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Trabalho social dos monges sustenta ação contra o regime
AMY KAZMIN
DOMINIC FAULDER
DO "FINANCIAL TIMES"
Com cerca de 400 mil soldados, as Forças Armadas de
Mianmar (antiga Birmânia)
vêm dominando a vida política
e pública do país enquanto solapam as demais instituições.
Mas mesmo antes dos protestos desta semana, a reverenciada sangha, ou irmandade
budista, era tratada com cautela pelos militares, que reconhecem nela forte potencial de mobilização de sentimentos de
oposição ao governo entre os
birmaneses, um povo profundamente religioso.
Ainda que não seja possível
calcular com precisão as dimensões da sangha, acredita-se
que existam cerca de 400 mil
monges budistas no país. Organizados e dotados de extensas
redes de contatos -ao contrário dos generais, isolados no
poder-, os religiosos têm fortes elos com as comunidades
em que vivem, das quais dependem para obter as doações que
lhes garantem a sobrevivência.
"Estudantes e monges são
considerados séria ameaça pelas Forças Armadas", diz o analista Aung Naing Oo. "São organizados, como um Exército, e
dispõem de uma complexa hierarquia -ainda que, evidentemente, não sejam violentos."
Os monges sempre desempenharam papel crucial na Ásia,
atendendo não só às necessidades espirituais mas fomentando a consciência social, o que os
torna alvo de atenção especial
dos regimes repressivos.
Em Mianmar, os monges têm
papel historicamente importante na promoção de mudanças políticas e sociais.
Os combativos monges de
Mandalay eram um espinho na
carne dos colonizadores britânicos, estimulando o movimento nacionalista nascente.
Os religiosos também se envolveram intensamente no levante de 1988, contra décadas de
repressão e improbidade administrativa.
Além disso, hoje, na ausência
de um mecanismo de seguridade social do governo militar, os
templos budistas se transformaram em clínicas para os portadores de HIV, orfanatos e escolas. Em Mandalay, uma das
maiores escolas religiosas do
país se vangloria de um corpo
discente de 7.000 alunos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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