São Paulo, quinta-feira, 27 de agosto de 2009

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Pai de vítima de atentado defende a soltura de líbio

Jim Swire diz acreditar em inocência de libertado e aponta erros em investigação

Condenado a prisão perpétua por explosão de avião que matou 270 em 1988 foi solto por Justiça escocesa há uma semana devido a doença

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O pai de uma das 270 pessoas mortas na explosão de um avião sobre a cidade escocesa de Lockerbie em 1988 vai pedir um novo inquérito sobre o caso após a soltura do único condenado pelo pior atentado terrorista do Reino Unido.
Com a fala pausada e a longa história entrecortada por lamentos sobre "quão horrível ela é", Jim Swire, 73, afirma acreditar que o líbio Abdel Basset Ali al Megrahi é inocente e que provas foram omitidas durante o julgamento realizado na Holanda sob a lei escocesa, observado pela ONU.
Megrahi, condenado a prisão perpétua em 2001, foi solto há uma semana pela Justiça escocesa por "razões humanitárias" -ele tem câncer e sobrevida estimada em três meses.
"Estou aliviado que ele tenha sido libertado", disse Swire à Folha por telefone. O médico britânico perdeu a filha Flora, de 23 anos, no atentado. "Estudei as provas e acompanhei todo o julgamento. Durante [o processo] fui convertido, cheguei querendo a condenação de dois homens pelo assassinato da minha filha e no fim estava convicto de que eles não eram culpados." O outro homem é Al Amin Khalifa Fhimah, também líbio, absolvido.
Citando registros da investigação criminal, Swire afirma que informações essenciais foram omitidas no tribunal. Ele cita alertas de segurança e um arrombamento ocorrido na véspera do atentado no aeroporto de Heathrow, nas cercanias de Londres, de onde o avião decolou rumo a Nova York. "O porquê eu não sei."
Antes de ser solto, Megrahi, que diz ser inocente, entrara com duas apelações. A segunda foi acatada por recomendação da Comissão Escocesa de revisão de Casos Criminais com base na alegação da defesa de que provas haviam ficado de fora do julgamento e este fora mal conduzido. À época, o responsável pela comissão descreveu o caso como o "mais longo, caro e complexo" a passar pelo órgão.
Swire afirma crer que o regime líbio soubesse do planejamento do atentado -Megrahi integrava o serviço de inteligência de Trípoli-, mas diz que, a partir do que foi apresentado ao tribunal, não é possível provar sua participação. O governo do ditador Muammar Gaddafi nunca respondeu pelo atentado à Justiça.

Sem esperança
O médico passou a investigar o caso quando soube que alertas de segurança sobre o aeroporto de Heathrow foram ignorados pelas autoridades britânicas e nada foi feito após ser constatado o arrombamento. "Se eles tivessem agido, suspendido os voos, minha filha querida poderia estar viva."
Swire enviará hoje uma carta à imprensa escocesa pedindo a investigação criminal da omissão. Entre seus argumentos, há trechos do livro da ex-primeira-ministra Margareth Thatcher (1979-1990) que tratam dos interesses geopolíticos relacionados à Líbia e à região dois anos após a denúncia contra Megrahi, em 1991.
Embora se diga satisfeito com a soltura do líbio -que descreve como "bode expiatório"- e elogie a Justiça escocesa, ele não está otimista sobre sua campanha. "Não espero que, pelo meu tempo de vida, eu consiga ver o caso ser reaberto", disse à Folha.
Chefe da associação britânica de vítimas, ele admite divergências com os familiares dos americanos mortos, que formam a maior parte do grupo. "Eles acreditaram em tudo que seu governo afirmou."
Swire afirma não ter conversado com Megrahi após sua soltura -o líbio foi recebido com festa em seu país, o que alimentou ainda mais as críticas ao governo escocês. Mas o visitou na prisão.
Como médico, o britânico avalia que, uma vez solto e próximo de seus familiares, o homem culpado pelo atentado sobreviverá mais do que os três meses estimados. "Espero que viva mais. Mas aí, você sabe, a Escócia vai estar na berlinda outra vez."


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