São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Equador anuncia retomada de diálogo com a Odebrecht

Após Correa dizer que "portas não estão fechadas", secretário afirma que empresa acenou com aceitar exigências do país

Construtora brasileira teve seus bens arrestados na terça por se negar a ressarcir Quito pela paralisação de hidrelétrica que construiu

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

O governo equatoriano informou ontem à tarde que foram retomadas as negociações com a construtora brasileira Odebrecht, há cinco dias sob intervenção estatal. Pouco antes, o presidente Rafael Correa havia dito que "as portas não estão fechadas" para um acordo com a empresa, responsabilizada pelos defeitos que paralisaram a segunda maior usina hidrelétrica do país.
"Tem havido uma aproximação recente desses senhores [representantes da Odebrecht] para aceitar todos, absolutamente todos os pontos", disse o secretário da Administração Pública, Vinicio Alvarado, em entrevista concedida ao site "Ecuador Inmediato".
"Temos de validar isso e, depois da validação, ver o que é conveniente para o momento técnico não apenas dessa usina como também de todos os outros projetos que se iniciavam ou estavam em marcha", disse.
Em entrevista a uma TV local, Correa manteve o tom duro contra a Odebrecht, mas admitiu pela primeira vez voltar atrás na decisão de suspender todos os contratos da empresa.
"Nunca se deve dizer que desta água não beberei, mas a princípio esta é uma decisão definitiva. Estamos fartos dessa companhia, das barbaridades que fez em San Francisco [hidrelétrica]", disse Correa à TV Telerama pela manhã. "Quanto mais investigamos, mais irregularidades encontramos. Será difícil rever a situação, mas esperaremos o que diz a Odebrecht, como reage."
Questionado sobre a possibilidade de um acordo, Correa disse que "nunca se pode fechar todas as portas, mas insisto, a princípio é irreversível".
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Odebrecht no Equador não comentou as declarações do governo equatoriano.
Correa disse que os problemas com a Odebrecht não deveriam ser considerados um tema das relações diplomáticas com o Brasil. "Não vamos aceitar posições oficiais, muito menos reclamações nacionais. O problema é entre o Estado equatoriano e uma empresa privada que evidentemente não cumpriu o seu contrato e entregou uma obra que estava mal construída."
"Não sei porque a imprensa está falando sobre a reclamação do presidente Lula, este é um problema entre um Estado soberano e uma empresa privada", disse Correa, embora não tenha havido nenhuma reclamação pública do presidente brasileiro, que minimizou a questão e disse que ela deve se resolver depois do referendo constitucional de amanhã.
Correa acusa a Odebrecht de ser a responsável pelos problemas que levaram à paralisação da usina hidrelétrica San Francisco desde 6 de junho. Inaugurada em meados de 2007, é responsável por 12% da produção elétrica do país.
A Odebrecht está reparando os problemas e prometeu restabelecer a produção em 6 de outubro, mas não aceitou a exigência de indenizar o governo equatoriano pelo período em que a usina está paralisada e defende a contratação de uma auditoria internacional para apurar as responsabilidades.
Na terça-feira, Correa assinou o decreto arrestando os bens da Odebrecht no país e suspendendo outros quatro contratos da empresa em andamento, cujos orçamentos somam US$ 650 milhões.
O governo equatoriano também militarizou as instalações da Odebrecht e proibiu a saída de dois diretores da empresa do país. Apesar da intervenção, os cerca de 2.500 empregados da Odebrecht continuaram trabalhando durante a semana nos quatro projetos em andamento e na reparação da hidrelétrica.


Texto Anterior: "Supremacia branca ainda reina no campus anfitrião"
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.