São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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memória

Momentos breves marcam os debates

JUREK MARTIN
DO "FINANCIAL TIMES"

Quando Gerald Ford cometeu o engano que lhe custou a eleição presidencial de 1976, negando, em seu debate televisionado com Jimmy Carter, a existência do domínio soviético da Polônia e do resto da Europa do Leste, eu estava dormindo.
Isso não foi problema. Este jornal, na época anterior à versão on-line, já tinha ido dormir havia muito tempo, graças à diferença de oito horas entre Londres e a vizinha San Francisco, onde o debate estava acontecendo. Haveria tempo de sobra para cobrir a história no dia seguinte.
Mas eu também errei na avaliação que fiz do resultado do único -e, como acabou ficando claro, crucial- debate de 1980, realizado apenas dez dias antes das eleições, num momento em que as sondagens apontavam para um empate perfeito entre os dois candidatos. Escrevi que Carter tinha batido mais forte que Ronald Reagan, deixando de captar o fato de que o candidato republicano, na realidade, dera um nocaute em Carter, simplesmente por mostrar-se jovial.
Avaliar debates é muito difícil. Por isso que há tantos especialistas a postos depois para explicar por que seu candidato venceu.
Aqueles que assistiram ao debate inaugural de 1960, transmitido ao vivo pela TV, foram favoráveis a John Kennedy porque viram Richard Nixon, com sua barba das 17h, suar e agitar-se sob as luzes da televisão. Já os ouvintes das rádios, em número comparável aos telespectadores, atribuíram a vantagem ao republicano.
A linguagem corporal freqüentemente é mais importante que as palavras. Em 1992, quando enfrentou Bill Clinton num debate em Richmond, Virginia, George Bush, pai, em vários momentos deu a impressão de estar irritado ou entediado, olhando para seu relógio.
Em 2000, o grande mistério era qual Al Gore iria comparecer a seus três embates com George Bush, filho. Ele se alternava entre suave e combativo e se vestia para combinar com seu estado de ânimo do momento, ou em tons terra, ambientais, ou em azul militar. Seu adversário era constante, pelo menos.
De modo geral, se o candidato que desafia o ocupante atual do cargo consegue se impor diante deste, principalmente em questões de política externa, avalia-se que ele se saiu bem. Foi o caso de JFK contra o vice-presidente Nixon, de Jimmy Carter contra o presidente Ford, de Clinton contra o presidente Bush e de Bush contra o vice-presidente Gore.
Embora esta seja a primeira eleição desde 1952 sem um presidente ou vice-presidente em exercício em uma das chapas, o mesmo critério ainda se aplica, provavelmente.
A previsão original era que o primeiro debate McCain-Obama seria dedicado a questões de política externa e de segurança, a área declarada dominada por McCain, fato que o aproxima de um presidente em exercício. Barack Obama sem dúvida prefere traçar ligações entre a política nacional e a externa, nenhuma das quais está em boa forma, como fez JFK com bom efeito em 1960.
Os candidatos são preparados de antemão por exércitos de assessores. Com isso, torna-se menos provável que eles sejam pegos totalmente desprevenidos por uma pergunta. Mas isso pode acontecer. Aconteceu em 1988 quando Bernie Shaw, o âncora da CNN, perguntou a Michael Dukakis como ele reagiria se sua mulher ou sua filha fossem estupradas. O governador do Massachusetts, que já estava sendo criticado pelos republicanos por ter dado liberdade condicional a um estuprador condenado, hesitou antes de responder.
Como Gerald Ford, nunca se recuperou daquele tropeço.


Tradução de CLARA ALLAIN


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