São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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"No passo de gozadores, chegamos a Miraflores"

DA REPORTAGEM LOCAL

A seguir, a entrevista com o humorista Benjamin Rausseo, candidato a presidente na Venezuela, concedida à Folha por telefone, na quinta-feira (FM):
 

FOLHA - A sua candidatura é séria?
BENJAMIN RAUSSEO
- Já estivemos no Conselho Nacional Eleitoral (CNE), levamos todos os documentos necessários e já estou registrado como candidato. Agora é percorrer o país para buscar votos, nomear os comandos de campanha e seguir a luta até a unidade, porque tenho um acordo com outro candidato, Manuel Rosales [governador de Zulia]. Em novembro, veremos se ele se retira ou se serei eu. Neste momento, segundo uma pesquisa de opinião, estou em terceiro, com 12%, atrás de Chávez, com 40%, e Rosales, com 20%.

FOLHA - A política venezuelana é bastante polarizada. O sr. se coloca à esquerda ou à direita do debate?
RAUSSEO
- Nem à esquerda nem à direita, eu digo que sou do "centro de lomito" [corte de carne mais caro na Venezuela]. É isso que queremos ser: boa carne e no meio. Porque no centro podemos combinar o desenvolvimento do homem, que é o que preconiza a esquerda, e a parte econômica, que é o que promove a direita.

FOLHA - Por que o sr. anunciou que deixará de usar o título de conde?
RAUSSEO
- Eu me separei temporariamente do meu cargo porque não me dá tempo para cumprir os compromissos com esta campanha. Tenho muito trabalho como candidato. Mas as pessoas continuarão me vendo como o personagem que venho fazendo há 21 anos.

FOLHA - O sr. mistura declarações de campanha com piadas, como a de que é tão feio quanto Chávez. O eleitor o levará a sério?
RAUSSEO
- Isso de ser feio é verdade. O que prometo é uma campanha alegre, de muita felicidade, sem ofender a ninguém, e é o que vai me distanciar dos outros candidatos.

FOLHA - Chávez é conhecido pela retórica, com muitas tiradas. Sua estratégia então é superá-lo nisso?
RAUSSEO
- Faço piadas há 21 anos. Chávez tem sete anos fazendo piadas aí pelos países onde fica dando dinheiro. Eu só dou piadas. E ele não quer fazer campanha dentro da Venezuela porque não quer entrar nos bairros populares onde não tem nada para mostrar.

FOLHA - Os chavistas têm criticado a sua campanha dizendo que um palhaço não pode chegar à Presidência...
RAUSSEO
- Bem, se pode um golpista, não pode um palhaço? A Constituição não diz que um humorista não pode chegar.

FOLHA - Qual é a sua avaliação do governo Chávez?
RAUSSEO
- De 1 a 10, deve ter 1, por aí. E esse ponto é porque abriu os olhos dos venezuelanos para perceber que temos o melhor país do mundo e estamos a ponto de perdê-lo porque tem havido muito ódio, muita separação, muita luta de classe. E os venezuelanos são amáveis, gostam de piadas. [Em português:] Brigas nunca mais.

FOLHA - Quem é do seu partido?
RAUSSEO
- Somos muito poucos porque é o partido mais jovem da Venezuela, acabamos de ser reconhecidos pelo CNE.

FOLHA - Quais serão os slogans de sua campanha?
RAUSSEO
- Os símbolos são as alpargatas, que aqui são umas sandálias usadas pelos camponeses, e um chapéu de palha. Usarei o slogan "Conde Mata-Máquina", porque a gente aqui tem muito medo das urnas eletrônicas. E também: "No passo de gozadores, chegamos a [o Palácio] Miraflores" [trocadilho com o lema chavista "No passo de vencedores, chegamos a Miraflores"].


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