São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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análise

Reflexões sobre McCain hoje e antes

DAVID BROOKS
DO "NEW YORK TIMES"

Faço a cobertura de John McCain há dez anos.
Quando penso nele, ainda penso em McCain no mundo real e não no mundo do showbiz eleitoral.
Como qualidades pessoais, McCain foi um homem infalivelmente franco e humilde ao se auto-avaliar. Seu ânimo ficou mais sombrio à medida que a Guerra do Iraque foi piorando, mas suas realizações cresceram. Eu poderia encher a coluna com suas realizações desde 2003. Numa conferência de defesa, eu o vi diagnosticar a hegemonia russa e discordar dos colegas republicanos enquanto o partido perdia o rumo.
Se eu desejaria que McCain estivesse conduzindo sua campanha de maneira diferente? Sim.
Não é o fato de ele ter mudado sua personalidade política que me incomoda. Já aceitei que, neste circo da mídia, não é possível concorrer à Presidência como pessoa normal.
O que me preocupa mais nem são os anúncios desonestos que McCain, assim como Obama, veicula.
Não. O que me decepciona é o fato de a campanha de McCain não ter um argumento central. Eu esperava que ele criasse um grande narrativa explicando porque os EUA estão despreparados para o século 21 e em quê sua visão de mundo é diferente.
Sem uma idéia inovadora, McCain tem recorrido a artifícios táticos para se manter. Ele não tem quadro contextual com o qual organizar sua resposta para crises. Ele não tem um argumento englobador, em parte devido a seu treino no Senado e à tendência a enfrentar um problema por vez. Em parte devido à decisão tola de fazer uma campanha de direita/esquerda, e em parte porque nunca resolveu sua contradição interior: um dia é ultraconservador; no outro, centrista.
Mesmo assim, quando as pessoas me falam que o McCain da campanha é o real, digo apenas: "Conversa fiada". Eu o conheci.
Se McCain for eleito, ele vai manter seu instinto de encarar desafios. Comandará o governo menos partidário dos últimos anos.
McCain não é um pensador conceitual sofisticado, mas é um bom avaliador de caráter. Não é um gestor organizado, mas tornou-se um artesão legislativo experiente. Sobretudo, ele é algo impossível transmitir por uma campanha: um homem sério, que tende a tratar coisas sérias com seriedade.
Em meio à estupidez da temporada eleitoral atual, vale a pena dar alguns passos para trás e recordar os pontos fundamentais -sobre McCain, hoje, e sobre Obama em algum dia do futuro próximo.


Tradução de CLARA ALLAIN


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