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Chávez põe caso dos reféns na vitrine
Presidente protagoniza outra cerimônia em que recebe parentes de seqüestrados na Colômbia, desta vez norte-americanos
Encontro é transmitido ao vivo pela TV; mediação de conflito colombiano ajuda imagem do venezuelano após controverso caso RCTV
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A cena é de anteontem à noite, no Palácio Miraflores. Dois
irmãos gêmeos de quatro anos
descem aos pulos a escada com
bolas novas de futebol embaixo
do braço. Estão vestidos de bonés vermelhos, estampados
com uma caricatura infantilizada de Hugo Chávez. Atrás deles, o próprio presidente venezuelano e outros parentes dos
três norte-americanos seqüestrados em 2003 pelas Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
O grupo, que incluía também
a senadora colombiana Piedad
Córdoba, acabava de sair de
mais um encontro promovido
por Chávez para "discutir" a
troca de 45 reféns das Farc por
cerca de 500 guerrilheiros presos. Duas semanas antes, o presidente já havia recebido em
Miraflores os familiares dos colombianos seqüestrados pela
guerrilha.
O encontro de anteontem se
assemelhava a um programa de
auditório. Com transmissão ao
vivo pela TV estatal, Chávez
conversou com os parentes de
três norte-americanos seqüestrados há quatro anos e sete
meses na Colômbia, quando o
avião em que estavam teve de
fazer uma aterrissagem forçada. Todos são funcionários da
Northrop Grumman, uma empresa de tecnologia militar a
serviço do Departamento de
Estado dos EUA.
Os irmãos gêmeos são filhos
de um deles, Keith Stansell. Ele
já estava em cativeiro quando
os dois nasceram. Alheias ao
drama em que vivem, brincavam com outra criança mais velha. Aparentando dez anos, vestia uma camiseta branca dada
pelo governo venezuelano em
que se lia, em inglês: "Todos
juntos! Com o presidente Chávez! Paz na Colômbia!".
Prioridade
Durante o encontro, a senadora Córdoba, autodeclarada
chavista, anunciou a realização
de shows musicais em apoio às
negociações em Nova York, Paris, Bogotá, Caracas e numa cidade não-especificada do Brasil. "Queremos 100 mil pessoas
em cada evento."
Em campanha eleitoral para
aprovar sua reforma constitucional em referendo, provavelmente em dezembro, Chávez
transformou as negociações
em prioridade. "Não vou abandonar essa luta, não vou renunciar a essa empresa nem que
vocês me matem", disse, em
meio a palavras de agradecimento dos familiares.
O próximo encontro de Chávez já está marcado para o dia 8,
quando uma comitiva das Farc
estará em Caracas. As negociações, emperradas desde o início
do governo Álvaro Uribe, há
cinco anos, começam com posições irreconciliáveis. As Farc
exigem a desmilitarização de
dois municípios, proposta considerada inaceitável pelo governo colombiano.
Uribe também ganha
Até agora, o envolvimento de
Chávez com o conflito colombiano tem alavancado a sua
imagem no exterior, depois do
desgaste provocado pelo não
renovação da concessão da
emissora oposicionista RCTV,
no final de maio. Vários governos, do Brasil de Lula e até mesmo os EUA de Bush, têm apoiado publicamente a iniciativa.
Uribe também tem buscado
dividendos políticos, na avaliação da analista colombiana Maria Teresa Ronderos, presidente da Fundação para a Liberdade de Imprensa. Ao escolher a
senadora Córdoba como facilitadora das negociações, diz
Ronderos, Uribe neutralizou
uma feroz crítica sobre seus supostos vínculos com o paramilitarismo de direita.
Anteontem, o colombiano
convidou integrantes do Partido Democrata norte-americano a participarem das negociações, em meio às dificuldades
para aprovar o Tratado de Livre
Comércio entre Colômbia e
EUA no Congresso dos EUA. "A
Uribe convém envolver os congressistas democratas, na medida em que ajuda a aprovar o
TLC", disse Ronderos à Folha.
Para o presidente da ONG
Codhes (Consultoria para os
Direitos Humanos e para o Refúgio), Jorge Rojas, a espetacularização das negociações é
prejudicial ao processo.
"Muitas reuniões públicas e
uma agenda que tem muito de
show não convêm a um acordo.
Prudência, paciência e muita
discrição são necessárias para
um tema antes de tudo humanitário, ainda que obviamente
tenha também conseqüências
políticas."
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