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Perseguição à burca de Sarkozy cria polêmica na França em crise
Presidente acena à esquerda e a feministas, mas
contraria muçulmanos, para quem uso é "marginal"
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cinco anos após a instituição
de uma lei que proíbe o uso de
acessórios religiosos nas escolas públicas francesas, o presidente Nicolas Sarkozy insufla
os parlamentares da maioria a
criarem um projeto de lei contra o uso da burca.
"Sinal de servidão" da mulher, a burca "não é bem-vinda
no território da República
Francesa ", disse Sarkozy diante de deputados e senadores
nesta semana. "Não podemos
aceitar no nosso país mulheres
prisioneiras atrás de uma grade, excluídas da vida social e
privadas de identidade."
Para Stéphane Montclaire,
professor de ciência política da
Universidade Sorbonne, não há
justificativa para o tema aparecer agora. "Não há urgência, e
não é da mesma relevância que
as questões econômicas e sociais ", avaliou.
Mas, para Montclaire, a incorporação da questão na agenda de Sarkozy tem o objetivo
claro de dar um novo fôlego ao
seu mandato e aumentar a sua
popularidade. "O islã é a segunda religião mais praticada na
França, mas há um sentimento
de islamofobia que é crescente
na população francesa. Sarkozy
soube habilmente usar isso no
seu discurso."
O presidente do Conselho
Francês do Culto Muçulmano,
Mohammed Moussaoui, disse
estar chocado com a comissão
parlamentar criada para discutir a proibição do véu integral.
Para ele, esse é um "fenômeno
marginal". "Essa iniciativa provoca muitas dúvidas sobre a relevância desse assunto em tempos de crise", disse.
As entidades islâmicas francesas enfatizaram que a burca
não é uma roupa recomendada
pelo Corão. "Não é uma recomendação religiosa. É uma tradição rara", disse Moussaoui.
Na rua Jean-Pierre Thimbault, no 11º distrito de Paris,
há várias lojas de roupas voltadas para a clientela muçulmana. A Folha tentou entrevistar
alguns comerciantes para saber sobre a venda de burcas.
Nas três lojas visitadas, nenhum quis responder às perguntas. No entanto, ao fundo
das lojas, havia à venda em promoção modelos de niqab, um
véu integral que deixa apenas
os olhos de fora.
O debate sobre a proibição
da burca ou de modelos que encubram quase totalmente o
rosto encontra eco tanto nos
partidos de esquerda quanto
nos de direita como o UMP,
partido de Sarkozy.
No dia 9 de junho, antes do
discurso de Sarkozy, uma proposta de lei do deputado comunista André Gérin previa uma
resolução para legislar sobre o
tema. "Hoje, nos bairros das
nossas cidades, somos afrontados por algumas mulheres muçulmanas com burcas que cobrem integralmente o corpo e a
cabeça em verdadeiras prisões
ou com niqabs, que deixam
apenas os olhos descobertos ",
escreveu Gérin. O deputado
afirma que ver as mulheres
vestidas como mulheres no Irã,
no Afeganistão e na Arábia
Saudita "é intolerável no solo
da República Francesa".
O mesmo discurso é adotado
pela associação francesa de direitos das mulheres Ni Putes
Ni Soumises (nem prostitutas
nem submissas). Sihem Habchi, presidente da associação,
enfatiza que a burca é "um símbolo da opressão".
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