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Equador anuncia retomada de diálogo com a Odebrecht
Após Correa dizer que "portas não estão fechadas", secretário afirma que empresa acenou com aceitar exigências do país
Construtora brasileira teve seus bens arrestados na terça por se negar a ressarcir Quito pela paralisação de hidrelétrica que construiu
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
O governo equatoriano informou ontem à tarde que foram
retomadas as negociações com
a construtora brasileira Odebrecht, há cinco dias sob intervenção estatal. Pouco antes, o
presidente Rafael Correa havia
dito que "as portas não estão fechadas" para um acordo com a
empresa, responsabilizada pelos defeitos que paralisaram a
segunda maior usina hidrelétrica do país.
"Tem havido uma aproximação recente desses senhores
[representantes da Odebrecht]
para aceitar todos, absolutamente todos os pontos", disse o
secretário da Administração
Pública, Vinicio Alvarado, em
entrevista concedida ao site
"Ecuador Inmediato".
"Temos de validar isso e, depois da validação, ver o que é
conveniente para o momento
técnico não apenas dessa usina
como também de todos os outros projetos que se iniciavam
ou estavam em marcha", disse.
Em entrevista a uma TV local, Correa manteve o tom duro
contra a Odebrecht, mas admitiu pela primeira vez voltar
atrás na decisão de suspender
todos os contratos da empresa.
"Nunca se deve dizer que
desta água não beberei, mas a
princípio esta é uma decisão
definitiva. Estamos fartos dessa companhia, das barbaridades que fez em San Francisco
[hidrelétrica]", disse Correa à
TV Telerama pela manhã.
"Quanto mais investigamos,
mais irregularidades encontramos. Será difícil rever a situação, mas esperaremos o que diz
a Odebrecht, como reage."
Questionado sobre a possibilidade de um acordo, Correa
disse que "nunca se pode fechar
todas as portas, mas insisto, a
princípio é irreversível".
Procurada pela reportagem,
a assessoria de imprensa da
Odebrecht no Equador não comentou as declarações do governo equatoriano.
Correa disse que os problemas com a Odebrecht não deveriam ser considerados um tema das relações diplomáticas
com o Brasil. "Não vamos aceitar posições oficiais, muito menos reclamações nacionais. O
problema é entre o Estado
equatoriano e uma empresa
privada que evidentemente
não cumpriu o seu contrato e
entregou uma obra que estava
mal construída."
"Não sei porque a imprensa
está falando sobre a reclamação do presidente Lula, este é
um problema entre um Estado
soberano e uma empresa privada", disse Correa, embora não
tenha havido nenhuma reclamação pública do presidente
brasileiro, que minimizou a
questão e disse que ela deve se
resolver depois do referendo
constitucional de amanhã.
Correa acusa a Odebrecht de
ser a responsável pelos problemas que levaram à paralisação
da usina hidrelétrica San Francisco desde 6 de junho. Inaugurada em meados de 2007, é responsável por 12% da produção
elétrica do país.
A Odebrecht está reparando
os problemas e prometeu restabelecer a produção em 6 de
outubro, mas não aceitou a exigência de indenizar o governo
equatoriano pelo período em
que a usina está paralisada e defende a contratação de uma auditoria internacional para apurar as responsabilidades.
Na terça-feira, Correa assinou o decreto arrestando os
bens da Odebrecht no país e
suspendendo outros quatro
contratos da empresa em andamento, cujos orçamentos somam US$ 650 milhões.
O governo equatoriano também militarizou as instalações
da Odebrecht e proibiu a saída
de dois diretores da empresa do
país. Apesar da intervenção, os
cerca de 2.500 empregados da
Odebrecht continuaram trabalhando durante a semana nos
quatro projetos em andamento
e na reparação da hidrelétrica.
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