São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009

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Nova esquerda cresce, enquanto socialistas tradicionais definham

DA ENVIADA A BERLIM

Algo a se prestar atenção na votação de hoje na Alemanha é a performance do partido A Esquerda (Die Linke).
A legenda foi criada em junho de 2007 numa junção de ex-comunistas com dissidentes do Partido Social-Democrata (SPD) descontentes com as reformas do sistema de bem-estar social do chanceler (premiê) Gerhard Schröder, que governava em coalizão com os Verdes. Definem-se a si próprios como "socialistas à esquerda dos social-democratas".
Em apenas dois anos, A Esquerda alcançou uma projeção nacional de entre 11% e 15%, de acordo com as diferentes pesquisas -níveis equivalentes aos dos Verdes, que estão no cenário político desde a década de 70. O partido conta hoje com 76 mil militantes e 5.000 ativistas voluntários, a maioria na antiga Alemanha Oriental, sendo o quarto partido alemão em número de membros.
Já tem 56 parlamentares no Bundestag (Câmara baixa do Parlamento alemão) e outros oito no Parlamento Europeu. No Estado do Sarre, registrou um crescimento de 19 pontos nas eleições regionais deste ano, ultrapassando verdes e liberais -seu melhor resultado até agora na parte ocidental do país. Além disso, governa Berlim numa coalizão com o SPD.
"Não nos conformamos com isso, queremos mais. Ainda não somos influentes", diz à Folha Karl Hollaba, da direção do partido e tesoureiro da campanha. Seu polêmico cofundador, Oskar Lafontaine, é peça-chave nesse avanço. Ex-líder do SPD, ele ajudou a derrubar o mito de que o partido fosse extremista.
"A Esquerda obteve recentemente um influxo muito grande de votos de jovens. Apenas com os antigos comunistas não conseguiriam alcançar os atuais níveis", disse Richard Hilmer, diretor do instituto de pesquisa Infratest Dimap.
O professor Oskar Niedermayer concorda. "Os eleitores da Esquerda hoje são muito diversos. Já não é considerado um voto de protesto. Apresentou-se como porta-voz da justiça social e assim acabou arrebanhando pessoas de baixa escolaridade, desempregados ou com medo de perder o emprego e aposentados."
O fato de ter alcançado bons resultados em pleitos regionais criou na mentalidade do eleitorado a imagem de um partido "normal" o suficiente para, no futuro, ser aceito em um governo nacional. "É uma questão de tempo. Em 2013 chegaremos mais longe com nossa própria força", afirma Hollaba.
É impossível falar do crescimento da Esquerda sem falar da crise da social-democracia. Depois de 11 anos no poder -sete como partido majoritário e quatro como minoritário-, o partido hoje está dividido em três correntes que disputam poder nos bastidores.
Uma é favorável à manutenção da atual coalizão com os democratas-cristãos. Outra acha que o partido deve voltar a seus valores de origem, de justiça social, e buscar alianças com a Esquerda. E outra ainda se vê herdeira das reformas "neoliberais" de Schröder.
O governo de coalizão com a CDU de Angela Merkel provocou danos importantes na sua imagem. Para complicar, teve de fazer campanha como partido de oposição, sendo governo.
"Os democratas-cristãos acabaram "replicando" as políticas social-democratas na coalizão. Merkel fala como um social-democrata de dez anos atrás. Isso torna muito difícil para o SPD defender sua própria identidade como partido. Muitos não veem mais diferença entre os dois", avalia Dietmar Herz, da Universidade Erfurt. (CVN)


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