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Foco
Cidade dos EUA onde 25% da população veio do Brasil reverte lei antiimigrantes
DO "NEW YORK TIMES", EM RIVERSIDE
Há pouco mais de um ano, o
comitê municipal de Riverside -uma cidade industrial
decadente onde um quarto
dos 8.000 habitantes era de
imigrantes brasileiros ilegais-, tornou-se o primeiro
em Nova Jersey a adotar multas contra empresas que contratassem ou senhorios que
alugassem imóveis aos sem-documentos. Em meses, centenas de imigrantes fugiram.
A lei atingiu seu objetivo. Mas
há quem pense que talvez tenha funcionado bem demais.
Com a partida de tanta gente, a economia local sofreu.
Os negócios do pequeno comércio que atendia os imigrantes despencaram. Lojas
fecharam. E a cidade foi alvo
de dois processos -um ônus
extra sobre o ralo Orçamento.
Por isso, na semana passada, Riverside decidiu revogar
as normas e aderiu a um pequeno mas crescente grupo
de municípios que estão repensando esse tipo de lei à
medida que suas conseqüências se tornam caras.
"Muita gente não calculou
o que aconteceria dentro de
três anos", disse o prefeito
George Conard, que votou a
favor da lei original.
Nos últimos dois anos, mais
de 30 cidades norte-americanas adotaram leis similares. A
maioria delas impunha multas e até sentenças de prisão
para as pessoas que deliberadamente alugassem imóveis a
imigrantes ilegais, ou lhes
dessem empregos.
Nesse cenário, Riverside virou um balão de ensaio para
as causas antagônicas dos diferentes grupos envolvidos
no debate sobre imigração,
com rótulos que vão de refúgio de racistas a cidade que
estava lutando pela preservar
os valores norte-americanos.
Muitas das empresas que
continuam operando ali enfrentam dificuldades. Na semana passada, a esteticista
brasileira Angelina Guedes,
dona do salão de beleza A
Touch from Brazil, fazia as
unhas de uma amiga. As cinco
cadeiras de seu salão estavam
vazias. "Sobrei só eu", disse.
"Todo mundo foi embora.
Também quero ir, mas não
posso porque ninguém quer
comprar meu negócio".
"Isso aqui virou uma cidade-fantasma", diz o dono de
lavanderia Bruce Behmke.
Não é fácil determinar se os
imigrantes que partiram voltarão. Com a desaceleração
no mercado habitacional, eles
talvez não tenham motivo.
Mas, caso o façam, alguns
moradores crêem que isso
possa causar novas tensões.
O ex-prefeito Charles Hilton, que propôs a lei, disse
que alguns já começaram a
retornar discretamente à cidade. "Não somos mais o oeste selvagem do passado", afirma, "mas podemos voltar
àquela situação".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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