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Divisão alemã ainda ecoa em pleito 20 anos após reunião
Ex-Alemanha Oriental sofre mais com
efeitos da crise e aposta mais na esquerda
"Existe um fosso econômico
entre os Estados do leste e
os do oeste que se reflete no
comportamento eleitoral",
afirma professor alemão
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Disparidades econômicas e
sociais entre os Estados que integravam a antiga República
Democrática da Alemanha (socialista) e aqueles que compunham a República Federal da
Alemanha (capitalista) deixaram marcas no comportamento ideológico e eleitoral dos alemães. Hoje, o país chega às eleições que marcam os 20 anos da
reunificação de certa maneira
dividido.
Nenhum analista sério coloca em dúvida a integração das
duas Alemanhas. As fronteiras
entre os chamados novos e antigos "Länder" (Estados) não
existem de fato.
A rápida unificação teve a
vantagem de que os mecanismos de mercado foram introduzidos na porção oriental em
um curto espaço de tempo.
Enquanto o colapso da "velha" economia foi bastante severo -com centenas de empresas fechadas e 2,5 milhões de
empregos perdidos-, já em
1991 um processo de crescimento se tornou visível em boa
parte da Alemanha Oriental.
Parte da capacidade industrial
também foi recuperada.
Porém, após 20 anos, a exuberância prometida não se concretizou de todo e deu lugar a
um desencantamento que se
traduz em movimentos tanto
de esquerda quanto de extrema-direita de maneira mais
acentuada do que na outra metade do país.
"Há aspectos bastante positivos, especialmente com respeito à expansão dos mercados relevantes", afirma Joachim Ragnitz, diretor do Instituto de
Pesquisas Econômicas, com
base em Dresden (na ex-Alemanha Oriental).
"Mas é preciso reconhecer os
aspectos negativos. O crescimento já não é mais alto que o
da Alemanha Ocidental há uma
década. E os baixos ingressos
públicos, vindos de impostos e
contribuições sociais, que poderiam estimular uma transferência de renda, acabam prejudicando as perspectivas de
crescimento. A lacuna de renda
e riqueza não fecha", diz.
Sem crescimento sustentável, analistas veem poucas
chances de redução do desemprego, que chega ao dobro do da
porção ocidental. Já a renda
equivale a 70% da dos alemães
do oeste.
O Ministério da Construção e
do Desenvolvimento Urbano
para o Leste Alemão calcula
que serão necessários ao menos dez anos até que a região
possa se manter sem as injeções financeiras do governo federal, de 30 bilhões anuais.
Mas o prognóstico oficial é positivo. "O leste está convergindo para o oeste", diz o ministro
Wolfgang Tiefensee.
Outro problema grave é demográfico. Segundo o Instituto
de População e Desenvolvimento de Berlim, entre 1989 e
2007 mais de 1,7 milhão de pessoas migraram do leste para o
oeste -cerca de 12% da população-, expulsos pelos baixos
salários e o pouco trabalho.
Cerca de 55% dessa imigração é de mulheres; mais da metade, de pessoas abaixo dos 30
anos. Estudos apontam que a
população sofrerá ainda uma
redução de entre 7% e 10% nos
próximos 12 anos.
Perfil eleitoral
"Existe um fosso econômico
entre os Estados da antiga Alemanha Oriental e os da Ocidental que se reflete no comportamento eleitoral", diz Oskar
Niedermayer, professor da
Universidade Livre de Berlim.
Para ele, "o perfil eleitoral na
Alemanha se define claramente mais em termos leste-oeste
do que norte-sul".
O exemplo mais claro desse
fenômeno é o crescimento do
partido A Esquerda, cujo berço
é a Alemanha Oriental (leia texto nesta página). O apoio ao
partido é de 20% no leste, enquanto no oeste, salvo a exceção do Estado de Sarre, não
passa dos 5%.
"Muitos se sentem desconfortáveis com as diferenças de
renda e poder de consumo e
acabam postulando mais ação
estatal -uma diferença cultural e também uma herança do
socialismo que continua até
hoje", diz Ragnitz.
Paradoxalmente, o desapontamento com o desenvolvimento no leste acabou levando
os mais jovens a movimentos
como o Partido Democrático
Nacional (NPD), de tendência
neofascista, como forma de
protesto.
Nas eleições de 2005, ele obteve pela primeira vez representação no Parlamento estadual de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental -região mineira que sofreu forte impacto da
reunificação e com 18% de desemprego. Brandemburgo (que
vota novamente hoje) e Saxônia também têm parlamentares estaduais do NPD.
Porém são pequenas as chances de o NPD ter alguma representação parlamentar em nível
federal.
A jornalista CAROLINA VILA-NOVA viajou a
convite do Ministério das Relações Exteriores
alemão
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