São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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TRAGÉDIA NA RÚSSIA

Ação, que envolveu uso de gás tóxico, liberta mais de 700 reféns sequestrados por terroristas tchetchenos

Resgate em Moscou deixa 90 reféns mortos

France Presse
Soldados russos de forças especiais retiram reféns do teatro tomado por terroristas tchetchenos


DA REDAÇÃO

Ao menos 90 reféns e 50 terroristas morreram em operação de resgate no teatro em Moscou onde rebeldes tchetchenos mantinham centenas de pessoas cativas desde quarta-feira. Forças especiais entraram no local ontem de manhã (sexta-feira no Brasil) e libertaram mais de 700 reféns.
Em declaração transmitida pela TV, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu perdão aos familiares dos mortos. A libertação dos sequestrados era fundamental para a popularidade de Putin.
Entre as vítimas fatais, não havia nenhuma criança, segundo o vice-ministro do Interior da Rússia, Vladimir Vasilyev. E diplomatas baseados em Moscou disseram que não foi morto nenhum dos cerca de 75 estrangeiros que tinham ido ao teatro para assistir a um musical.
"Estamos preocupados com aqueles próximos aos reféns que perderam a vida. Não pudemos salvá-los", disse Vasilyev. O número de vítimas pode aumentar, informou Mikhail Avdyukov, promotor público de Moscou.
O presidente dos EUA, George W. Bush, lamentou a morte de inocentes durante a operação de resgate e acusou o terrorismo pela perda de vidas humanas, disse seu porta-voz, Ari Fleischer.
Cerca de 50 sequestradores foram mortos, incluindo 18 mulheres, e alguns rebeldes foram detidos, de acordo com o FSB (Serviço Federal de Segurança). Entre os mortos, estava o líder dos terroristas, Movsar Barayev.
Os terroristas ameaçavam matar todos os reféns e explodir o teatro se sua exigência pelo fim da guerra na Tchetchênia não fosse atendida. Eles haviam feito um ultimato e ameaçado começar a matar os reféns ao amanhecer do sábado (sexta-feira à noite no Brasil) se não fossem atendidos.
Após o resgate, o presidente Putin visitou alguns dos sobreviventes no pronto-socorro de um hospital de Moscou. O gás tóxico utilizado na ação russa contra os sequestradores agravou o estado de saúde dos reféns.
O presidente foi informado sobre a tomada do teatro imediatamente, e o serviço de imprensa presidencial divulgou uma foto em que ele cobria o rosto ao receber notícias no Kremlin. Putin acompanhou todo o desenrolar da ação, segundo as agências de notícias russas. Ele foi eleito presidente em 2000 com a popularidade conquistada graças à sua reação, como primeiro-ministro, a atentados atribuídos aos rebeldes tchetchenos que mataram cerca de 300 pessoas em cidades russas em 1999 e deram início à segunda guerra na região separatista da Tchetchênia. A primeira guerra aconteceu entre 1994 e 1996.
Não havia informação sobre eventuais mortes entre as forças russas que entraram no teatro.
Segundo Serguei Ignatchenko, porta-voz do FSB, a operação para tomar o teatro foi iniciada depois que os terroristas começaram a matar reféns.
Logo após a invasão do teatro, autoridades disseram que alguns dos sequestradores tinham fugido durante a operação na capital da Rússia, mas Nikolai Patrushev, chefe do FSB, disse a Putin que nenhum dos rebeldes havia escapado e que um número não-especificado de terroristas havia sido detido. Na mesma reunião com Putin, o ministro do Interior, Boris Gryzlov, disse que cerca de 30 supostos cúmplices dos sequestradores haviam sido presos em Moscou, mas não foram divulgados detalhes sobre as prisões.
A TV russa mostrou, no interior do teatro, o corpo de Barayev, líder dos sequestradores, e de rebeldes mulheres com roupas negras. Alguns dos sequestradores levavam explosivos na cintura. Além dos corpos, a TV mostrou imagens do teatro devastado, com armas e explosivos no chão.
Em frente aos hospitais de Moscou, familiares de reféns libertados aguardavam notícias.
A jornalista russa Anna Politkovskaya, respeitada pelos tchetchenos por sua cobertura da guerra, considerada imparcial, foi levada ao teatro na sexta-feira para tentar mediar uma solução pacífica. Questionada se os sequestradores se preparavam para matar os reféns à medida que o ultimato se aproximava do fim, Politkovskaya reproduziu o que eles lhe disseram: "Nós ainda vamos esperar um pouco".
Politkovskaya listou as exigências dos rebeldes. A principal era que Putin declarasse o fim da guerra na Tchetchênia, região separatista praticamente destruída pelas últimas incursões do Exército, e determinasse a retirada russa de uma região qualquer da Tchetchênia como sinal de boa vontade. Se isso fosse comprovado, os sequestradores diziam que libertariam os reféns.
Ela disse que os terroristas haviam concordado com sua sugestão de que a verificação fosse feita por Lord Judd, membro do Conselho da Europa que investiga a situação dos direitos humanos na Tchetchênia.
O Kremlin fez uma contra-oferta e prometeu aos terroristas garantias de vida se os reféns fossem libertados. "Nós realizamos uma operação bem-sucedida ao evitar mortes em massa e o colapso da construção. A decisão [de entrar no local" foi correta e precisa", disse Vasilyev.
Um líder tchetcheno condenou ontem a ação terrorista no teatro em Moscou, mas afirmou que outros grupos poderiam promover ações semelhantes se Moscou não negociasse um fim à guerra na região separatista.
Akhmed Zakayev, enviado de Aslan Maskhadov, presidente do governo rebelde da Tchetchênia (que não é reconhecido por Moscou), negou que os líderes tchetchenos tivessem ligação com os sequestradores. "Desde o início dissemos que esses não são nossos métodos", afirmou Zakayev.

Com agências internacionais


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