São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / FORA DOS TRILHOS

A cem dias da eleição, McCain procura eixo

Equipe de campanha do republicano teme que inconstância e série de gafes sejam relacionadas à idade avançada do senador

Para rebater, assessores citam rotina dinâmica; após meses de ataque, candidato elogia prazo de retirada do Iraque proposto por Obama

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A cem dias das eleições presidenciais norte-americanas, o candidato John McCain ainda procura o eixo de sua campanha. O esperado pela equipe do senador republicano era que a viagem ao exterior de Barack Obama fosse marcada por uma série de gafes de seu oponente que salientassem a falta de experiência do senador democrata em política externa.
O problema é que quem cometeu as gafes foi McCain.
Foram das mais leves, como dizer que a situação na fronteira entre Iraque e Paquistão era preocupante (os dois países não são vizinhos), a atribuir à escalada de tropas proposta por George W. Bush em 2007 um evento que ocorreu no ano anterior -a união de sunitas contra extremistas xiitas, no que é conhecido como "Despertar de Anbar", em referência àquela Província iraquiana.
Mais do que o aspecto anedótico dos erros, eles ressaltam três características que a campanha do republicano teme que sejam associadas a McCain: a falta de uma proposta coerente em relação à política externa; a ausência de mensagem unificada em questões gerais; e o peso da idade de um candidato que, se eleito, será o político mais velho da história a assumir a Casa Branca, aos 72.
O primeiro aspecto ficaria mais evidente no malabarismo verbal do republicano ao longo da semana para justificar o que falou do "Despertar de Anbar". Primeiro, tentou redefinir o papel da escalada. Depois, chocou analistas: "Prefiro perder uma campanha do que a guerra. Parece-me que o senador Obama prefere o oposto".
"É a nona campanha presidencial que eu cubro e não consigo me lembrar de uma declaração mais grosseira vinda de um candidato de um grande partido", escreveu o jornalista Joe Klein, membro do Council on Foreign Relations, na revista "Time". "Soa a desespero, renova a questão de saber se McCain tem o temperamento certo para a Presidência."
Por fim, o republicano encerraria a semana declarando à CNN na sexta à tarde que a proposta de retirada das tropas em 16 meses, pilar da política de Obama para a Guerra do Iraque, "é um prazo muito bom". McCain passou os últimos meses se dizendo totalmente contra fixar prazos e criticando Obama por propor um.
Na questão da idade, o candidato foi defendido por sua diretora de comunicação. "Eu desafio qualquer um preocupado com a idade de John McCain a segui-lo em campanha", disse Jill Hazelbaker. "Ele mantém uma agenda exaustiva, muitas vezes visitando dois ou três Estados num mesmo dia e respondendo a dúzias de perguntas da mídia pelo caminho."
Sobre a necessidade de unificar a mensagem, a equipe tem tentado centralizar o poder no estrategista político Steve Schmidt. Quanto ao apoio ao prazo de Obama, após meses de críticas, a campanha não se manifestou até a conclusão desta edição.


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