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análise
Reflexões sobre McCain hoje e antes
DAVID BROOKS
DO "NEW YORK TIMES"
Faço a cobertura de
John McCain há dez anos.
Quando penso nele, ainda
penso em McCain no
mundo real e não no mundo do showbiz eleitoral.
Como qualidades pessoais, McCain foi um homem infalivelmente franco e humilde ao se auto-avaliar. Seu ânimo ficou
mais sombrio à medida
que a Guerra do Iraque foi
piorando, mas suas realizações cresceram.
Eu poderia encher a coluna com suas realizações
desde 2003. Numa conferência de defesa, eu o vi
diagnosticar a hegemonia
russa e discordar dos colegas republicanos enquanto o partido perdia o rumo.
Se eu desejaria que
McCain estivesse conduzindo sua campanha de
maneira diferente? Sim.
Não é o fato de ele ter
mudado sua personalidade política que me incomoda. Já aceitei que, neste
circo da mídia, não é possível concorrer à Presidência como pessoa normal.
O que me preocupa mais
nem são os anúncios desonestos que McCain, assim
como Obama, veicula.
Não. O que me decepciona é o fato de a campanha de McCain não ter um
argumento central. Eu esperava que ele criasse um
grande narrativa explicando porque os EUA estão
despreparados para o século 21 e em quê sua visão
de mundo é diferente.
Sem uma idéia inovadora, McCain tem recorrido
a artifícios táticos para se
manter. Ele não tem quadro contextual com o qual
organizar sua resposta para crises. Ele não tem um
argumento englobador,
em parte devido a seu treino no Senado e à tendência a enfrentar um problema por vez. Em parte devido à decisão tola de fazer
uma campanha de direita/esquerda, e em parte
porque nunca resolveu
sua contradição interior:
um dia é ultraconservador; no outro, centrista.
Mesmo assim, quando
as pessoas me falam que o
McCain da campanha é o
real, digo apenas: "Conversa fiada". Eu o conheci.
Se McCain for eleito, ele
vai manter seu instinto de
encarar desafios. Comandará o governo menos partidário dos últimos anos.
McCain não é um pensador conceitual sofisticado, mas é um bom avaliador de caráter. Não é um
gestor organizado, mas
tornou-se um artesão legislativo experiente. Sobretudo, ele é algo impossível transmitir por uma
campanha: um homem sério, que tende a tratar coisas sérias com seriedade.
Em meio à estupidez da
temporada eleitoral atual,
vale a pena dar alguns passos para trás e recordar os
pontos fundamentais
-sobre McCain, hoje, e
sobre Obama em algum
dia do futuro próximo.
Tradução de CLARA ALLAIN
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