São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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Trabalho social dos monges sustenta ação contra o regime

AMY KAZMIN
DOMINIC FAULDER

DO "FINANCIAL TIMES"

Com cerca de 400 mil soldados, as Forças Armadas de Mianmar (antiga Birmânia) vêm dominando a vida política e pública do país enquanto solapam as demais instituições. Mas mesmo antes dos protestos desta semana, a reverenciada sangha, ou irmandade budista, era tratada com cautela pelos militares, que reconhecem nela forte potencial de mobilização de sentimentos de oposição ao governo entre os birmaneses, um povo profundamente religioso.
Ainda que não seja possível calcular com precisão as dimensões da sangha, acredita-se que existam cerca de 400 mil monges budistas no país. Organizados e dotados de extensas redes de contatos -ao contrário dos generais, isolados no poder-, os religiosos têm fortes elos com as comunidades em que vivem, das quais dependem para obter as doações que lhes garantem a sobrevivência.
"Estudantes e monges são considerados séria ameaça pelas Forças Armadas", diz o analista Aung Naing Oo. "São organizados, como um Exército, e dispõem de uma complexa hierarquia -ainda que, evidentemente, não sejam violentos." Os monges sempre desempenharam papel crucial na Ásia, atendendo não só às necessidades espirituais mas fomentando a consciência social, o que os torna alvo de atenção especial dos regimes repressivos.
Em Mianmar, os monges têm papel historicamente importante na promoção de mudanças políticas e sociais.
Os combativos monges de Mandalay eram um espinho na carne dos colonizadores britânicos, estimulando o movimento nacionalista nascente.
Os religiosos também se envolveram intensamente no levante de 1988, contra décadas de repressão e improbidade administrativa. Além disso, hoje, na ausência de um mecanismo de seguridade social do governo militar, os templos budistas se transformaram em clínicas para os portadores de HIV, orfanatos e escolas. Em Mandalay, uma das maiores escolas religiosas do país se vangloria de um corpo discente de 7.000 alunos.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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