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Pai de vítima de atentado defende a soltura de líbio
Jim Swire diz acreditar em inocência de libertado e aponta erros em investigação
Condenado a prisão perpétua
por explosão de avião que matou 270 em 1988 foi solto por Justiça escocesa há uma semana devido a doença
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O pai de uma das 270 pessoas
mortas na explosão de um
avião sobre a cidade escocesa
de Lockerbie em 1988 vai pedir
um novo inquérito sobre o caso
após a soltura do único condenado pelo pior atentado terrorista do Reino Unido.
Com a fala pausada e a longa
história entrecortada por lamentos sobre "quão horrível
ela é", Jim Swire, 73, afirma
acreditar que o líbio Abdel Basset Ali al Megrahi é inocente e
que provas foram omitidas durante o julgamento realizado
na Holanda sob a lei escocesa,
observado pela ONU.
Megrahi, condenado a prisão
perpétua em 2001, foi solto há
uma semana pela Justiça escocesa por "razões humanitárias"
-ele tem câncer e sobrevida estimada em três meses.
"Estou aliviado que ele tenha
sido libertado", disse Swire à
Folha por telefone. O médico
britânico perdeu a filha Flora,
de 23 anos, no atentado. "Estudei as provas e acompanhei todo o julgamento. Durante [o
processo] fui convertido, cheguei querendo a condenação de
dois homens pelo assassinato
da minha filha e no fim estava
convicto de que eles não eram
culpados." O outro homem é Al
Amin Khalifa Fhimah, também
líbio, absolvido.
Citando registros da investigação criminal, Swire afirma
que informações essenciais foram omitidas no tribunal. Ele
cita alertas de segurança e um
arrombamento ocorrido na
véspera do atentado no aeroporto de Heathrow, nas cercanias de Londres, de onde o
avião decolou rumo a Nova
York. "O porquê eu não sei."
Antes de ser solto, Megrahi,
que diz ser inocente, entrara
com duas apelações. A segunda
foi acatada por recomendação
da Comissão Escocesa de revisão de Casos Criminais com
base na alegação da defesa de
que provas haviam ficado de
fora do julgamento e este fora
mal conduzido. À época, o responsável pela comissão descreveu o caso como o "mais longo,
caro e complexo" a passar pelo
órgão.
Swire afirma crer que o regime líbio soubesse do planejamento do atentado -Megrahi
integrava o serviço de inteligência de Trípoli-, mas diz
que, a partir do que foi apresentado ao tribunal, não é possível provar sua participação. O
governo do ditador Muammar
Gaddafi nunca respondeu pelo
atentado à Justiça.
Sem esperança
O médico passou a investigar
o caso quando soube que alertas de segurança sobre o aeroporto de Heathrow foram ignorados pelas autoridades britânicas e nada foi feito após ser
constatado o arrombamento.
"Se eles tivessem agido, suspendido os voos, minha filha
querida poderia estar viva."
Swire enviará hoje uma carta
à imprensa escocesa pedindo a
investigação criminal da omissão. Entre seus argumentos, há
trechos do livro da ex-primeira-ministra Margareth Thatcher (1979-1990) que tratam
dos interesses geopolíticos relacionados à Líbia e à região
dois anos após a denúncia contra Megrahi, em 1991.
Embora se diga satisfeito
com a soltura do líbio -que
descreve como "bode expiatório"- e elogie a Justiça escocesa, ele não está otimista sobre
sua campanha. "Não espero
que, pelo meu tempo de vida,
eu consiga ver o caso ser reaberto", disse à Folha.
Chefe da associação britânica de vítimas, ele admite divergências com os familiares dos
americanos mortos, que formam a maior parte do grupo.
"Eles acreditaram em tudo que
seu governo afirmou."
Swire afirma não ter conversado com Megrahi após sua
soltura -o líbio foi recebido
com festa em seu país, o que
alimentou ainda mais as críticas ao governo escocês. Mas o
visitou na prisão.
Como médico, o britânico
avalia que, uma vez solto e próximo de seus familiares, o homem culpado pelo atentado sobreviverá mais do que os três
meses estimados. "Espero que
viva mais. Mas aí, você sabe, a
Escócia vai estar na berlinda
outra vez."
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