sem empresas, nem empresas sem Estado que as impulsione", afirmou Cristina ontem.
Em campanha, Néstor visitou ontem uma papeleira que havia fechado as portas em outubro e cuja gestão foi assumida pelo Estado, sob o argumento de preservar 700 empregos.


Texto Anterior: Obama põe latina na Suprema Corte
Próximo Texto: "New York Times" diz ter desperdiçado "furo" sobre Watergate
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.