São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Autoridades de Israel admitem responsabilidade extra-oficialmente; Damasco chama israelenses de terroristas

Atentado mata dirigente do Hamas na Síria

DA REDAÇÃO

Um alto dirigente do grupo terrorista Hamas foi morto em explosão de uma bomba em Damasco, na Síria, em ação atribuída a Israel, segundo autoridades israelenses -não há confirmação oficial do governo.
Izz Eldine Subhi Sheik Khalil foi morto às 10h45 (4h45 em Brasília) quando estava ligando o seu carro, segundo disseram autoridades do Hamas.
Testemunhas, no entanto, afirmaram que Khalil, 42, passou pelos vizinhos, deu bom dia e entrou no carro. Em seguida, tocou o seu celular, o carro andou dez metros e explodiu.
O assassinato de Khalil foi a primeira ação bem-sucedida de Israel contra um líder de um grupo terrorista palestino na Síria. E foi a segunda operação israelense no território sírio em 30 anos -ano passado um campo de treinamento supostamente usado pelo grupo terrorista palestino Jihad Islâmico foi bombardeado em ataque que não deixou vítimas.
A ação israelense ocorre depois de o governo do premiê Ariel Sharon advertir por semanas que as autoridades do Hamas não estariam seguras na Síria após o duplo atentado reivindicado pelo grupo em Beer Sheva (Israel) no mês passado matar 16 pessoas. Para os israelenses, o ataque foi armado pelos líderes do Hamas na Síria.
Yossi Melman, analista do diário israelense "Haaretz", disse que o ataque de ontem é um novo estágio da guerra israelense ao terrorismo e visa advertir o regime do ditador Bashar al Assad que a Síria não goza mais de imunidade e que é preciso expulsar as lideranças terroristas de Damasco.
A Síria, segundo relatos de jornalistas em Damasco, tem começado a agir contra os grupos palestinos, fechando alguns escritórios, devido a fortes pressões dos EUA. Porém, israelenses acusam os sírios de ainda permitir a ação dessas organizações no território.
O governo sírio informou por meio de comunicado que "o ato terrorista representa um grave episódio de responsabilidade de Israel, que visa prejudicar a segurança e a estabilidade da região".
Comunicado postado pelo Hamas na internet dava indicações de que o grupo poderia responder ao ataque de ontem por meio de ações contra alvos israelenses e judaicos em outras partes do mundo. Porém, mais tarde, porta-vozes do Hamas em Beirute e Damasco disseram que, por enquanto, não haverá mudanças na política do Hamas e os ataques continuarão restritos a Israel, Cisjordânia e faixa de Gaza.
O Ministério do Interior da Síria informou, por meio de comunicado publicado pela agência de notícias oficial Sana, que Khalil não estava envolvido em nenhuma atividade criminosa na Síria.
Khalil foi expulso da faixa de Gaza por Israel em 1992 junto com um grupo de palestinos. Eles ficaram algumas semanas na fronteira entre o Líbano e Israel porque o governo libanês se recusava a aceitá-los como forma de protestar contra a expulsão.
Atualmente, Khalil vinha sendo a ligação entre as autoridades políticas do Hamas em Damasco e o braço militar do grupo em Gaza.
Ele era considerado um alvo mais fácil do que Khaled Meshaal, principal líder do Hamas, e outras figuras proeminentes do grupo na Síria porque vivia fora do campo de refugiados palestinos de Yarmouk, em Damasco.
Neste ano, Israel já matou o líder espiritual do Hamas, xeque Ahmed Yassin, em março, e seu sucessor, Abdel Aziz Rantisi, no mês seguinte. Uma série de membros de escalão mais baixos também foram mortos em ataques seletivos de Israel.
Na sexta-feira, o jornal árabe "Al Hayat", publicado em Londres, afirmou que um país árabe -não foi divulgado o nome- teria concedido informações a Israel sobre a vida de lideranças do Hamas em capitais de países do Oriente Médio e do golfo Pérsico.
A Autoridade Nacional Palestina (ANP) condenou o atentado. Nabil Abu Rudeinah, assessor do presidente palestino, Iasser Arafat, descreveu o assassinato de Khalil como extremamente perigoso e pediu que a comunidade internacional aja para bloquear esse tipo de ação de Israel.


Com agências internacionais


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