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Nova esquerda cresce, enquanto socialistas tradicionais definham
DA ENVIADA A BERLIM
Algo a se prestar atenção na
votação de hoje na Alemanha é
a performance do partido A Esquerda (Die Linke).
A legenda foi criada em junho de 2007 numa junção de
ex-comunistas com dissidentes
do Partido Social-Democrata
(SPD) descontentes com as reformas do sistema de bem-estar social do chanceler (premiê) Gerhard Schröder, que governava em coalizão com os
Verdes. Definem-se a si próprios como "socialistas à esquerda dos social-democratas".
Em apenas dois anos, A Esquerda alcançou uma projeção
nacional de entre 11% e 15%, de
acordo com as diferentes pesquisas -níveis equivalentes
aos dos Verdes, que estão no cenário político desde a década de
70. O partido conta hoje com 76
mil militantes e 5.000 ativistas
voluntários, a maioria na antiga
Alemanha Oriental, sendo o
quarto partido alemão em número de membros.
Já tem 56 parlamentares no
Bundestag (Câmara baixa do
Parlamento alemão) e outros
oito no Parlamento Europeu.
No Estado do Sarre, registrou
um crescimento de 19 pontos
nas eleições regionais deste
ano, ultrapassando verdes e liberais -seu melhor resultado
até agora na parte ocidental do
país. Além disso, governa Berlim numa coalizão com o SPD.
"Não nos conformamos com
isso, queremos mais. Ainda não
somos influentes", diz à Folha
Karl Hollaba, da direção do
partido e tesoureiro da campanha. Seu polêmico cofundador,
Oskar Lafontaine, é peça-chave
nesse avanço. Ex-líder do SPD,
ele ajudou a derrubar o mito de
que o partido fosse extremista.
"A Esquerda obteve recentemente um influxo muito grande de votos de jovens. Apenas
com os antigos comunistas não
conseguiriam alcançar os
atuais níveis", disse Richard
Hilmer, diretor do instituto de
pesquisa Infratest Dimap.
O professor Oskar Niedermayer concorda. "Os eleitores
da Esquerda hoje são muito diversos. Já não é considerado
um voto de protesto. Apresentou-se como porta-voz da justiça social e assim acabou arrebanhando pessoas de baixa escolaridade, desempregados ou
com medo de perder o emprego e aposentados."
O fato de ter alcançado bons
resultados em pleitos regionais
criou na mentalidade do eleitorado a imagem de um partido
"normal" o suficiente para, no
futuro, ser aceito em um governo nacional. "É uma questão de
tempo. Em 2013 chegaremos
mais longe com nossa própria
força", afirma Hollaba.
É impossível falar do crescimento da Esquerda sem falar
da crise da social-democracia.
Depois de 11 anos no poder
-sete como partido majoritário e quatro como minoritário-, o partido hoje está dividido em três correntes que disputam poder nos bastidores.
Uma é favorável à manutenção da atual coalizão com os
democratas-cristãos. Outra
acha que o partido deve voltar a
seus valores de origem, de justiça social, e buscar alianças
com a Esquerda. E outra ainda
se vê herdeira das reformas
"neoliberais" de Schröder.
O governo de coalizão com a
CDU de Angela Merkel provocou danos importantes na sua
imagem. Para complicar, teve
de fazer campanha como partido de oposição, sendo governo.
"Os democratas-cristãos
acabaram "replicando" as políticas social-democratas na coalizão. Merkel fala como um social-democrata de dez anos
atrás. Isso torna muito difícil
para o SPD defender sua própria identidade como partido.
Muitos não veem mais diferença entre os dois", avalia Dietmar Herz, da Universidade Erfurt.
(CVN)
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