São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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Grupo de deputado contrata "coiote" para fazer travessia

DO ENVIADO A OCOTAL (NICARÁGUA)

A proibição do governo interino de circular pela fronteira atingiu até o candidato presidencial e deputado federal César Ham, 36, do partido esquerdista UD (Unificação Democrática). Para chegar até a Nicarágua, o grupo de 20 militantes com o qual viajava foi obrigado a contratar um "coiote" pelo equivalente a R$ 100 e andar por sete horas por uma região montanhosa. No caminho, diz Ham, o grupo teve de fugir de uma patrulha militar e caminhou cerca de três horas durante a noite. Em Ocotal, o candidato ficou hospedado num motel de beira de estrada -na região, locais assim são conhecidos como "matadouros". Nesta entrevista à Folha, Ham, terceiro colocado nas pesquisas de opinião, não descarta concorrer à Presidência mesmo sob o governo interino, mas adverte que o país está sob o risco de uma guerra civil. (FM)

 

FOLHA - O sr. participará das eleições de novembro mesmo com Micheletti no poder e sem o eventual reconhecimento internacional?
CÉSAR HAM
- Esse é o grande dilema. Nós estamos ocupados com a restituição do presidente porque ele pode não apenas assegurar a legitimidade como dar apoio para podermos ganhar. Estamos nesse debate, mas a decisão não é fácil. Participar legitima os golpistas, e não participar deixa sem alternativa política mais de 60% do povo hondurenho que crê numa nova Constituição. Mas tudo indica que vamos participar.

FOLHA - Há quatro anos, nas últimas eleições, o sr. chamava Manuel Zelaya de oligarca. Agora, caminhou sete horas para defender a sua volta. O que aconteceu nesse período?
HAM
- Sempre disse que conhecemos as pessoas por nossos atos. Há gente que se diz de esquerda e que está com os golpistas. E o presidente Zelaya, no exercício do seu governo, demonstrou que é um governo comprometido com os interesses do povo, que enfrentou as multinacionais para diminuir o preço dos combustíveis, que dobrou o salário mínimo pela primeira vez. Com nossos votos, entrou na Alba e na Petrocaribe. A esquerda é o espaço político que tenta ser coerente com o que aspira. Que tenha chegado pelo Partido Liberal não é o nosso problema.

FOLHA - O sr. realmente acha que há condições para que Zelaya volte?
HAM
- Tenho fé de que ele regresse. O que temos é de tomar uma decisão histórica. O povo está cansado, são 25 dias na rua. Se as pessoas levantarem as armas, será uma guerra civil. Tiraremos rapidamente os golpistas, mas ficará uma sequela muito grande.


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