São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2011

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ROBERTO ABDENUR

Brasil, ONU e ironias da história


Está superada a ideia de jogo de soma zero; hoje, a prosperidade de EUA, Europa e Japão depende do progresso dos emergentes

A CONCLAMAÇÃO por relatório do Council on Foreign Relations a que os EUA apoiem o Brasil para assento permanente no Conselho de Segurança da ONU deu novo destaque a assunto na pauta da Assembleia Geral há vários anos. Para isso contribuiu a formação do G4, que reúne Brasil, Índia, Japão e Alemanha na busca por cadeiras permanentes.
Fez bem a diplomacia brasileira ao elevar o tema a uma de suas maiores prioridades. Ademais do trabalho no G4, ampliou relações com variadas regiões --África, Oriente Médio, Ásia-- com vistas a conquistar o maior apoio possível quando o assunto for a voto na Assembleia Geral, com 193 países.
Para além de nossa atuação, contam a nosso favor radicais alterações no panorama internacional. A interdependência das economias gerou curiosa ironia da história. Se outrora eram os países em desenvolvimento que buscavam nova ordem econômica, agora as potências estabelecidas reconhecem a inevitabilidade --e mesmo a desejabilidade-- do concurso dos emergentes para uma reconfiguração da ordem mundial que permita respostas adequadas a múltiplos desafios.
Está superada a ideia de jogo de soma zero que subjazia ao velho embate entre Norte e Sul. A própria prosperidade de EUA, Europa e Japão depende do progresso dos emergentes. Há algo de novo no ar, com as crises e o deslocamento para os emergentes da capacidade de impulsionar o crescimento mundial. E a complexidade do quadro internacional não mais permite compartimentalização entre questões econômicas e as que têm a ver com paz e segurança. O processo de renovação do sistema deve ser um só.
Tem sido feliz a estratégia de ampliar a rede de apoios, mas não pode o Brasil cometer o erro de alienar o decisivo endosso dos cinco membros permanentes do CS. Já temos manifestações de apoio ou ao menos simpatia de França, Reino Unido e Rússia. Há o problema da forte oposição da China a ampliação que inclua Japão e Índia. É de esperar que a atitude de Pequim evolua em algum momento. Mas estamos logrando progresso na postura de outro decisivo parceiro, os EUA.
Quando da visita de Bush ao Brasil, em 2005, os dois presidentes se comprometeram com "estreita coordenação". Agora, na visita de Obama, comunicado conjunto afirma enfaticamente o papel "global" não só do Brasil, mas da parceria Brasil-EUA. E Obama declara "ver com apreço" a aspiração brasileira, assunto sobre o qual manterá vivo diálogo com a presidente Dilma.
Alguns analistas se decepcionaram por não haver Obama sido tão enfático sobre o Brasil como fora na Índia. É preciso compreender que a Índia tem hoje valor muito especial para o interesse geopolítico dos EUA em sua complexa relação com a China. E que em Washington ainda não foram de todo superados os desconfortos causados por nossa aventura com o Irã. Obama tinha de ser mais contido em Brasília. Mas o que disse representa um claro movimento na direção de um futuro apoio.
O relatório do CFR reforça esse movimento. Dilma e Obama abriram promissor capítulo nas relações bilaterais. O apoio dos EUA à candidatura brasileira deve ser desdobramento natural da evolução no papel internacional do Brasil.

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi


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