|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
comentário
No jogo de cena, ponto para McCain
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Enquanto deixava no ar
se participaria do debate,
John McCain treinava, segundo um assessor ao menos. E abriu o programa,
de seu lado, com uma frase
-ou imagem- desenhada
para responder à crise financeira, a maior em quase um século, como ele
mesmo apresentou.
Afetando humildade,
afirmou que os republicanos chegaram a Washington para mudar o governo,
mas "o governo nos mudou". Daí os gastos em excesso, a crise. Que ele vai
mudar, pois é diferente.
Barack Obama, de sua
parte, apontou antes a
"ideologia" contrária à regulação do mercado financeira, de George W. Bush e
"sustentada" por McCain,
como fonte da crise.
Estava essencialmente
correto, porém, debatedor
de poucos recursos e aparentemente sem preparo,
permitiu que gastos públicos e corte de impostos,
bandeiras republicanas, se
impusessem no jogo.
O democrata insistiu no
esforço de vincular o republicano ao governo Bush,
de gastos fartos, e chegou a
marcar pontos, como
quando McCain, tenso, se
disse um "independente".
Mas a naturalidade de
McCain em debates, já conhecida, aos poucos dominou e não deixou espaço
para uma reação maior.
Era um flagrante jogo de
cena, pouco significativo
quanto aos fatos. Ambos
escorregaram da pergunta
direta, feita duas vezes pelo âncora Jim Lehrer e
certamente aquela que,
hoje, mais importa: se
apóiam o pacote em negociação no Congresso.
Mas para quem entrou
no programa acuado pela
crise, quase inteiramente
identificada com seu partido e presidente, McCain
se defendeu e demonstrou
até certa segurança.
E ela só fez aumentar na
hora final, quando o programa se voltou ao tema
previsto, política externa.
(Aliás, até então a desculpa de Lehrer para abordar
a crise era uma citação de
Eisenhower, tirada ontem
do "New York Times", ligando "segurança e solvência". Ou ainda, "a base
da força militar" dos EUA
"é a força econômica".
Com as respostas em fuga,
nenhum se mostrou à altura de Eisenhower.)
Sobre política externa,
por outro lado, a insistência de McCain em declarar
vitória no Iraque e citar
soldados americanos mortos como heróis, só fez reafirmar seu militarismo, o
que pode não ser a melhor
mensagem na crise.
Mas foi também nessa
hora final que Obama pareceu entregar os pontos.
A segurança com que
McCain se pronunciava
sobre o Irã ou a Rússia levou o democrata a usar
além da conta o recurso de
dizer "John está certo".
De sua parte, quando
parecia se exceder nas piadas sobre a própria idade,
McCain acertou uma em
cheio, sobre não ouvir o
que Obama dizia, e parou.
É o "timing", que permitiu
desarmar o democrata até
quando ele estava flagrantemente em vantagem. Já
Obama mal consegue rir,
menos ainda ironizar.
Texto Anterior: Americanas Próximo Texto: "Supremacia branca ainda reina no campus anfitrião" Índice
|