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Guerrilha exibe força a Uribe, diz analista
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
As ameaças das Farc às autoridades municipais têm como objetivo dar "boas-vindas" ao presidente eleito, Alvaro Uribe, e demonstrar a fragilidade do Estado
para garantir a segurança em todo
o território colombiano.
Segundo Marco Romero, 37,
professor de ciência política da
Universidade Nacional da Colômbia, tanto o Estado quanto os
grupos rebeldes crêem estar em
posição de força, o que deve levar
a uma agudização do conflito.
Após o fracasso de um processo
de paz que durou quatro anos,
Uribe foi eleito no primeiro turno
com a promessa de adotar uma
política de linha dura contra os
grupos guerrilheiros. Ele assumirá a Presidência em 7 de agosto.
Leia os principais trechos da entrevista com Romero, realizada
por telefone, de Bogotá.
Folha - As ameaças aos prefeitos
e juízes são para valer ou são uma
espécie de "golpe publicitário"?
Marco Romero - Tanto os grupos
guerrilheiros quanto os paramilitares têm capacidade de atingir a
integridade de muitos dos mandatários locais. Já há alguns deputados, uma candidata presidencial e um governador sequestrados. Logo, não se trata apenas de
uma jogada publicitária, mas de
uma ameaça real.
Folha - Mas as Farc teriam interesse em matar um grande número
de prefeitos?
Romero - Não sei, mas é possível
que ajam contra alguns. Estão fazendo isso nesse momento porque o presidente eleito, Alfredo
Uribe, prometeu agir com mão
pesada e reduzir a força dos grupos rebeldes. A insurgência está
dando uma espécie de "boas-vindas" ao novo governo. Quer mostrar a incapacidade do governo
para garantir a segurança em todo
o território.
Folha - As ameaças vêm também
de outros grupos armados?
Romero - Os paramilitares (grupos de direita que se opõe às guerrilhas de esquerda) disseram que
os prefeitos que renunciarem serão declarados objetivos militares. Até o momento, não fizeram
isso, mas ameaçaram fazê-lo.
Folha - A decretação de medidas
de emergência seria uma solução?
Romero - É provável que seja decretado Estado de sítio e que sejam adotadas medidas de caráter
excepcional. Mas isso levaria ao
abandono de princípios de legitimidade democrática, como a revogação de garantias e direitos civis ou a indicação de prefeitos militares. A consequência seria uma
militarização ainda maior do país.
Folha - Qual seria a melhor maneira de fazer frente às ameaças?
Romero - Infelizmente, neste
momento temos um presidente
que foi eleito com um mandato de
confrontação e uma insurgência
que está disposta a mostrar que
pode continuar a crescer. Como
acabamos de sair de uma experiência de paz que fracassou, caminhamos para uma agudização do confronto militar.
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