São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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Nš de imigrantes explode e provoca reação de britânicos

Desde 2004, pelo menos 600 mil trabalhadores chegaram ao Reino Unido vindos dos novos países-membros da UE

Imigrantes são associados à sobrecarga dos serviços públicos e ao aumento do desemprego; para alguns, eles ativam a economia

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

O pavio da "dinamite política" chamada imigração, segundo definição do premiê Tony Blair, voltou a ser aceso na última terça-feira, após o governo divulgar um relatório com dados e estimativas sobre os imigrantes no Reino Unido.
Na pletora de números, ganharam destaque os estimados 600 mil trabalhadores imigrantes que vieram de oito ex-Estados comunistas desde que estes se juntaram à União Européia, em maio de 2004.
O número chamou a atenção por dois motivos: sua magnitude é muito maior do que o governo havia calculado -estimava-se que eram 26 mil imigrantes em busca de emprego, no mesmo período- e ainda pode crescer, com a provável entrada da Romênia e da Bulgária na UE, em 2007.
Os dados do relatório deram munição farta aos opositores da atual política de imigração, como o Partido Conservador e boa parte de mídia inglesa.
Os imigrantes foram associados ao crescente número de desempregados no Reino Unido -o maior dos últimos seis anos-, à redução dos salários e à sobrecarga dos sistemas públicos de saúde e educação.
Os tablóides chegaram às raias da xenofobia, com manchetes sobre gângsters e prostitutas da Bulgária e crianças romenas com Aids prontos para invadirem o Reino Unido.
Mas os partidários da imigração -membros dos partidos Trabalhista e Liberal Democrático, representantes da indústria, comércio e agricultura- também aproveitaram para desenhar um cenário favorável.
O crescimento da economia britânica, dizem eles, é sustentado pelos imigrantes, que representam 8% da força de trabalho, mas colaboram com 10% do Produto Interno Bruto.
Também são os imigrantes que preenchem vagas ociosas, pela falta de interesse ou de qualificação dos britânicos.
E, com os salários mais baixos que a maioria recebe em comparação com seus colegas locais, ajudam a manter a economia britânica competitiva e as taxas de juros baixas.

Portas abertas
Um dos maiores entusiastas da UE, Blair sempre teve uma posição mais liberal em relação à entrada de novos membros e à circulação dos cidadãos do bloco.
Quando Estônia, Lituânia, República Tcheca, Letônia, Eslováquia, Eslovênia, Hungria e Polônia se juntaram ao bloco, em 2004, o Reino Unido foi um dos únicos três países que deram total direito de trabalho aos seus cidadãos -Irlanda e Suécia foram os outros dois.
Mas agora o cenário que o governo britânico desenha para os novos membros promete ser diferente.
O secretário da Indústria e Comércio, Alistair Darling, indicou que a continuidade da política de "portas abertas" é inviável e que restrições devem ser impostas aos novos imigrantes. Figuras importantes como os secretários John Reid (Interior) e John Hutton (Trabalho e Previdência) também se disseram favoráveis a medidas de controle da imigração.
O número total de habitantes do Reino Unido ultrapassou os 60 milhões de pessoas pela primeira vez no ano passado, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas. O crescimento foi de 0,6%, o maior desde 1962.
Os imigrantes têm um papel importante nesse total. Desde 2004, cerca de 1,4 milhão de pessoas entraram legalmente no país, contra 119 mil britânicos que o deixaram. O Brasil lidera o número dos ilegais barrados que a Polônia foi admitida na UE. Foram 5.180 no ano passado.


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