São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA /CULTURA

Kirchner fez aliança com apresentador de TV

Como seu desafeto Carlos Menem, presidente marcou presença no programa de Marcelo Tinelli, campeão de audiência

Parceria contrasta com pouca atenção dada às artes, apesar de o país viver boom de produção e consumo de bens culturais

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Imagine os humoristas do programa "Pânico" gravando em pleno Palácio do Planalto, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contracenando com um ator vestido de Fernando Collor. Agora, troque os personagens por similares da política na Argentina.
Foi o que aconteceu em dezembro de 2005, quando o arredio presidente Néstor Kirchner gravou uma esquete na Casa Rosada com um abobado Fernando de La Rúa (1999-2001) falso, com direito a vários ministros como "atores".
O insólito quadro foi ao ar no programa de Marcelo Tinelli, espécie de Silvio Santos argentino, e é um dos marcos da era Kirchner na cultura.
O presidente, que costuma apresentar seu governo como uma "refundação" do país em todos os campos, na cultura pode ostentar o crescimento da produção e do consumo no setor (leia texto à pág. A26).
Mas, na relação com Tinelli, Kirchner não escapa da comparação com o desafeto e ex-presidente Carlos Menem (1989-1990), que, como ele, também não aparecia em vernissages ou estréias de filmes, mas fez questão de cultivar relações próximas com o apresentador e empresário de comunicações.
O cuidado dos poderosos com Tinelli se explica porque ele comanda o show de variedades campeão de audiência à noite, que não raro inclui sátiras políticas, mas que também já recebeu políticos de carne e osso. De La Rúa, por exemplo, atribui sua queda em 2001 à reação negativa a uma entrevista no programa do apresentador. Na atual campanha, Tinelli não deixou de enviar "alôs" para candidatos amigos, relata a imprensa argentina.
Na segunda-feira passada, reta final da campanha presidencial -a eleição é amanhã-, o casal Kirchner foi a Bolívar (320 km de Buenos Aires), cidade de Tinelli, inaugurar um centro esportivo com o nome do avô do apresentador. A candidata e primeira-dama Cristina Kirchner saiu de lá com uma foto ao lado de Tinelli.
Mas o que irrita setores da imprensa argentina e provoca controvérsia não é o que acontece diante das câmeras. O centro esportivo teve investimento federal (2 milhões de pesos), em obra gerenciada por uma empresa de Tinelli. Também é questionada a concessão de uma rádio ao empresário.


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