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Maconha está cada vez mais potente, alerta ONU
Efeitos nocivos da droga mais consumida no mundo são subestimados, diz estudo
Dossiê anual da organização mostra que o número de usuários ficou estável pela primeira vez em 25 anos,
em cerca de 200 milhões
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Pela primeira vez nos últimos 25 anos, o número de
usuários de drogas no mundo
se estabilizou em torno de 200
milhões, o que representa cerca
de 5% da população com idade
entre 15 e 64 anos.
No entanto, as drogas mais
usadas, a maconha e o haxixe,
estão cada vez mais potentes.
Esses dados constam do Relatório Mundial de Drogas de
2006, produzido anualmente
pelo UNODC (Escritório das
Nações Unidas contra Drogas e
Crime), e foram divulgados ontem, no Rio de Janeiro.
Segundo o relatório, as drogas que têm como origem a
cannabis, como maconha e haxixe, eram encontradas em
quase todos os países e consumidas por 162,4 milhões de
pessoas em 2004 e 2005.
Justamente por seu uso maciço em vários países do mundo, o relatório deste ano escolheu como destaque especial o
alerta de que essas drogas estão
cada vez mais potentes e, conseqüentemente, prejudiciais à
saúde.
"Os traficantes investiram
pesadamente no aumento da
potência da cannabis para torná-la mais atraente. O resultado foi devastador: hoje, as características da cannabis não
são tão diferentes das encontradas em outras drogas com
origem em plantas, como a cocaína e a heroína", afirma o diretor-executivo do UNODC,
Antonio Maria Costa.
Amostras
Um dos dados que o UNODC
usa para embasar essa afirmação veio de uma pesquisa da
Universidade do Mississippi,
que possui um centro onde são
analisadas amostras de maconha apreendida nos Estados
Unidos. Esses testes mostram
que o potencial de THC (tetrahidrocanabinol) nas drogas aumentaram consideravelmente
nos últimos 15 anos.
Em 1989, menos de 5% das
amostras tinham nível de THC
na droga superior a 9%. Em
2004, esse percentual chegou a
34%. O relatório cita também
estudos feitos na Holanda e no
Canadá que chegaram a conclusões semelhantes.
O THC é uma substância química encontrada na maconha e
no haxixe. Quanto maior seu
percentual na droga, mais potente ela fica.
A coordenadora de programas do UNODC no Brasil, Cíntia Ferreira, explica que o aumento do nível de THC na maconha e no haxixe pode ser obtido por meio de técnicas mais
avançadas de refino ou de plantação e colheita da cannabis.
Ela afirma que um tipo de
cannabis desenvolvida especialmente para ficar mais potente é a sinsemilla (sem semente), que contém botões e as
flores da planta fêmea. Esse tipo de cannabis já é encontrada
nos Estados Unidos, Canadá e
Holanda.
No caso do Brasil, Ferreira
afirma que é preciso avançar
mais nos estudos sobre a droga
para saber se o mesmo fenômeno verificado na Europa e na
América do Norte se repete no
país.
O relatório cita ainda o aumento da busca por tratamento
de cannabis nos Estados Unidos e Europa e diz que seus
efeitos foram subestimados no
passado.
Entre os novos efeitos colaterais da droga citados pelo
UNODC, aparecem casos de
início de psicose em pessoas
vulneráveis, sintomas de esquizofrenia, ataques de pânico, paranóia e outros sintomas psicóticos.
Ecstasy e cocaína
Os consumos de ecstasy e de
cocaína apresentaram tendências distintas no último relatório do UNODC. Enquanto o número de usuários de cocaína
vem permanecendo relativamente estável desde 1990 (variou de 14 milhões no final dos
anos 90 para 13,4 milhões no
ano passado), o de ecstasy teve
aumento significativo no mesmo período (de 4,5 milhões para 9,7 milhões).
Outras drogas, como as anfetaminas, opiáceos e heroínas
também apresentaram, da
mesma forma que a cocaína,
tendência de estabilização nos
últimos anos.
Para Costa, isso mostra que o
problema das drogas pode ser
contido e que estratégias de
longo prazo podem reduzir a
oferta, a demanda e o tráfico.
"Se isso não acontecer, vai
ser porque alguns países não levaram a questão suficientemente a sério e usaram políticas inadequadas. Muitos países
acabam tendo os problemas de
drogas que merecem", afirma o
diretor-executivo do UNODC.
O relatório faz também,
anualmente, uma atualização
dos dados de produção de drogas no mundo. Eles mostram,
por exemplo, que Bolívia, Peru
e Colômbia continuam monopolizando a produção da cocaína, que é exportada principalmente para os Estados Unidos
por várias rotas na América do
Sul.
Outros países que concentram a produção de uma única
droga são o Afeganistão, no caso do ópio, e o Marrocos, no caso do haxixe. A produção e o
consumo de ecstasy acontecem
principalmente em países europeus.
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