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"No passo de gozadores, chegamos a Miraflores"
DA REPORTAGEM LOCAL
A seguir, a entrevista com o
humorista Benjamin Rausseo,
candidato a presidente na Venezuela, concedida à Folha por
telefone, na quinta-feira
(FM):
FOLHA - A sua candidatura é séria?
BENJAMIN RAUSSEO - Já estivemos no Conselho Nacional
Eleitoral (CNE), levamos todos
os documentos necessários e já
estou registrado como candidato. Agora é percorrer o país para buscar votos, nomear os comandos de campanha e seguir a
luta até a unidade, porque tenho um acordo com outro candidato, Manuel Rosales [governador de Zulia]. Em novembro,
veremos se ele se retira ou se
serei eu. Neste momento, segundo uma pesquisa de opinião, estou em terceiro, com
12%, atrás de Chávez, com 40%,
e Rosales, com 20%.
FOLHA - A política venezuelana é
bastante polarizada. O sr. se coloca à
esquerda ou à direita do debate?
RAUSSEO - Nem à esquerda nem
à direita, eu digo que sou do
"centro de lomito" [corte de
carne mais caro na Venezuela].
É isso que queremos ser: boa
carne e no meio. Porque no
centro podemos combinar o
desenvolvimento do homem,
que é o que preconiza a esquerda, e a parte econômica, que é o
que promove a direita.
FOLHA - Por que o sr. anunciou que
deixará de usar o título de conde?
RAUSSEO - Eu me separei temporariamente do meu cargo
porque não me dá tempo para
cumprir os compromissos com
esta campanha. Tenho muito
trabalho como candidato. Mas
as pessoas continuarão me vendo como o personagem que venho fazendo há 21 anos.
FOLHA - O sr. mistura declarações
de campanha com piadas, como a
de que é tão feio quanto Chávez. O
eleitor o levará a sério?
RAUSSEO - Isso de ser feio é verdade. O que prometo é uma
campanha alegre, de muita felicidade, sem ofender a ninguém,
e é o que vai me distanciar dos
outros candidatos.
FOLHA - Chávez é conhecido pela
retórica, com muitas tiradas. Sua estratégia então é superá-lo nisso?
RAUSSEO - Faço piadas há 21
anos. Chávez tem sete anos fazendo piadas aí pelos países onde fica dando dinheiro. Eu só
dou piadas. E ele não quer fazer
campanha dentro da Venezuela porque não quer entrar nos
bairros populares onde não
tem nada para mostrar.
FOLHA - Os chavistas têm criticado
a sua campanha dizendo que um
palhaço não pode chegar à Presidência...
RAUSSEO - Bem, se pode um
golpista, não pode um palhaço?
A Constituição não diz que um
humorista não pode chegar.
FOLHA - Qual é a sua avaliação do
governo Chávez?
RAUSSEO - De 1 a 10, deve ter 1,
por aí. E esse ponto é porque
abriu os olhos dos venezuelanos para perceber que temos o
melhor país do mundo e estamos a ponto de perdê-lo porque tem havido muito ódio,
muita separação, muita luta de
classe. E os venezuelanos são
amáveis, gostam de piadas. [Em
português:] Brigas nunca mais.
FOLHA - Quem é do seu partido?
RAUSSEO - Somos muito poucos
porque é o partido mais jovem
da Venezuela, acabamos de ser
reconhecidos pelo CNE.
FOLHA - Quais serão os slogans de
sua campanha?
RAUSSEO - Os símbolos são as
alpargatas, que aqui são umas
sandálias usadas pelos camponeses, e um chapéu de palha.
Usarei o slogan "Conde Mata-Máquina", porque a gente aqui
tem muito medo das urnas eletrônicas. E também: "No passo
de gozadores, chegamos a [o
Palácio] Miraflores" [trocadilho com o lema chavista "No
passo de vencedores, chegamos
a Miraflores"].
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