São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Senador ouve muito

Estilo de Kerry às vezes engessa sua campanha

ADAM NAGOURNEY E
JODI WILGOREN
DO "NEW YORK TIMES"

Durante 15 minutos em Milwaukee outro dia, o senador John Kerry bombardeou seus assessores com perguntas sobre um ataque contra o presidente George W. Bush programado para ser feito nas horas seguintes.
O candidato conseguiu as respostas que queria sobre o programa de assistência médica do governo depois de assistentes passarem a manhã inteira disparando telefonemas e pesquisando na internet. Mas poucas das informações descobertas acabaram entrando no discurso com o ataque.
Esse episódio é um exemplo típico da maneira como Kerry, um senador com quatro mandatos e comparativamente pouca experiência administrativa, tem dirigido sua campanha. E, seus companheiros dizem, oferece um vislumbre do estilo executivo que quase com certeza ele levará à Casa Branca se vencer a eleição.
Kerry é um tomador de decisões meticuloso, que sempre pede mais informação, faz telefonemas em busca de conselhos e lê mais um documento. Em resumo, age como se ainda fosse um promotor de Massachusetts se preparando para um caso.
Os colegas de Kerry sempre o descrevem como uma pessoa informada, curiosa e com rara inteligência. Mas o lado negativo desse estilo deliberativo, eles acrescentam, é uma campanha que freqüentemente tem se movido com lentidão contra um adversário ágil. Esse estilo também resulta em um candidato que tem lutado para sintetizar as informações em um processo claro e conciso contra Bush. Mesmo seus auxiliares admitem que Kerry pode ser vagaroso para tomar uma decisão, enredando-se nos detalhes dos dados coletados.
A sua atenção para as minúcias pode lhe ser útil nos grandes projetos, como quando mandou assessores vasculhar o país em busca de companheiros que serviram a seu lado na Guerra do Vietnã. Mas às vezes, dizem membros de sua equipe, essa característica pode ser um desvio, como no começo de 2003, quando passaram quatro semanas discutindo o logotipo da campanha, consultando pessoas sobre o tipo gráfico de letra a ser usada e se a imagem deveria incluir uma bandeira americana (sim, foi incluída).
O hábito de Kerry de sempre solicitar mais um ponto de vista levou um colaborador próximo a dizer que aprendeu a esperar até o minuto final para apresentar sua opinião: o senador, diz a fonte, costuma ser mais influenciado pela última pessoa com quem conversou.
"Ele considera opções, síntese, antítese. Ele é um pensador", afirma o reverendo Jesse Jackson, cujas próprias campanhas presidenciais se tornaram conhecidas pela desorganização. "Um boxeador precisa de um empresário, de um técnico ao lado do ringue e de alguém para estender as toalhas. Mas, assim que toca o sino, o boxeador precisa de seus instintos", acrescenta.


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