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memória
Momentos breves marcam os debates
JUREK MARTIN
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando Gerald Ford cometeu o engano que lhe custou a eleição presidencial de
1976, negando, em seu debate televisionado com Jimmy
Carter, a existência do domínio soviético da Polônia e do
resto da Europa do Leste, eu
estava dormindo.
Isso não foi problema. Este
jornal, na época anterior à
versão on-line, já tinha ido
dormir havia muito tempo,
graças à diferença de oito horas entre Londres e a vizinha
San Francisco, onde o debate
estava acontecendo. Haveria
tempo de sobra para cobrir a
história no dia seguinte.
Mas eu também errei na
avaliação que fiz do resultado do único -e, como acabou
ficando claro, crucial- debate de 1980, realizado apenas
dez dias antes das eleições,
num momento em que as
sondagens apontavam para
um empate perfeito entre os
dois candidatos. Escrevi que
Carter tinha batido mais forte que Ronald Reagan, deixando de captar o fato de que
o candidato republicano, na
realidade, dera um nocaute
em Carter, simplesmente
por mostrar-se jovial.
Avaliar debates é muito difícil. Por isso que há tantos
especialistas a postos depois
para explicar por que seu
candidato venceu.
Aqueles que assistiram ao
debate inaugural de 1960,
transmitido ao vivo pela TV,
foram favoráveis a John
Kennedy porque viram Richard Nixon, com sua barba
das 17h, suar e agitar-se sob
as luzes da televisão. Já os
ouvintes das rádios, em número comparável aos telespectadores, atribuíram a
vantagem ao republicano.
A linguagem corporal freqüentemente é mais importante que as palavras. Em
1992, quando enfrentou Bill
Clinton num debate em
Richmond, Virginia, George
Bush, pai, em vários momentos deu a impressão de estar
irritado ou entediado, olhando para seu relógio.
Em 2000, o grande mistério era qual Al Gore iria comparecer a seus três embates
com George Bush, filho. Ele
se alternava entre suave e
combativo e se vestia para
combinar com seu estado de
ânimo do momento, ou em
tons terra, ambientais, ou em
azul militar. Seu adversário
era constante, pelo menos.
De modo geral, se o candidato que desafia o ocupante
atual do cargo consegue se
impor diante deste, principalmente em questões de política externa, avalia-se que
ele se saiu bem. Foi o caso de
JFK contra o vice-presidente Nixon, de Jimmy Carter
contra o presidente Ford, de
Clinton contra o presidente
Bush e de Bush contra o vice-presidente Gore.
Embora esta seja a primeira eleição desde 1952 sem
um presidente ou vice-presidente em exercício em uma
das chapas, o mesmo critério
ainda se aplica, provavelmente.
A previsão original era que
o primeiro debate McCain-Obama seria dedicado a
questões de política externa
e de segurança, a área declarada dominada por McCain,
fato que o aproxima de um
presidente em exercício. Barack Obama sem dúvida prefere traçar ligações entre a
política nacional e a externa,
nenhuma das quais está em
boa forma, como fez JFK
com bom efeito em 1960.
Os candidatos são preparados de antemão por exércitos de assessores. Com isso,
torna-se menos provável que
eles sejam pegos totalmente
desprevenidos por uma pergunta. Mas isso pode acontecer. Aconteceu em 1988
quando Bernie Shaw, o âncora da CNN, perguntou a Michael Dukakis como ele reagiria se sua mulher ou sua filha fossem estupradas. O governador do Massachusetts,
que já estava sendo criticado
pelos republicanos por ter
dado liberdade condicional a
um estuprador condenado,
hesitou antes de responder.
Como Gerald Ford, nunca se
recuperou daquele tropeço.
Tradução de CLARA ALLAIN
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