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ELEIÇÕES NA ARGENTINA /CULTURA
Kirchner fez aliança com apresentador de TV
Como seu desafeto Carlos Menem, presidente marcou presença no programa de Marcelo Tinelli, campeão de audiência
Parceria contrasta com pouca atenção dada às artes, apesar de o país
viver boom de produção e consumo de bens culturais
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Imagine os humoristas do
programa "Pânico" gravando
em pleno Palácio do Planalto,
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva contracenando
com um ator vestido de Fernando Collor. Agora, troque os
personagens por similares da
política na Argentina.
Foi o que aconteceu em dezembro de 2005, quando o arredio presidente Néstor Kirchner gravou uma esquete na Casa Rosada com um abobado
Fernando de La Rúa (1999-2001) falso, com direito a vários
ministros como "atores".
O insólito quadro foi ao ar no
programa de Marcelo Tinelli,
espécie de Silvio Santos argentino, e é um dos marcos da era
Kirchner na cultura.
O presidente, que costuma
apresentar seu governo como
uma "refundação" do país em
todos os campos, na cultura pode ostentar o crescimento da
produção e do consumo no setor (leia texto à pág. A26).
Mas, na relação com Tinelli,
Kirchner não escapa da comparação com o desafeto e ex-presidente Carlos Menem (1989-1990), que, como ele, também não aparecia em vernissages ou
estréias de filmes, mas fez
questão de cultivar relações
próximas com o apresentador e
empresário de comunicações.
O cuidado dos poderosos
com Tinelli se explica porque
ele comanda o show de variedades campeão de audiência à
noite, que não raro inclui sátiras políticas, mas que também
já recebeu políticos de carne e
osso. De La Rúa, por exemplo,
atribui sua queda em 2001 à
reação negativa a uma entrevista no programa do apresentador. Na atual campanha, Tinelli
não deixou de enviar "alôs" para candidatos amigos, relata a
imprensa argentina.
Na segunda-feira passada,
reta final da campanha presidencial -a eleição é amanhã-,
o casal Kirchner foi a Bolívar
(320 km de Buenos Aires), cidade de Tinelli, inaugurar um
centro esportivo com o nome
do avô do apresentador. A candidata e primeira-dama Cristina Kirchner saiu de lá com uma
foto ao lado de Tinelli.
Mas o que irrita setores da
imprensa argentina e provoca
controvérsia não é o que acontece diante das câmeras. O centro esportivo teve investimento
federal (2 milhões de pesos),
em obra gerenciada por uma
empresa de Tinelli. Também é
questionada a concessão de
uma rádio ao empresário.
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