São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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Antiislã e antiaborto, ator mira a Casa Branca

Alan Zenuk - 7.ago.2004/Associated Press
Michael Moriarty aparece em cena do seriado "The 4400"


Michael Moriarty, 65, defende Estado religioso para enfrentar "Terceira Guerra"

Astro dos seriados de TV "The 4400" e "Lei e Ordem" lança candidatura pelo Partido dos Realistas com plataforma conservadora

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Michael Moriarty, 65, se diz firmemente decidido a deixar uma sólida carreira de ator de cinema e séries de TV, construída a partir de escolas excelentes de teatro, para ser o presidente do EUA que devolverá a prática do aborto à sua antiga condição de crime no país.
Com um Globo de Ouro e dois Emmys em sua estante, o ator se tornou mais conhecido mundialmente pelo personagem do promotor Benjamin Stone, na série policial "Lei & Ordem", que viveu de 1990 a 1994. Hoje, pode ser visto na TV brasileira na série de ficção científica "The 4400", no canal a cabo Universal, como o abduzido Orson Bailey.
No ano que vem, porém, seu personagem será outro. Tentará chegar à Casa Branca de forma independente -tarefa quase impossível no sistema eleitoral americano, que favorece o bipartidarismo- enfrentando democratas e republicanos pelo Partido dos Realistas.
O fato de ser um ator tentando a Presidência não chega a ser uma novidade - Ronald Reagan tinha um passado hollywoodiano. O que chama a atenção são suas metas.
Para Moriarty, o mundo assiste a uma Terceira Guerra Mundial de fundo religioso, que não pode ser empreendida por um Estado laico. "É uma guerra entre deuses, sendo que o deus do mal é Mao Tsé-tung", disse ele à Folha, de sua residência no Estado canadense de British Columbia. "Osama bin Laden é mais maoísta que árabe, e o islã, segundo a lei do Alcorão, exige ter o governo. Não é admissível."
O ator acredita que derrubando a decisão da Suprema Corte americana sobre o caso Roe vs. Wade, que legalizou o aborto em 1973, ele conseguirá derrubar o que crê ser a semente do maoísmo nos EUA.
Seu partido, porém, ainda não foi reconhecido. "Tenho dois gerentes de campanha, na Flórida e no Arizona, que estão cuidando disso", afirma. "Não acho que ganharei esta eleição, nem a de 2011. Mas, se for considerado o favorito em dois Estados, posso iniciar uma plataforma política."

Obsessão
A questão do aborto é obsessiva para Moriarty desde o momento que trocou seu país natal pelo Canadá, em 1994. À época, o seriado "Lei e Ordem" recebia críticas da secretária de Justiça Janet Reno pela sua extrema violência. Na série, seu personagem era o de um promotor católico, divorciado, que vive dilemas na batalha por justiça em casos de homicídio e estupro em Nova York.
A lei Roe vs. Wade chegou a ser tema de um dos episódios de 1990. "Escolha de Vida" contava a história de uma bomba detonada por ativistas antiaborto numa clínica. Seu personagem dizia compreender os princípios dos ativistas, mas que isso "não lhes dava o direito de jogar bombas". No fim, incriminava a presidente da organização. Mas concluía: "Se Roe vs. Wade não existisse, não haveria bombas."
Moriarty tentou liderar um movimento de atores contra o que considerou uma ameaça à Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão. Isolado, preferiu deixar os EUA.
"Desde que vim para o Canadá, cheguei à conclusão de que a questão na qual a América errou foi Roe vs. Wade", afirma, para iniciar um intricado raciocínio conspiratório. "Hoje, por causa dela, a América acalenta uma colônia do programa de controle de população de Mao Tsé-tung", diz, errando o alvo -quem iniciou o programa de um filho por família nas áreas urbanas chinesas não foi Mao, mas Deng Xiaoping, em 1979.
Em seus ensaios, publicados pelo site neoconservador www.enterstageright.com, ele se candidata a ser um novo Abraham Lincoln. Compara a questão da escravidão, estopim da Guerra Civil Americana, à questão do aborto. A comparação com o nazismo também é freqüente em seus artigos.
"Hillary Clinton defende os direitos da mulher como Hitler defendia os direitos arianos, o que lhe permitiu matar quantos judeus quisesse. A diferença é que isso não é genocídio, é humanicídio. A verdade é: se Roe vs. Wade não for revogada, podemos ter uma nova guerra civil", afirma, em tom sério.
Suas opiniões, porém, ainda não conseguem divulgação. Na América do Norte, apenas um jornal da pequena Halifax o reconheceu como candidato. "Cem por cento da imprensa americana apóia o aborto legal. Por isso não me dão voz."


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