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Halliburton é alvo de nova acusação de favorecimento
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Na reta final da campanha eleitoral nos EUA, Bunny Greenhouse, a principal funcionária do Corpo de Engenheiros do Exército no
que concerne à concessão de contratos, exigiu uma investigação
sobre contratos recebidos pela
empresa Halliburton, que foi comandada pelo vice-presidente
Dick Cheney de 1995 a 2000.
De acordo com documentos
obtidos anteontem pela agência
de notícias Reuters, Greenhouse
reclamou de "interferência sistemática" na atribuição de contratos de bilhões de dólares que foram concedidos à Kellog Brown
& Root, subsidiária da Halliburton, por serviços prestados no Iraque e nos Bálcãs (Kosovo).
"A interferência foi principalmente focalizada em questões
contratuais multibilionárias ligadas à subsidiária da Halliburton
Kellog Brown & Root [KBR]",
disseram os advogados de Greenhouse numa carta enviada ao secretário interino do Exército, Les
Brownlee, na última quinta-feira.
Para Daniel Politi, pesquisador
do Centro por Integridade Pública, entidade de Washington que
monitora ações governamentais,
e autor de estudos sobre o tema, a
influência da Halliburton na distribuição de contratos militares
existe e data da década passada.
"O Exército pediu à KBR que
concebesse um plano de contingência para apagar incêndios em
campos de petróleo no Iraque caso houvesse uma guerra. Mais tarde, em novembro de 2001, os militares concederam esse contrato à
KBR, que tinha feito o estudo para
o Exército", contou Politi à Folha.
"Mas, já em 1991, após a Guerra
do Golfo, Cheney, então secretário da Defesa, pediu à KBR que
conduzisse um estudo sobre os
benefícios de terceirizar atividades militares. Em 1992, a empresa
recebeu o primeiro contrato do
Programa Logístico de Aumento
Civil do Exército, algo enorme
que permite que os militares
usem o trabalho da KBR em todas
as suas operações de campo, incluindo combate, manutenção da
paz e assistência humanitária."
"Trata-se de um contrato em
que os pagamentos são baseados
nos custos das operações e num
prêmio. Isto é, a KBR recebe, além
dos custos do trabalho, um valor
adicional, que varia de 2% a 5%,
dependendo da qualidade do serviço realizado. A KBR perdeu o
contrato para a Dyncorp em 1997,
mas voltou a ganhá-lo em dezembro de 2001", acrescentou Politi.
Segundo o Centro por Integridade Pública, a KBR, que presta
serviços para a indústria petrolífera, é de longe a empresa que mais
ganhou contratos de reconstrução no Iraque e no Afeganistão
entre o início de 2002 e 1º de julho
deste ano. Ela recebeu US$ 11,4 bilhões, enquanto a segunda colocada, a Parsons Corporation, obteve US$ 5,3 bilhões no período.
Ademais, a entidade mostrou
que os contratos ligados à defesa
atribuídos à Halliburton em 2003
foram bem mais elevados que os
que ela recebera entre 1998 e 2002.
No ano passado, a KBR recebeu
contratos no valor de US$ 4,3 bilhões, incluindo um de US$ 2,5 bilhões sem licitação. Nos cinco
anos precedentes, os contratos de
defesa concedidos à empresa não
chegaram a US$ 2,5 bilhões, de
acordo com pesquisa do Centro
por Integridade Pública.
"A Guerra do Iraque explica os
números. Em outros lugares, como Kosovo, contudo, a Halliburton não recebeu tantos contratos
quanto no Iraque", disse Politi.
O Pentágono, que nega veementemente ter favorecido a empresa texana, afirma que ela obteve contratos sem concorrência
pública porque só a KBR tinha
know-how para executar alguns
trabalhos de reconstrução.
Os militares disseram anteontem que não podiam confirmar a
existência da carta enviada a
Brownlee ou uma investigação
sobre o tema. A KBR vem sendo
investigada em razão de um suposto superfaturamento de certos
serviços prestados no Iraque.
A Halliburton publicou ontem
seus resultados financeiros para o
terceiro trimestre de 2004. O faturamento da empresa no Iraque
chegou a US$ 1,4 bilhão no período, porém seu lucro operacional
foi de apenas US$ 4 milhões.
Quanto ao suposto favorecimento à empresa por conta da influência de Cheney, Politi foi taxativo: "Não temos prova disso".
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