São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2007

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Vietnamitas criticam Bush por frases "impensadas" sobre guerra

Uso do conflito no Vietnã para justificar Iraque provoca indignação em Hanói

AMY KAZMIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM BANCOC

Hanói está indignada pelo fato de o presidente americano, George W. Bush, ter invocado a ignominiosa retirada americana do Vietnã como explicação para a necessidade de manter as forças dos EUA no Iraque.
Bush sugeriu que a retirada americana do Vietnã precipitou um banho de sangue no Sudeste Asiático que incluiu o genocídio praticado pelo Khmer Vermelho no Camboja -mas muitos vietnamitas consideram que essa alegação seja uma simplificação grosseira da trágica e complexa história de sua região, e do papel que os EUA nela desempenharam.
"Usar o Vietnã dessa forma, para se livrar do debate sobre o Iraque, representa uma atitude impensada e, francamente, desrespeitosa", afirmou Ton Nu Thi Ninh, antiga vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembléia Nacional vietnamita. O conflito no Vietnã foi "uma guerra injustificada e uma guerra errada, para começar, de modo que começar a analisar as coisas agora a partir do momento da retirada dos americanos é realmente incompreensível", ela afirmou.
"A raiz do problema não é a retirada, mas o simples fato de que a guerra tenha sido empreendida." Ninh também objetou ao "mau gosto" de Bush em aproximar os eventos do pós-guerra no Vietnã aos campos de extermínio do Khmer Vermelho, no vizinho Camboja.
Hanói considera a retirada das forças americanas como a culminação de uma luta nacionalista cujo objetivo era reunificar um país dividido. "Com relação à guerra americana no Vietnã, todo mundo sabe que lutamos para defender o nosso país e que a guerra foi uma guerra justa para os vietnamitas", disse Le Dung, porta-voz do Ministério do Exterior.

Lições
Os governantes comunistas do Vietnã vêm se esforçando há 30 anos para promover o reconhecimento de sua nação como país, e não como cenário de uma guerra, enquanto tentam criar um relação de trabalho amistosa com os EUA, o antigo inimigo. O Vietnã, que tem a economia com o segundo crescimento mais rápido da Ásia, tornou-se um pólo de atração para investimentos estrangeiros, e os EUA são o maior parceiro comercial do país.
Tran Quyet Thang, presidente do conselho de uma incorporadora imobiliária vietnamita, afirma que o país sofreu desnecessariamente como resultado da hostilidade e do revanchismo americanos, depois da guerra, quando Washington impôs um longo e doloroso boicote econômico ao Vietnã reunificado. "Eles tiveram de se retirar do Vietnã. A decisão foi sábia, e deveriam tê-lo feito mais cedo", afirmou. "Mas não deveriam ter imposto um embargo ao Vietnã. Deveriam ter estabelecido um contato amistoso conosco imediatamente".
"Mas eles estavam incomodados com a derrota militar e por isso continuaram combatendo, em suas mentes." Ninh acredita que os EUA não tenham aprendido as lições do Vietnã. "Que bem lhes fará persistir por mais tempo no Iraque? Parece que o presidente Bush está alegando que os EUA precisam ficar para impedir que a situação piore ainda mais. A única coisa que esse conceito promoverá é um atoleiro ainda maior", afirmou.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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