São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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Guerrilha exibe força a Uribe, diz analista

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

As ameaças das Farc às autoridades municipais têm como objetivo dar "boas-vindas" ao presidente eleito, Alvaro Uribe, e demonstrar a fragilidade do Estado para garantir a segurança em todo o território colombiano.
Segundo Marco Romero, 37, professor de ciência política da Universidade Nacional da Colômbia, tanto o Estado quanto os grupos rebeldes crêem estar em posição de força, o que deve levar a uma agudização do conflito.
Após o fracasso de um processo de paz que durou quatro anos, Uribe foi eleito no primeiro turno com a promessa de adotar uma política de linha dura contra os grupos guerrilheiros. Ele assumirá a Presidência em 7 de agosto. Leia os principais trechos da entrevista com Romero, realizada por telefone, de Bogotá.

Folha - As ameaças aos prefeitos e juízes são para valer ou são uma espécie de "golpe publicitário"?
Marco Romero -
Tanto os grupos guerrilheiros quanto os paramilitares têm capacidade de atingir a integridade de muitos dos mandatários locais. Já há alguns deputados, uma candidata presidencial e um governador sequestrados. Logo, não se trata apenas de uma jogada publicitária, mas de uma ameaça real.

Folha - Mas as Farc teriam interesse em matar um grande número de prefeitos?
Romero -
Não sei, mas é possível que ajam contra alguns. Estão fazendo isso nesse momento porque o presidente eleito, Alfredo Uribe, prometeu agir com mão pesada e reduzir a força dos grupos rebeldes. A insurgência está dando uma espécie de "boas-vindas" ao novo governo. Quer mostrar a incapacidade do governo para garantir a segurança em todo o território.

Folha - As ameaças vêm também de outros grupos armados?
Romero -
Os paramilitares (grupos de direita que se opõe às guerrilhas de esquerda) disseram que os prefeitos que renunciarem serão declarados objetivos militares. Até o momento, não fizeram isso, mas ameaçaram fazê-lo.

Folha - A decretação de medidas de emergência seria uma solução?
Romero -
É provável que seja decretado Estado de sítio e que sejam adotadas medidas de caráter excepcional. Mas isso levaria ao abandono de princípios de legitimidade democrática, como a revogação de garantias e direitos civis ou a indicação de prefeitos militares. A consequência seria uma militarização ainda maior do país.

Folha - Qual seria a melhor maneira de fazer frente às ameaças?
Romero -
Infelizmente, neste momento temos um presidente que foi eleito com um mandato de confrontação e uma insurgência que está disposta a mostrar que pode continuar a crescer. Como acabamos de sair de uma experiência de paz que fracassou, caminhamos para uma agudização do confronto militar.



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