São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUROPA

Em campanha à reeleição, premiê tenta aproveitar o sucesso da equipe na Copa e anuncia que irá ao Japão para ver a final

Schröder capitaliza vitórias da seleção alemã

DAVID CROSSLAND
DA REUTERS, EM BERLIM

Com o instinto de um atacante, o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, está aproveitando o sucesso de seu país na Copa do Mundo para alimentar sua campanha à reeleição.
Cultivando uma imagem de "homem do povo" que pode ajudar a restaurar a popularidade de seu Partido Social-Democrata (SPD), Schröder anda se deixando fotografar dando socos de alegria no ar a cada vitória alemã, além de fazer elogios constantes à "grande seleção".
"Essa vitória foi totalmente merecida", disse ele aos jornalistas, sorrindo, depois que a Alemanha chegou à final com a vitória de 1 a 0 sobre a Coréia do Sul, anteontem. "Não devemos alimentar expectativas demais, mas, se alguém pode conseguir o primeiro lugar, é esta seleção."

De camarote
Seu entusiasmo é tanto que, logo após a vitória, ele anunciou que irá ao Japão para assistir à decisão contra o Brasil, no domingo. Pouco depois, seu principal adversário nas eleições de setembro, o conservador Edmund Stoiber, disse que também irá.
Entre os dois, o premiê já está disparando à frente nos bolões. Uma sondagem do instituto Forsa mostrou que cerca de 63% dos alemães prefeririam jogar futebol com ele, e 20% com Stoiber.
E Schröder pode se beneficiar mais do sucesso alemão, mesmo que o país perca a final contra o Brasil.
"O bom desempenho da seleção alemã lança uma luz mais positiva sobre o governo", disse Richard Hilmer, diretor do instituto de pesquisas Infratest Dimap. "A insatisfação popular passada com o governo em matéria de desemprego e de educação pode diminuir."
Embora Schröder ainda esteja seis pontos percentuais atrás dos conservadores nas pesquisas, faltando menos de três meses para as eleições, a história está de seu lado. Nenhum governo alemão perdeu uma eleição depois que a seleção nacional ganhou a Copa.
Por outro lado, o ex-premiê Helmut Kohl foi derrotado na eleição de 1998, três meses depois de a Croácia ter eliminado a Alemanha da Copa da França com um humilhante 3 a 0.

Orgulho nacional
O futebol é uma área na qual a Alemanha, que ainda tem sentimento de culpa por sua atuação na 2ª Guerra Mundial, pode manifestar orgulho nacional sem problemas de consciência. A maioria dos homens alemães joga futebol quando jovem. Não existe no país nenhum outro esporte capaz de rivalizar com o futebol.
Para analistas, tentar demonstrar intimidade com esse esporte dá pontos a políticos. "O futebol permite ao premiê mostrar que está próximo do povo e alcançar as pessoas que não estão interessadas em política", disse outro analista, Dieter Roth. Qualquer coisa que melhore o sentimento popular beneficia mais o partido governista do que a oposição. "Mais da metade dos alemães não se interessa realmente por política, mas, apesar disso, a maioria dessas pessoas sai de casa para votar."
O moral dos social-democratas vem se deteriorando nos últimos meses em razão de uma sequência de resultados negativos em sondagens, de uma grande derrota eleitoral regional, de um escândalo no financiamento partidário em nível local e do índice constantemente alto do desemprego.
Mas uma comissão indicada pelo governo e liderada pelo executivo-chefe da Volkswagen, Peter Hartz, pretende propor mudanças trabalhistas radicais que podem convencer o público da seriedade de Schröder em empreender reformas, dizem os analistas. "Schröder ainda pode convencer a população de que tem fôlego para correr mais", disse o cientista político Wichard Woyke, da Universidade de Münster.


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: Guerra sem limites: Al Qaeda mata dez soldados paquistaneses em confronto
Próximo Texto: Panorâmica - Anúncio: Líder em pesquisa, Oviedo se diz candidato à Presidência do Paraguai
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.