São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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COLÔMBIA

Grupo diz que autoridades municipais que não renunciassem até meia-noite de ontem seriam mortas ou sequestradas

Farc ameaçam todos os prefeitos do país

Reuters
Em local ignorado nas montanhas, integrante das Farc divulga ameaça contra prefeitos e juízes


PHIL STEWART
DA REUTERS

O maior grupo guerrilheiro da Colômbia ameaçou matar ou sequestrar todos os prefeitos e juízes municipais da Colômbia se eles não renunciassem até a meia-noite de ontem, em sua maior ofensiva contra autoridades civis em 38 anos de conflito no país.
Em uma entrevista no topo de uma montanha perto da capital, Bogotá, na noite de anteontem, um comandante das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) disse à Reuters que o objetivo dos guerrilheiros é destruir o Estado de baixo para cima. Ele afirmou que a eliminação de prefeitos e autoridades municipais seria o primeiro passo.
"O governo declarou guerra total contra nós, e nossa resposta é ignorar politicamente o Estado, seus representantes e suas leis", disse o comandante, conhecido apenas como Byron.
"Um novo poder de base precisa ser construído pela população. O nascimento desse novo poder não reconhecerá velhas instituições", acrescentou.
Byron disse que a ofensiva se seguia à decisão "unilateral" do governo atual, de Andrés Pastrana, de abandonar as negociações de paz com as Farc em fevereiro.
As Farc já havia intimidado 120 prefeitos, mas a última ameaça do grupo inclui as autoridades de todos os 1.097 municípios do país.
Se cumprida, a ação seria a maior ofensiva contra autoridades civis colombianas em um conflito que já deixou 40 mil mortos apenas na última década.
No passado, as Farc concentravam seus ataques em alvos militares. As Forças Armadas ganharam recursos nos últimos anos, em parte graças à ajuda dos EUA.
As Farc, que têm cerca de 17 mil membros e combatem desde os anos 60 para impor um Estado socialista na Colômbia, é o grupo guerrilheiro mais poderoso da América Latina.
A ofensiva das Farc deve ser o primeiro desafio do presidente eleito Alvaro Uribe, que toma posse em 7 de agosto após uma vitória arrasadora, conseguida em grande parte por sua promessa de promover ações militares mais duras contra os guerrilheiros.
Segundo pesquisas recentes -que, segundo Byron, refletem só a opinião da elite urbana-, o apoio popular às Farc não passa de 2%.
Anteontem, Pastrana, reagindo à ameaça prévia das Farc a 120 prefeitos, ofereceu fornecer seguranças às autoridades.
Ele também sugeriu que prefeitos de cidades sem policiais ou soldados mudassem para cidades maiores e mais protegidas. Renúncias de prefeitos e funcionários públicos não seriam aceitas, disse o presidente. O ministro da Justiça chegou até mesmo a dizer aos prefeitos que "parassem de chorar como mulheres" e afirmou que funcionários do governo colombiano sempre foram ameaçados por grupos ilegais, tanto de esquerda quanto de direita.
Byron afirmou que os prefeitos que deixassem seu cargo não seriam tocados, mesmo se sua renúncia não fosse aceita.
Mas os funcionários públicos, que não foram incluídos no plano de segurança de Pastrana, e os prefeitos afirmaram que as medidas não eram suficientes e pediram que fosse decretado estado de exceção na Colômbia. O presidente disse que consideraria a possibilidade.
Mais de 30 prefeitos já renunciaram, e oito foram assassinados neste ano -pelo menos um deles pelas Farc.
Cinquenta prefeitos foram assassinados pelas Farc e os outros grupos armados ilegais -ELN (Exército de Libertação Nacional) e paramilitares de extrema direita- desde que Pastrana assumiu a Presidência, em 1998, segundo um balanço da Federação Colombiana de Municípios (FCM) divulgado ontem.
O documento não especifica quantos prefeitos foram mortos por cada um dos grupos.
Ontem, o prefeito de La Sierra (região sudoeste), Alberto Calvo, foi sequestrado por guerrilheiros das Farc, disse o secretário de Ordem Pública do departamento de Cauca, Julio Tovar.
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gaviria, condenou a ameaça e afirmou que, se for cumprida, "constituiria grave ato de terrorismo".
As Farc são consideradas um grupo terrorista pelos EUA e pela União Européia.
"Isso tem a ver com o nascimento de um novo Estado, um novo poder. Não têm nada a ver com argumentos terroristas. Não tem nada a ver com direitos humanos ou normas internacionais. Essas são decisões soberanas do povo colombiano", disse Byron.

Com agências internacionais


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